Matheo acordava lentamente, com um leve gemido.
"beep beep beep"
Ele se vira em sua cama, esticando um de seus braços e desligando o alarme. Então se virara novamente e se cobrira com o lençol até a cabeça, entretanto não conseguiria mais voltar a dormir.
Ele se senta em sua cama, subindo as mangas de seu pijama e esfregando os olhos. Um ronco chamara a atenção dele, barulho esse que ficava mais e mais alto.
"É o carro do ovo passando na sua rua"
- Matheo? - Uma doce e acolhedora voz feminina diz, logo após abrir a porta do quarto.
- ...Mãe? - Seu corpo havia congelado. Apenas encarava a mulher que sorria, tão gentilmente. Somente após alguns segundos ele pulara da cama, a abraçando com força.
- Mãe!? É a senhora mesmo!? Como eu senti sua falta!!! - Lágrimas se formam nos olhos de Matheo enquanto sua mãe ri suavemente.
- Tony, venha cá! - Ela diz.
Um homem baixo, um pouco calvo e usando uma camisa vermelha entra no quarto.
- Matheo, mi hijo! - Ele sorri, abrindo os braços.
- PAI!!! - Matheo sorri, sendo abraçado por ambos seus pais.
- Eu... eu não entendo... eu... eu voltei??? Eu voltei!!! Eu estou em casa!!! - Ele sorri para seus pais enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto. - Mas... mas o que.... como???
- Do que está falando, querido? Não foi o Scott quem te trouxe? - Diz a mulher.
- O que? Scott?
- Sim, você não saiu com esse seu amigo ontem? - O homem acrescenta.
O sorriso de Matheo desmancha, encarando os dois rostos sorridentes na sua frente.
- Vocês... o tempo não passou para vocês?
- Matheo, meu querido, você andou bebendo? Já conversamos sobre essas coisas. - Ela diz num tom suave, ainda sorrindo, deslizando seus dedos frios pela bochecha dele.
- Eu não! Vocês não estão entendendo!
- Haha! - os dois riem. - Não seja tolo, querido.
- O que? - Seus olhos arregalam.
- Aqui - A mulher o entrega um papel com uma flor desenhada.
- O que é isso? - Ele pergunta.
- Flor de hibisco. Para não se esquecer do que é importante.
Ele desliza os olhos sobre o papel.
- Foi a Millie que desenhou pra você.
- ... - Huh...? - Seus olhos lentamente sobem de volta para os rostos sorridentes, que falavam em sincronia.
- Haha!
- N-não... O que está acontecendo? - Ele se levanta - Eu... eu não voltei?
- Haha! Não seja tolo, querido.
Ele engole seco ao ver o desenho em sua mão trêmula.
- Não é o momento, querido. Acorde.
Matheo se levanta com um forte inspiro, acordando Jane.
- Matheo? O que foi? - Ela se senta, deslizando a mão pelas costas do ofegante rapaz. - Shiuu, deu, respira.
Enquanto sua respiração desacelerava, ele encarava sua mão.
- Matheo? Tá tudo bem?
- Janie, eu... ah... ahh, deixa... - Ele se encosta na parede, mergulhando em pensamentos.
Jane abre a boca para falar, mas apenas o abraça.
- Feliz 1 ano de namoro....
Algumas horas haviam se passado, Jane e Matheo passeavam pela floresta, como de costume.
- Confesso que me assustei, o cachorro era bem grande haha! - Jane se vira para ele, perdido em pensamentos.
- Hm.
- Tá tudo bem? - Ela pergunta.
- Ah, sim, só tava pensando... o cachorro fez o que mesmo?
- Ele... ele me confundiu com uma cadela... - Ela responde, mesmo tendo acabado de dizer isso.
- Tendi.
- Uh... ah, olha ali! - Jane corre e apanha uma flor, a entregando para Matheo.
- O que? - Seus olhos arregalam.
Era exatamente a mesma flor de seu sonho.
- Eu adoro essa flor! Não me lembro do nome, acho que era...
- Flor de hibisco. - Ele a interrompe.
- É... acho que era isso mesmo! - Ela sorri.
- Eu... eu sonhei algo hoje.
- Eu percebi... quer falar sobre isso?
- Sonhei com essa flor.
- Ah... que coincidência! heh... - Ela sorri na tentativa de fazê-lo sorrir também.
- É melhor deixar quieto, mesmo. Foi só um sonho, afinal.
- Hm... okay... - Jane envolve o braço de Matheo com suas mãos, enquanto continuam caminhando.
Alguns minutos se passam, e Jane consegue o fazer sorrir novamente, conversando sobre qualquer coisa que viesse à mente.
- Não, Janie, bananas com certeza.
- Mas não muda o fato de ser 14 cangurus pra 1 só paraguaio!!!
- Fica quieta, Janie.
- Que isso? Eu tô falando e tu vai ouvir!
- Shhh! Janie! - Ele sussura, colocando o dedo no rosto de Jane para a silenciar. - olha ali!
O olhar de Jane segue o dedo de Matheo até o topo de uma árvore, para onde ele apontava.
- Aquilo subindo é... - Ela aperta os olhos.
- ... Fumaça.
Eles encaram por alguns segundos, em silêncio.
- Tu acha que...
- Sim, Janie, com certeza tem alguém lá! Vamos! - Ele a puxa pelo braço, mas Jane o segura.
- Calma!!! Espera!!! E for alguém ruim? Nós teríamos que fugir! Iríamos perder nossa casa!
- Não vou deixar que nada aconteça com nós, meu amor, pode confiar.
- Po, Matheo, tu não tem como saber disso! Não vamos lá nem a pau!!!
- Mas... - Ele se vira para a fumaça, então volta para Jane, seu rosto se entristecendo. - Tem razão, é melhor não investigarmos.
- Por favor, vamos embora. Não quero ter que me perder de ti.
- Mas e se for uma pessoa boa? Uma perdida, que nem nós?
- Não somos perdidos, nós temos um ao outro, e também uma casa. Vamos, Matheo, eu deixo tu deitar no meu colo.
- ... Tá, não posso negar uma oferta dessa. - Ele solta um risinho.
- Vem, Matchuzinhozinho.
Mais alguns minutos passam enquanto eles caminhavam de volta pra casa.
- Então sabemos que não estamos sozinhos aqui. - Diz Matheo.
- Isso me assusta mais do que deveria.
- Como assim? - Ele vira o rosto para ela.
- É, tipo, no começo eu achava assustadora ideia de estar completamente sozinha, mas agora perceber que não estamos - bom, achamos que não - da ainda mais medo. Imagina, pode ter qualquer coisa lá fora e nós não sabemos. Pode estar se aproximando de nós e nós nem sabemos. Pode já ter nos visto ou estar seguindo a gente agora. - Ela olha em volta, um pouco paranoica.
- Janie! Talvez seja só alguma planta seca que pegou fogo, relaxa.
- Mas Matheo! Foi tu que disse que "com certeza tem alguém lá"!
- Ai, tá bom, não deveria ter de assustado, foi mal, esquece isso, não deve ser nada demais.

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Nossa Vida
FantasyE se você acordasse completamente sozinho num lugar desconhecido?