- Aonde tu ta indo? - Pergunta Jane, que seguía atrás de Matheo.
- Indo buscar o seu presente. Aqui - Matheo se vira para ela, esticando seu braço. - Uma flor bela para outra flor bela.
- Ah... heh, obrigada... mas uh, o que é que tu tava me escondendo? - Jane leva as mãos a sua cintura.
- Uh... bom, essa flor ta meio durinha, né? Por causa do gelo.
- Matheo! Não muda de assunto!
Ele olha nervoso para os lados, até que, com um pulo, colocou a flor atrás da orelha de Jane.
-...Hm... - Jane franze as sobrancelhas.
- Ficou fofo, deixa assim. - Matheo sorri, ainda nervoso.
- Ta, tanto faz. Fica aí com teus segredinhos... Obrigada pela flor, aliás, hihi.
Matheo sorri levemente - De nada....
- Então é isso? - Matheo leva a xícara até sua boca, tomando mais um gole de seu chá.
- O que? - Jane se senta no banco da janela.
- Hoje é o último dia do ano, não é?
- Ah, sim...
- Hmm... - Matheo toma outro gole, seu olhar perdido no chão enquanto seus pensamentos viajavam longe. Mas rapidamente sua atenção é chamada para Jane, que começara a chorar.
- Janie? - Ele pergunta, sem resposta dela, que começava a chorar ainda mais. - Janie? O que foi? - Matheo solta sua xícara e corre até a janela, se sentando ao lado de Jane e pondo suas mãos em seus ombros.
- Janie???
- E se... a gente... n-nunca mais voltar? - Ela abraça suas pernas com força - E se nós ficarmos p-presos aqui... o resto de nossas vidas?
- Ah, Janie, se acalme. Nós vamos encontrar uma saíd-
- COMO, MATHEO? Nós estamos aqui há quase d-dois anos!!! Nunca encontramos nada! Nada além de um esqueleto dizendo que nunca sairemos daqui!!! - Jane começa a soluçar.
- Janie... - Matheo olha em volta, buscando o que dizer.
- Tu não percebe... vamos ficar aqui pra sempre... e eu vou f-ficar aqui... sozinha... - Jane se encolhe enquanto chora ainda mais.
- Olha, Janie... então, se ficarmos aqui pra sempre... você não vai estar sozinha... - Matheo diz, calma e suavemente. - Você vai estar comigo... - Ele limpa uma lágrima, deslizando sua mão pelo rosto dela até encaixá-la em seu queixo, coisa que fez Jane desacelerar seu choro e subir seu olhar até ele, que sorria tão docemente para ela, o encarando por alguns segundos, antes dele começar a lentamente puxar seu queixo até ele, aproximando seus rostos mais.... e mais.... e mais... Jane assistia enquanto Matheo fechava seus olhos e se inclinava até ela, que fez o mesmo, por um momento, mas logo se afastou, coisa que fez Matheo a soltar e também se afastar, com ambos sorrindo sem jeito.
- Uh... foi mal por isso... hehe... hmm... - Matheo coça a cabeça, tentando ao máximo não "tomatear".
Jane olhava para o chão, um sorriso desconfortável em seu rosto, esmagando sua saia com a mão.
- M-Matheo... - Ela se vira lentamente para ele.
- SIM? - Ele se vira rapidamente para ela.
- Uh... o... o teu chá, ali.
- Ah, é mesmo. - Matheo se levanta e pega sua xícara novamente, tomando mais um gole.
Um silêncio desconfortável tomou conta do ambiente por um tempo, com Jane novamente olhando através da janela.
- Quer um pouco, Janie? - Ele estica sua xícara para ela.
- Hm? Ah, não... Pra que, né? Pra ter que ficar indo naquele buraco que a gente chama de banheiro? Não mesmo, eu evito comer pra não ter que ir lá.
- Hmm, dá pra notar, magricela.
Jane se vira para ele, levando as mãos até sua cintura.
- Algum problema???
- Nenhum... é só esquisito.
- Esquisito??? - Jane se levanta e caminha até ele, batendo as mãos na bancada.
Matheo apenas sorria e tomava outro gole, calmamente.
- Esquisito??? - Ela cruza os braços - Esquisito é esse seu cabelo aí... - Ela vira as costas para ele e resmunga. - Poodle!
- Hmm... Olivia Palito!
Jane se vira novamente para ele, boquiabierta.
- COM LICENÇA!?!?
- Ah, ai, a menininha tá bravinha? Tão pequinininha! - Matheo debocha.
- Ah!!! Mas vai-te a merda, che! Eu tenho quase 1 e 70 e tu vem me chamar de pequenininha?
Matheo toma outro gole enquanto ri.
- Pequena... pequeno é... pequeno é outro negócio aí - Jane se dobra, gargalhando.
- E você saberia disso como? - Matheo apoia o rosto em sua mão.
- Já esqueceu o que eu te vi fazendo mês passado?
- JÁ FALEI QUE NÃO ERA O QUE VOCÊ PENSA, JANIE!
- Hum... confia.
- Ahh - Matheo leva a mão ao rosto.
- Não deixa de ser pequeno. - Ela ri.
- Ah sim... pequenas são essas suas frutinhas aí.
- ... - Jane o encarava, sua boca tão aberta que parecia prestes a bater no chão. Matheo apenas sorria.
- ... Mas agora tu ME PAGA! SEU PIÁ ABUSADO! - Matheo gargalha em frente a ela, mas logo começa a correr casa afora, já que Jane o ameaçava com seu sapato.
- Que isso, Janie! - Ele ri enquanto corre.
- VOLTA AQUI!
Matheo corre até as árvores, rapidamente subindo em uma.
- Desce daí, Matheo!
- E se eu não quiser? - Ele sorri.
- Então eu vou... rasgar suas roupas.
- Haha, vá em frente!
- E tu vai usar meus vestidos? - Jane cruza os braços.
- Nah, prefiro ficar peladão mesmo.
- Ahh! Desce logo daí!
- Eu não, você quer me bater.
- Querer eu quero, mas não vou... se eu te bater, é capaz de tu ficar tão feio que o ADM desse mundo vai te matar só por piedade. - Jane joga a cabeça para trás, sorrindo.
- Nossa, Janie! Depois eu que sou abusado! - Matheo desvia o olhar, preocupado.
- Ah... passei dos limites... né?
- Uh, Sim.
- ... Desculpa.
- Tudo bem, Janie. Eu sei entender uma piada... diferente de 'outras pessoas'. - Matheo diz.
- Hmm. - Um semblante triste aparece no rosto de Jane, que solta seu sapato no chão e o calça - Tá. Desce daí. Ou fica... no frio e no escuro. Tanto faz.
Matheo assiste por alguns segundos enquanto Jane abraça seus braços e volta para a casa, hesitando por um momento mas, com um revirar de olhos, pulara da árvore e seguira em direção a Jane.
- Janie? - Matheo a alcançara.
- ...
- Jaaniee? - Matheo sorri.
Jane continua andando até entrar na casa e se sentar no banco da janela, e Matheo, com um suspiro, se sentar ao seu lado.
- ... Jane. - Diz, encarando ela, que pegara um livro. - O que foi, Janie?
- O que foi o que, Matheo? Já te pedi desculpas.
- Okay, eu já te desculpei. Por quê você está assim, tristinha? - Ele sorri.
- Aaah - Jane solta seu livro e encosta a cabeça na janela. - Olha... eu sei que eu sou magra. Não precisa ficar dizendo isso.
- Ah, entendi. Tá bom, desculpa por te chamar de Olivia Palito - Ele sorri novamente.
- Não tem graça, Matheo. Não sou assim porque eu quero.
- Claro, você não come porque não quer.
- Não é assim. Eu era normal até mas... aí meus pais se separaram... Não é que eu comia pouco por querer, é que... ah, sei lá... eu só... não conseguia.
- Uh...
- Então começaram a me chamar disso na escola. Mas não é como se eu quisesse, só... não sei. - Jane acaricia sua mão com os dedos.
- Hm... eu... eu não sabia que isso era um problema prá você... desculpa, Jane.
- Tá bom, eu te entendo. Só... não fala isso de novo.
- Okay, okay... e desculpa também por falar das suas frutinhas - Ele sorri.
- Para de falar disso! - Ela sorri, um pouco envergonhada.
- Hah, e você também! Não fale do que você não viu!
- Ah... justo. - Eles riem. - Pera aí, tu fica reparando nisso?
- O que? Nas... Não! NÃO! Não foi isso que eu quis dizer, Janie! Eu nem sei, né? Eu só... eu só falei. - Matheo diz, com movimentos exagerados.
- Hm... tá né... esquisito.
Matheo a encara, não podendo conter um risinho.
- Será que já é meia noite? - Ele pergunta, se virando para a janela.
- Não tem como saber. Mas já anoiteceu faz um bom, bom tempo. - Ela olha para ele - Quer contar como se já fosse?
- Heh, pode ser. - Eles sorriem.
- Feliz 2023, Matheo.
- Hmm... Feliz 1986.
Jane sorri, seu olhar perdido nas estrelas daquele céu escuro e mistérioso. Seus pensamentos tão distantes que ela nem notara de começo que Matheo estava a abraçando.
- Vai um cházinho? - Ele ri.
Jane estala sua língua e revira os olhos, sorrindo. Estranhamente, aquele momento os proporcionava uma sensação de esperança. Mas, pelo o quê?...

VOCÊ ESTÁ LENDO
Nossa Vida
FantasyE se você acordasse completamente sozinho num lugar desconhecido?