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- Por que a Helô convocou essa reunião? - Moretti perguntou baixinho, com as mãos no bolso.

- E eu que sei? - Stenio deu de ombros. - Ela tá louca. Ontem me chamou pra tomar um vinho. A gente jantou, bebeu.. - Ele contou, com os olhos brilhando, por mais que não quisesse.

- E daí você conseguiu finalmente comer a mulher, ou moscou de novo?

Stenio revirou os olhos, irritado.

- Mosquei..? Que mané "mosquei"? A culpa lá é minha? A mulher me odeia, eu vou fazer o que? Deus me livre beijar ela e ela ainda me denunciar no RH dizendo que eu forcei, sei lá. Pavor. - Stenio comentou, assustado.

Moretti tentou conter a gargalhada.

- Ela não demonstrou querer?

Stenio ficou pensativo tentando se lembrar.

- Ela parece que quer, aí dá um segundo parece que não quer. Parece que me odeia, mas quer me beijar, e que me adora mas que limparia a boca com água sanitária caso eu desse o primeiro passo.

Uma gargalhada escapou a boca do outro advogado.

- Não dá pra falar sério com você. Eu nem sei o porque de tentar. - Stenio revirou os olhos e cruzou os braços. - Ah, ala. Chegou. Apostas sobre o que é?

- Deve tá aqui pra se vangloriar de algum cliente multimilionário que conseguiu pra empresa. Mandou abrir até champanhe, acho que você foi passado pra trás.

- Ela não perde por esperar. Eu tenho um cliente que tá no papo, o Dante vai simplesmente adorar que eu o..

Heloísa se colocou na frente da sala de reuniões.

- Olá, senhoras e senhores. Muito obrigada por terem se desdobrado para estarem aqui nessa reunião quase que emergencial. Estamos aqui reunidos porque hoje, mais do que nunca, preciso do meu time comigo. - Ela andou pela sala de reuniões, parecendo uma líder. Como se fosse dona do escritório. - Eu convoquei todos que estão aqui, porque todos são relevantes, e todos vão ter que dar duro. Tenho muito trabalho para cada um de vocês e vamos ter que nos subdividir em setores, já que estamos falando de uma empresa americana.

Os olhos de Dante brilharam. Stenio observava atento, com o cenho franzido, tentando compreender de que diabos Heloísa falava.

- Bratton & Gold é o nome da empresa que estamos representando. Um cliente brasileiro que contratava os serviços deles está processando a empresa. Mas aí eu pensei: hm, por que ter a mente pequena e pegar como cliente essa mini-empresa brasileira que contratou os serviços deles? - Ela encarou Stenio, jogando em sua cara que não só havia roubado o plano dele, mas feito pior e conseguido um contrato multimilionário. - Achava mais negócio ter como cliente a própria empresa que está respondendo ao processo. Nós fechamos todos os detalhes essa madrugada, devido ao fuso. Depois de muitas pesquisas, acreditem, fiquei até ontem a noite pesquisando.. Enquanto tomava um Chateau Lafite, descobri o cerne da questão. E é aí que nós entramos.

Heloísa explicou toda a situação, a qual todos assistiram atentamente. Designou funções para todos ali. Moretti, Leonor, até Dante tinha o que fazer.

Assim que todos colocaram a mão na massa e atacaram a pilha de contratos e documentos que ela havia trazido consigo, Stenio andou até ela, engolindo todo o ódio que estava sentindo por ter entendido só agora o motivo do jantar da noite anterior e como ela o tinha apunhalado pelas costas com força total. Ele era o único para quem ela não havia dito o que fazer ainda.

- Com licença, doutora. - Ele a puxou pelo braço, um pouco mais forte do que deveria, fazendo com que ela se virasse para ele.

- Oi, querido? - Heloísa perguntou, voltando sua atenção para ele, se fazendo de inocente.

- Afinal, como vou te ajudar? Você sabe, além do habeas corpus que eu redigi. Você me chamou pra reunião pra algum fim, não é mesmo?

- Ah, é! Nossa! - Ela apoiou a mão na testa, como se tivesse se esquecido de designar alguma tarefa a ele. - Te chamei aqui por dois motivos. Número um, pra você ver o que acontece quando mexe com Heloísa Sampaio, e dois.. - Ela deu sua xícara na mão dele. - Pra você trazer mais cafezinho pra gente. Vamos precisar, sabe como é, os advogados de verdade tem muito trabalho pela frente por aqui. É só isso. Ah, o meu é sem adoçar. - Deu uns tapinhas no ombro dele, encorajando.

Jogou o cabelo todo para trás e passou a focar sua atenção nos papéis em cima da mesa, se debruçando ali e ajudando Leonor.

Stenio viu como ela empinava a bunda em sua direção. Estava com tanta raiva, que não conseguia nem tirar um momento para apreciar a visão. Ele sentiu a raiva tomar seu corpo, e riu ironicamente. Levou a xícara para a cozinha e caminhou pacientemente até seu escritório.

- E aí, doutor Stenio? Novidade boa? - Sua secretária perguntou, curiosa. - O que Dona Helô fez?

- Acabou com a minha vida. Foi isso que ela fez. - Ele respondeu sem dar muita importância, se trancando em seu escritório.



- E aí, qual vai ser o contragolpe? - Moretti já foi entrando e servindo whisky para dois. Levou o copo até a mesa de Stenio, e viu que ele já tinha outra garrafa e um copo ali. Deu risada ao ver como o amigo estava abatido.

Estava sem terno, a gravata estava torta, ele parecia chateado.

- O contragolpe vai ser fazer ela perder essa merda desse cliente maldito que ela conseguiu. Eu juro por Deus, Moretti, ela não vai continuar com ele.

- Acho justo. - O amigo concordou. - Pode deixar, eu faço a parte suja!

Stenio o olhou com desdém.

- Que parte suja? Que mané parte suja? Eu lá preciso de parte suja? Eu to arquitetando o processo que o cliente que eu pegaria está fazendo. O processo tá rolando aqui no Brasil mesmo, graças a uns detalhes e a terceirização.. Vou fazer pro bono, sem ninguém saber. Escolhi um amigo meu pra representar, então vai ser um processo difícil. Se a Heloísa perder..

- Bingo! - Moretti disse, sorridente. - O Dante mata ela.

- E com razão, né? Não vejo a hora de jogar na cara dela que fui eu quem planejei tudo.

- Você só tem que tomar cuidado. Se o Dante souber que você tá indo contra a camisa do time..

- Ele não vai saber. - Stenio garantiu. - Eu vou puxar o tapete antes que ela perceba.

suit and tieOnde histórias criam vida. Descubra agora