Capítulo 16 - Surpresa

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- Filha... me... me perdoa por não ter sido um bom pai para vocês. Eu te fiz passar por tanta coisa, Marília... eu praticamente te obriguei a amadurecer mais rápido, coloquei uma responsabilidade gigante nas suas costas, filha, quando você estava em uma época de curtir e não de assumir obrigações de empresa, de família... - o homem gesticulava rápido e falava entre soluços.

- Me desculpa por todas as vezes que você me achou caído pelas ruas sozinha. Você sempre quis proteger sua mãe e sua irmã disso tudo. Você foi forte, Marília, muito forte. Me perdoa, eu te fiz passar muita vergonha... Como pode? O dono de uma das empresas mais renomadas do país bêbado por aí e sua filha de apenas 16 anos tendo que dar conta disso? E eu sei, minha filha, que foi você que conseguiu reerguer aquela empresa. Se não fosse por você, provavelmente estaríamos endividados, falidos e... Poxa Marília, eu não te dei outra chance de sonhar como qualquer garota da sua idade, acabado de se formar, a não ser comandar esse império. Me desculpa, filha... - ele disse deixando um beijinho na mão de Marília.

- Eu... Eu vou me tratar, Marília, eu vou sair dessa vida de alcoólatra, você vai ver. Eu estou tentando de verdade agora, Marília. Estou totalmente sóbrio e eu vou conseguir filha, vou fazer isso por você, por mim, pela nossa família. Marília eu... Eu fiquei com muita raiva. Eu poderia ter te perdido para um bêbado desgraçado, que poderia muito bem ter sido eu. Na verdade... Na verdade eu nem sei como ou se você vai sair disso, filha, e eu estou com tanta raiva desse cara e de mim pelo que a gente deixou o álcool fazer com a nossa vida. E se fosse só com a nossa vida, tudo bem, que a gente sofra todas as consequências. Mas, o problema é que a gente envolve outras pessoas nisso, a gente envolve quem a gente ama e...

Marco respirou fundo, como se juntasse todas as forças para falar e eu apenas deixei que ele continuasse, sem interromper. Se Marília estivesse ouvindo, ela iria gostar de ver como o pai estava disposto a mudar.

- Marília... - continuou Marco. - Aquele cara poderia ter te matado ali mesmo por uma irresponsabilidade de bêbado! Droga! Eu não quero ser esse homem filha, eu não quero causar esse sofrimento em uma família. Eu não quero ser o responsável pelo coma de alguém e pelo medo, pela angústia das pessoas que o amam... Ou até... Pela morte de alguém. Eu não sou um assassino, Marília.

Aquilo foi como um soco no meu estômago. Respirei fundo e Marco continuou.

- Me desculpa, filha... Quando você era criança você me admirava tanto, falava que eu era o seu herói. A gente fazia tudo juntos, você lembra? Lembra de quando fazíamos café da manhã cantando aquela música que você amava e sabia de cor?

Imitando os animais
Imitando... Imitando uma abelha!

O homem começou a cantar e eu estava achando a coisa mais fofa do mundo. Por um segundo eu podia imaginar uma mini Marília imitando os animais enquanto ajudava no café da manhã.

- E aí você imitava todo tipo de animal e dávamos gargalhadas da sua dramatização. - continuou o homem saudoso. - Foram bons tempos, Marília... Você era uma ótima filha. Você é uma ótima filha, eu tenho tanto orgulho de você! Eu vou recuperar esse homem que você chamava de herói, você vai ver! - disse Marco limpando as lágrimas.

- Eu vou sair dessa, filha, essa foi a última gota para que eu caísse em mim. Por favor, Marília, continue lutando. Eu preciso que você volte para mim, eu preciso que você fique boa, porque você e sua irmã são quem me fazem querer ser melhor. - Marco disse por fim e se levantou acariciando a cabeça de Marília.

- Te amo muito, meu amor! - sussurrou baixinho no ouvido da loira, deu um beijinho em sua testa e se virou em direção à porta, em minha direção.

- Ahn...oi Maraisa! Está aqui há muito tempo? - perguntou-me Marco desconsertado.

À Beira do Penhasco | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora