Inefável

doze

Eu aprendi que, para sobreviver, era preciso alguns pilares para que o fracasso ou a tristeza devastadora não levasse com suas lâminas todos os resquícios, ao ponto de não sobrar algumas flores no gramado que foi cortado em toda sua superfície de verde amarelado.

Amizade. 

Tudo na amizade era sobre amor e seus diferentes caminhos. 

– Beomgyu, por que você está na minha casa tão tarde da noite e numa segunda-feira? 

Beomgyu estava na minha porta com seus olhos que carregavam os sentimentos do amanhecer gentil, tão marrons, formavam um bolo de chocolate para degustar. Ele vestia roupas finas, embora a noite estivesse fresca e agradável para usar jaqueta. Ele ainda preferiu usar seu casaco listrado em zebras. 

– Primeramente, que porra é essa? – Ele me analisou, fiquei sem entender. – Segundamente… segundamente existe? Enfim, você sabe que eu e Taehyun estamos namorando agora, mas ele brigou comigo, você é o substituto.

– Ugh, eu não quero ter que te beijar. 

– Eu muito menos. Não sei como o Yeonjun consegue. 

– Shh, fala baixo, ele tá aqui. – Eu instantaneamente coloquei minha mão sobre a boca de Beomgyu. Sussurrei: – E também, a gente nunca se beijou.

– Mas vocês vivem grudados um no outro, como assim? E por que ele tá aqui de novo?

– Eu chamei ele pra dormir aqui. 

– Mas ele dormiu aqui a semana toda, Soobin. Ele não tem casa? Tá passando necessidade? Manda fazer vaquinha na internet.

– Cala a boca – falei rindo. – Eu só não quero que ele vá embora. É bom, sabe, é bom dormir com ele. A gente dorme abraçadinho. 

– Por isso você tá só de cueca?

De repente, me lembrei da maneira pouco decente que me encontrava em frente à porta e o julgamento inicial de Beomgyu fez um pouco mais de sentido do que fez momentos antes. Eu o puxei para dentro e peguei um roupão que, por algum motivo, estava jogado no meu sofá, vestindo-o. Então me sentei, dando batidinhas ao meu lado para que aquele cara se sentasse também.

– Eh, sobre isso, eu meio que me senti confortável demais. 

– Deixa eu ver se eu entendi. Vocês saem juntos, comem juntos, voltam juntos, dormem juntos e vocês ainda não se beijaram!? 

– Jesus, não é assim uma amizade normal? Assim você me coloca contra a parede. Acho que o problema é que ainda não tomamos banho juntos. 

– Eu nunca dormi agarrado com você e só de cueca, ainda por cima. Hahaha, que pouca vergonha, não foi assim que eu te criei. 

– Podemos falar sobre você? Huh? Chega de falar sobre mim? – Pressionei, meio sonolento. – O que aconteceu? Vocês brigaram por quê?

– Foi culpa minha, na verdade. Ele queria sair com os amigos dele e eu falei que se ele fosse, então podia me bloquear.

– Foi culpa sua, mesmo. Liga pra ele e pede desculpa. 

– Me poupe, Soobin. – Ele cruzou os braços, birrento.  – Quem sai com os amigos às uma da manhã? Eu confio nele, mas não confio nos amigos dele e tenho ciúmes, foda-se. Não sou obrigado. Se ele queria sair,  que saísse antes das dez da noite, simples assim. 

– Certo… você tem um ponto. É fácil falar. Acho que eu me sentiria do mesmo jeito. – Dei um tapinha no ombro dele. – Eu vou voltar a dormir. Tem yakisoba na geladeira, o Yeonjun fez agora a pouco. Se vira, aí. Tô com muito sono, amanhã eu falo com o Tyun.