Capítulo 25

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- Eai, Janie? O que você está lendo? - Matheo sentava-se ao lado de Jane, após descer as escadas.
- Um livro. Peguei aleatório da estante. - Ela responde, sem desviar os olhos da leitura.
- Deixa eu ver - Ele arranca o livro de suas mãos, a fazendo revirar os olhos. - "Iracema"?
- É. Eu comecei a ler esse faz pouco, agora me devolve! - Ela estica as mãos.
- Perai, deixa eu ver sobre o que é - Ele diz, folheando algumas páginas, tentando ao máximo pegar o contexto. - Haha, essas brasileiras gostam de um europeu.
- Aaaah! Me devolve! - Ela toma o livro dele, que se joga para trás, rindo.
- E não é?
- Não! ... Nem sempre. - Jane abre o livro na página aonde parara.
- Hm... sei. Aproveitando que estou aqui, deixa eu ver o que mais você tem nessa estante.
Matheo se levanta e anda até a estante, deslizando seu dedo por cada livro.
- Uhum... Não sei o que... Estrela... Não consigo ler... Suspiros alguma Saudades... Oohh, anatomia! - Um largo sorriso abre em seu rosto ao puxar o livro da prateleira.
- Ai não, lá vem... - Jane apoia a cabeça na mão.
- O que temos aqui... - Ele abre o livro - Tem IMAGENS!
- O que? - Jane se levanta e corre atrás até ele, espiando dentro do livro - Ah, isso são só rascunhos. Nem cor tem.
Jane volta ao seu banco na janela e Matheo começa a rir enquanto folhea o livro.
- Hehehe, olha só, mulheres...
- Ah, fala sério. Quantos anos tu tem, Matheo, 10? - Jane joga a mão no ar.
- Hehehe - Ele vira a página - Eita!
- Nossa, que vergonha - Jane desliza a mão pelo rosto.
- Posso ficar com esse livro? - Ele aponta para as folhas enquanto encara Jane.
- CREDO! - Jane cobre o rosto.
- Eu estou brincando com você, Janie! Limpe sua mente! - Ele esbanja um sorriso sarcástico.
- Afe, tanto faz, também. Pode ficar com esse aí. Nem são meus mesmo...
- Hmm, valeu.
Jane bufa e se levanta, fechando os olhos - E eu vou ler lá fora, com as flores! - Ela se vira e caminha até a porta, virando brevemente para Matheo e logo saindo da casa.
- Ah, eu preciso de um tempinho pra mim mesma. Não é mesmo? - Jane sorri para as árvores - Esse menino só me chateia, vocês acreditam que mês passado ele quase me matou? Pois é. E eu só tentei dar um presente pra ele. Vocês são queridas, me ouvem com atenção e nunca reclamam, hihihi! - Jane caminha mais por entre as árvores, acariciando as árvores e plantas enquanto segurava o livro na outra mão. - É, minha ideia do short não funcionou tanto, quem sabe algum dia eu tento de novo. De qualquer jeito, esses vestidos são fofos. Quer dizer, no caso hoje não estou de vestido, é uma blusa. Ah, vocês conseguem ver, não é?... Árvores conseguem enxergar mesmo não tendo olhos?... Caramba, eu estou conversando com árvores... Gostei!
Jane subira uma pequena colina e se sentara entre duas árvores, encostando as costas em uma e os pés em outra, abrindo o livro em seu colo. O leve vento que percorria por entre elas fazia um pouco difícil de manter as mesmas páginas abertas e também fazia o cabelo de Jane flutuar em frente ao seus olhos, coisa que a incomodou um pouco. Ela ficaria ali por algumas horas.
- Agh! Esse vento! - Ela arremessa bruscamente seus cabelos para trás - Não me surpreenderia se o Matheo tivesse enviado esse vento só para me incomodar. Ei, vocês, plantas... - Ela solta o livro na grama ao seu lado, olhando em volta, sorridente - Vocês devem ser bem velhas... sem ofensas, é claro. O quanto de coisas vocês já não viram, não é?... Será que vocês já viram outras pessoas aqui? Se sim... vocês saberiam como elas foram embora? Não é como se árvores e flores fossem me responder, mas... eu só queria poder ter um pouco de esperança sem me sentir idiota. Tenho medo, só tem eu o Matheo aqui... eu nem sei aonde é o "aqui" - Ela suspira - Pelo menos aqui ninguém me chama de estranha por conversar com plantas. Por que que isso é considerado estranho? Plantas são parte da natureza, assim como as pessoas. Eu não estou conversando com objetos inanimados - isso sendo um caso a parte, já que todos somos feitos de átomos - mas enfim, eu estaria falando com minhas irmãs, criações da natureza assim como eu... eu acho. Ah, é, se ele me visse conversando com vocês ele me chamaria de estranha... Eu, estranha? Estranho é ele ter nascido mais de 50 anos atrás e ainda ser adolescente... nah, tem coisa mais estranha que isso acontecendo. Isso tudo parece um sonho, não parece? Espero que não, honestamente. Se isso fosse um dos meus livros seria um plot twist muito preguiçoso, hehe. Será que... será que estamos presos numa história? Ah, nem, eu controlo muito bem minhas ações e pensamentos... assim espero.
Jane olha em volta brevemente e suspira, se levantando e limpando a poeira de sua saia.
- Melhor eu voltar logo, antes que o Matheo coloque fogo na casa. Quanto tempo eu fiquei aqui? Já está quase anoitecendo. Ah, foi legal pelo menos. - Ela apanha seu livro e segue o caminho até a casa.
Após alguns minutos caminhando, Jane começara a correr, já que anoitecia. Mas não correu por muito tempo, já que tropeçara numa raiz e quase caira. - "Já quase morri vezes demais só esse ano, de novo não" - Pensou.
- Matheo? - Jane abre a porta da casa, entrando e subindo as escadas até o quartinho aonde ele ficava, batendo na porta. - Matheo? Tá aí?
- Ah, oi! - Ele abre a porta, o mesmo livro ainda em sua mão.
- Tu ainda ta lendo isso? - Ela pergunta.
- É interessante, até. Você sabia que bebês possuem mais ossos que adultos? - Matheo sorri.
- Todo mundo sabe disso, Matheo.
- Ah... - O sorriso dele desmancha - Eu não sabia. Meh, tanto faz... aonde é que você estava, hein? - Ele se senta novamente em seu colchão, voltando os olhos para seu livro.
- Eu tava lendo, só. Tá, aí eu comecei a conversar com algumas árvores e entrei dei uma boa viajada nuns pensamentos lá hehe... - Ela sobe o olhar para Matheo, que ainda lia - Tu não ta me escutando, né? - Ela cruza os braços.
- Não. - Ele responde, sem tirar os olhos do livro.
- Hm... tá bom. - Ela se vira para o corredor, olhando de canto para Matheo - Boa noite.
- Já vai dormir? - Seus olhos sobem para Jane.
- Não sei, talvez. - Ela sai do quarto.
- Okay, boa noite, Janie.
Jane sai e fecha a porta, indo em direção ao seu quarto, aonde vestira sua camisola e se sentara em frente a janela por volta de uma hora, observando o céu e rabiscando em um livrinho, até ficar com sono e ir se deitar. Poucos minutos após isso, 3 batidas a acordaram.
- Hmm... Matheo? - Ela pergunta, sem sair da cama.
- Uhm, Janie? Eu posso entrar?
- Ai... tá. - Ela se senta, ainda sem abrir os olhos, coçando um deles.
Matheo lentamente abre a porta e se aproxima de Jane.
- O que é? - Ela abre os olhos para ele.
- Eu uh... É... hmm... - Ele olha em volta, pensando. - Eu não sei explicar direito, é que... v-você já ouviu falar de... um certo tipo de, uhm... torção?
- O que? Do que é que tu tá falando? Olha a hora que é, vai dormir. - Jane tentava manter os olhos abertos.
- Então, é isso... É complicado, não sei como te explicar mas eu, uh...
Jane ergue uma sobrancelha.
- Eu... - Matheo engole seco - Eu acho que isso pode acontecer comigo e eu estou com um pouco de receio de ficar sozinho agora... - Ele olha para ela, nervoso - É isso.
- Não sei nem do que tu tá falando.
- Ahh, aqui, olha. - Matheo sobe na cama ao lado de Jane, segurando seu livro sob a luz que vinha da janela.
- Consegue ler?
- Um pouco... aham... - Jane apertava os olhos. - Que merda é essa que tu tá me mostrando???
- Pois é, talvez isso aconteça.
- E por que isso aconteceria??? - Jane encara a parede com um leve horror em seu rosto.
- ª... P-por nada. - O rosto de Matheo havia se avermelhado, mas não era notável no escuro.
- Assim, do nada? - Jane olha para ele, um pouco envergonhada.
- ... É. Para de perguntar.
- Tá e tu quer que eu faça o que se isso acontecer???
Matheo corava novamente.
- ... Não sei. Só sei que deve doer muito e... É.
- Aaahhh, tu tá com medinho! Entendi. - Ela ri.
- Não, não, não é isso, eu só... ah! - Ele cobre o rosto.
- Aham, confia.
- Ah, esquece isso. - Matheo desce da cama.
- Aí, tá bom, hehehe... foi mal... hehehe...
- E-enfim... eu posso... eu posso... mmm? - Ele cochicha.
- Que?
- Eu perguntei se eu posso... dormir aqui? - Ele olha para o chão.
- hah, tá. Mas se esse treco aí acontecer eu não vou fazer nada.
Matheo ficara tão vermelho que sentia seu rosto queimar.
- Eu sei disso, é óbvio...
Jane dá dois tapinhas na cama ao seu lado, aonde Matheo subira e se deitara.
- Deu, não me incomoda mais... - Ela se vira de costas para ele e se cobre.
- Não vou. - Matheo encara o teto.
- Nem peida, também.
- Não vou... nem você.
Um breve silêncio tomava conta do ambiente aonde Matheo encarava o teto, perdido em pensamentos, até Jane começar a rir novamente.
- Ai, o que foi agora, Janie?
Ela continuava - torção... - ela ria ainda mais.
Matheo suspira e cobre o rosto com as mãos - Você não entende, não corre esse risco.
Jane se vira rapidamente e olha para ele, e então para o teto.
- ... SHADOW WIZARD MON- Ela grita.
- DORME, JANIE, DORME!
- Ai, tá... agora eu que to com receio de dormir do seu lado.
- Por quê? - Ele vira sua cabeça para ela.
- Amanhã é primeiro de abril, e não quero que tu me faça nenhuma brincadeirinha, viu?
- Ah, tá. - Ele olha para o teto novamente.
- Hm, sei uma que seria legal contigo - Ela sorri.
- Por favor que isso não tenha nada a ver com o que eu te falei agora...
Jane voltara a rir e, com outro suspiro, Matheo se virara para dormir.
- To brincando, Matheo... boa noite.
- Boa noite.
...

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