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- Não, eu preciso falar de um jeito mais mascarado. Não posso entregar tanto assim.. - Ela digitava vorazmente no macbook à sua frente. - Eu tenho que pensar igual o Stenio pra escrever esse habeas corpus. Abordar o outro lado, sem perder o profissionalismo. Atacar direto.

- Você vai mentir? - Leonor se chocou.

- Óbvio que não.

- Helô, você é incrível mas.. Você não tem a lábia que ele tem.

Heloísa ficou pensativa por um momento.

- Hmm.. Já sei como vou resolver isso.

- O que você vai fazer?

- Bom.. Eu posso não ter a lábia que ele tem, mas eu tenho meu borogodó! Vou usar isso a meu favor.

Ela caminhou pacificamente até a sala dele, e parou na frente da secretaria.

- Dona Lenaaa.. Querida. - Abriu um sorriso enquanto acariciava o balcão a sua frente, de maneira amigável. Heloísa era gentil, quando não estava possessa com o colega de trabalho. - Amei as flores que me mandou da última vez! Você tem muito bom gosto. Tá decorando minha sala de estar, num vaso lindo. Qualquer dia passa lá pra gente tomar um cafezinho, e você ver, menina!

- E-Eu? - A secretária ficou lisonjeada pelo elogio. - C-claro! Vou sim! Que honra, nossa, Dona Helô.

Heloísa riu baixo.

- Fica tranquila, Lena. Quem tá te convidando não é a Dona Helô, não. É a Helô!

A advogada piscou para a secretaria.

- Mas quem te deu as flores fui eu.. - Uma voz grossa surgiu por cima do ombro esquerdo de Heloísa.

Que se virou para ele, sorridente.

- Era você mesmo quem eu queria ver.

- Que honra! - Ele flertou. - Pode entrar. - Ele deu espaço na porta para que ela passasse e adentrasse seu escritório.

- Aqui não.. Tava precisando tomar um vinho. Que tal naquele restaurante que a gente gosta? O daquele jantar executivo incrível que nós amamos.. - Ela deu pequenos passos na direção dele, enquanto acariciava a gola da camisa dele, ajeitando.

Stenio ficou completamente hipnotizado pelo movimento tão simples mas tão íntimo.

- Claro. - Concordou, sem tirar os olhos da boca dela por sequer um segundo.

- Vou pro meu escritório pegar minha bolsa.. Você passa pra me buscar? E vamos juntos.

- Claro. - Respondeu ele categoricamente, repetitivamente, sem saber muito bem reagir de outra forma.

- Te vejo em dez minutos. - Ela piscou para ele, se inclinando em sua direção e beijando sua bochecha bem perto da boca, lentamente e intensamente.

Deu um sorrisinho para Lena, se despedindo.

Stenio ficou observando o movimento do quadril dela rebolando levemente ao sair, enquanto desfilava de volta para sua sala.

- Doutor Stenio, doutor Stenio.. - Lena avisou. - Toma cuidado! Essa mulher é perigosa.

Ele entrou no escritório rapidamente, sentindo seu coração acelerar. Respirou fundo, e passou a mão pelo rosto, tentando acordar. Pegou as chaves, o celular e a carteira, bem como sua pasta de documentos. Esperou dar o tempo necessário, e foi buscar Heloísa.

- ... E aí o Dante simplesmente achou que fui eu! Fala sério, Helô! - Ele ria, contando. - Eu não tenho nem paciência de fazer um negócio desse.

- Não acredito. - Ela ria da história cômica, enquanto esperavam o elevador. - Mas confesso que eu também duvidaria de você!

Assim que ele se abriu, delegado Ricardo se espantou ao ver os dois juntos.

- Helô. - O sorriso dele se iluminou e ele desceu os olhos pelo corpo da advogada. - Tá linda! Nossa!

Ela, com um sorriso tímido, se aproximou dele, dando um beijo em sua bochecha.

- Obrigada. Tá fazendo o que aqui?

- Vim conversar com o Dante e.. - Ele mencionou, um pouco perdido, mostrando uma pasta cheia de documentos. - Tá de saída?

Ele ignorava a presença de Stenio, o que fazia com que o advogado quisesse dar um murro na cara do delegado.

- Sim.. To precisando de ajuda com umas coisas e o Stenio vai me ajudar. - Ela sorriu, olhando para o colega, fazendo carinho no braço dele. - Te chamaria pra se juntar a nós, mas realmente vai ser um papo bem chato de trabalho.. - Ela suspirou, como se isso fosse frustrante.

- Tudo bem. Quem sabe a gente não marque outro dia?

- Quem sabe? - Ela devolveu, dando de ombros.

Stenio entrou no elevador querendo acabar com isso logo.

- Até a próxima, Ricardo.

Heloísa se juntou a ele, que apoiou a mão na base de sua cintura, clicando no botão da garagem.

Assim que as portas se fecharam, ele encarou a advogada, com as mãos no bolso.

- Vocês já ficaram?

Ela arregalou os olhos.

- Stenio! - Chamou sua atenção. - Que invasivo.

- Só to perguntando..

Ela riu, se recusando a responder.
Pensou bem por alguns segundos, se lembrando de que precisava seduzi-lo.

- Ele tenta há algum tempo. Sempre vai marcar com a Olivia mas nunca consegue de fato achar datas. Eu treino minhas secretárias muito bem. Ele é um cara interessante, mas..

Chegaram até a garagem, e entraram. Colocaram os cintos de segurança, e Stenio passou a dirigir até o restaurante favorito deles que não era muito longe dali.

- Qual o problema com o delegado, então?

- Eu tenho meus pré requisitos, né Stenio?

Ele ficou quieto, pensativo. Ficou tentando imaginar quais seriam estes, mas não conseguiu saber. Ela era difícil de ler, ao passo que ela o conhecia por completo. Personalidade, passado, presente, futuro e tudo.

Ela engajou em um assunto qualquer de uma reunião futura, e ele tentou prestar atenção e responder ao passo que dividia a atenção entre a estrada, o fato de que ela estava em seu carro, indo para um restaurante com ele, e o vestido que agora estava super curto pela flexão da perna no banco do carona.

Stenio afrouxou a gravata, tirando. Sentia falta de ar. Abriu os primeiros botões da camisa com uma mão, respirando fundo.

Heloísa o observava, com esse visual mais despojado, enquanto dirigia. As mangas que ele havia arregaçado ao sair do escritório mostravam a tatuagem no braço direito. Ela adorava essa tatuagem.

Por um segundo ela imaginou como seria se de fato estivessem juntos. Seria assim? Ele passaria para buscá-la em seu escritório, dirigiria para o apartamento deles depois de jantarem em seu restaurante favorito e compartilhar um bom vinho. Ao chegar lá, ela o atacaria sem deixar que destrancasse a porta direito, e fariam sexo até dormir. No dia seguinte, acordariam juntos, transariam tomariam café da manhã, e iriam pro trabalho.

Essa visão a fez arrepiar.
Por anos, desde que o havia conhecido, era tudo que ela queria, em segredo.

Seus pensamentos foram interrompidos quando ele terminou de estacionar.

- Aguenta firme. - Ele apoiou a mão na coxa dela, pedindo que ficasse no carro.

Desceu, deu a volta no veículo, e abriu a porta para ela. Tirou um sorrisinho de seus lábios, antes que ela segurasse em sua mão para descer.

Talvez, pedir ajuda para se aproveitar dele não tivesse sido uma decisão tão inteligente assim.

suit and tieOnde histórias criam vida. Descubra agora