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Dante sentou os dois lado a lado.

Stenio se recusava a olhar para Heloísa, e Heloísa se recusava a olhar para Stenio.

- Vocês dois vão viajar para visitar o cliente novo da Helô. Pesquisar todas as necessidades deles aqui no Brasil, tudo que deu errado, o que deu certo.. E o que eles nem sabem que precisa de ajuda ainda.

Dante anunciou.

E os dois advogados começaram a falar ao mesmo tempo, um em cima do outro:

- Ele não está no meu caso, não tem serventia pra absolutamente nada sem contar que eu o conheço e sei que ele vai estragar tudo de propósito.

- Eu jamais me envolveria um processo tão baixo que essa mulherzinha conseguiu as minhas custas..

Heloísa o encarou, ofendida.

- Mulherzinha? Mulherzinha? - O olhava, enfurecida.

- Vocês dois vão fazer o que eu estou mandando, porque se perdermos esse.. Milagre que a Helô conseguiu.. A empresa fecha.

Stenio olhou com surpresa para o chefe. A boca entreaberta, o cenho franzido.

- Quando você diz..

- Falência, Stenio. Isso que eu quis dizer. Estamos numa situação delicada, e somente o cliente que a Helô conseguiu pode nos salvar. - Ele decretou. - Portanto.. Se vocês tem amor a essa empresa, e se alguém tem o interesse de juntar o sobrenome ao meu e de meu melhor amigo, o falecido Guerra, naquela parede.. Eu acho melhor vocês começarem a trabalhar juntos.

Heloísa olhou para ele, apreensiva. Stenio também permitiu que seu olhar encontrasse o dela.

- Sei que o visto de vocês está em dia. Já comprei as passagens, já reservamos o hotel.. Vocês vão viajar amanhã.

- Eu não posso ir com o More? - Heloísa pediu, sofrendo.

- Não, querida. - Dante riu leve. - Eu preciso dos melhores nessa empreitada. É isso significa vocês dois. Posso contar com você pra isso? - Dante se sentou na mesa, na frente das cadeiras deles dois. Pegou a mão de Helô, fazendo carinho.

Ela suspirou, frustrada. Assentiu.

- Tudo bem por mim.

- E você.. - Dante se virou para Stenio. - Não sei exatamente o que ela fez pra conseguir esse cliente, mas sei que você está fora de si com isso. Posso confiar que você não colocaria seus interesses acima dos da empresa?

Stenio automaticamente sentiu vergonha por sequer cogitar deixar a briga com Heloísa falar mais alto do que sua fidelidade à empresa, e principalmente a Dante.

Assentiu, olhando para baixo.

- Se vocês fizerem isso por nós.. Os nomes de vocês com certeza vão pra parede. Por gratidão, merecimento, e porque estamos vendo o quanto vocês dão o sangue por nós faz muitos anos.

Os dois ficaram silêncio, olhando para baixo, como crianças que acabaram de levar um xingo do pai.

- Eu preciso de vocês. E vocês precisam de uma trégua. - Dante implorou.

- Tá bem.

- Pode ser.

Heloísa e Stenio concordaram.

- Não não. Agora. Na minha frente. Eu quero ver. - Ele pediu.

- Ah, fala sério. - Heloísa já foi logo falando.

- Também não é pra tanto. - Stenio resmungou.

- Eu estou mandando. - Dante declarou.

Stenio se levantou, virando de frente para Helô. Estendeu a mão para ela segurar, e ela o fez, se levantando. Ela se posicionou na frente dele, descendo um pouco a saia agarrada ao corpo que ela vestia.

- Amigos? - Ele ofereceu a mão de novo para que ela desse um apertão.

- Colegas. - Heloísa apertou a mão dele, e chacoalharam, olhando um no olho do outro.

- Ótimo. Agora um abraço. - Dante mandou.

- Daí você já tá de brincadeira comigo. - Heloísa o encarou, com raiva.

- Helô!! - O amigo íntimo de anos, que era como uma figura paterna para ela -para Stenio- ameaçou.

- Eu só posso ter jogado pedra na cruz. - Ela murmurou resmungando, dando o primeiro passo na direção de Stenio.

O advogado abriu os braços e os envolveu no pescoço dela, a puxando para mais perto. Sentiu ela encostar o decote no peitoral, no peitoral dele. O advogado fechou os olhos, a envolvendo com o corpo. Sentiu como ela era menor em tamanho e também seu perfume delicioso.

Heloísa encaixou o rosto no pescoço dele, inalando seu perfume embriagante que ela tanto amava. Enlaçou os braços ao redor da cintura do advogado, por dentro do terno.

Permaneceram alguns longos segundos assim, mais tempo do que Dante havia imaginado.

Quando Heloísa fez menção de se desvencilhar dele, Stenio olhou para seu rosto, não gostando muito da decisão rápida dela de quebrar o abraço. Sem perceberem, os narizes se roçaram, ao tentarem se afastar.

- Os dois estão liberados. Vão pra casa, façam as malas e organizem a vida de vocês para a viagem. Stenio busca a Helô para irem pro aeroporto amanhã cedinho. Mais detalhes no e-mail que já foi enviado tanto para dona Lena quanto Olivia.

Heloísa e Stenio caminharam até a porta, sem terem muito bem como reagir, depois de tudo que havia acontecido. Não só a revelação bombástica de Dante havia tirado o chão deles mas também aquele momento íntimo do abraço.

- Ah! - Dante chamou a atenção deles que andavam silenciosamente para se retirarem do escritório. - Lembrem-se sempre: Vamos lembrar o que vocês estão fazendo por nós. - Dante disse sorridente, voltando a se sentar em sua mesa.

Heloísa deu um sorrisinho para o chefe.
Stenio assentiu, fazendo um gesto para se despedir.

Os dois saíram da sala de Dante e respiraram fundo como se estivessem se afogando e voltando a respirar só depois de sair dali.

- O que nós vamos fazer? - Stenio murmurou, preocupado.

Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo, tentando organizar os pensamentos.

- Vamos salvar a empresa, é isso que vamos fazer. Você vai pra casa fazer as malas?

- Agora não.. Preciso ajeitar umas coisas.

- Acho que todo minuto conta. Organiza sua agenda, faz as malas.. E vai pro meu apartamento. Vou te dar todos os detalhes antes de viajarmos.

Stenio assentiu, achando uma boa ideia.

- Você não prefere me dar os documentos?

- Você levaria 3 semanas pra ler tudo. - Ela riu fraco. - Eu levei.

- Tudo bem. Eu te aviso quando estiver indo.

Heloísa apoiou as mãos na cintura e assentiu, encarando o chão, preocupada. Já pensando no que iria fazer.

- Eu não tenho seu número. - Ele percebeu.

- Me dá. - Heloísa fez um gesto com a mão em direção ao celular dele.

Stenio desbloqueou o aparelho e criou um contato com o nome "Helozinha". Deu o celular na mão dela, para que adicionasse o número.

Tirou uma risada da advogada ao ver o apelido na tela. Heloísa digitou os números de seu celular.

- Não demora, temos muito trabalho a fazer. - Mandou.

E logo saiu em direção a sua sala.
E Stenio observou enquanto ela caminhava de costas para ele.

- Amigos. Temos que nos tornar amigos. - Ele repetiu para si mesmo, tentando se convencer de que conseguia.

suit and tieOnde histórias criam vida. Descubra agora