Capítulo 22 - Inexplicável

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Maraisa respirou fundo e finalmente me olhou nos olhos.

- Marília... eu tinha muita esperança de você acordar em toda essa semana, exceto... Exceto aquele dia depois da sua piora... Me desculpa, Marília, eu não... - Maraisa falava enquanto caia no choro.

- Ei... Tudo bem, tudo bem - eu disse a puxando para mais perto a abraçando. - Por que você está me pedindo desculpas?

- Eu não devia ter deixado de acreditar, nem por um segundo, Marília. - ela disse entre soluços.

- Calma... Está tudo bem, você nunca deixou de estar aqui, não foi? - ela acenou com a cabeça. - Então a verdade é que por mais difícil que estava, uma grande parte de você nunca deixou de acreditar. E Maraisa... A gente só sabe o quanto é forte até que realmente precisamos ser fortes. - eu disse com os olhos marejados.

- Eu nem... Nem disse que amava você da última vez que você falou para mim. Como você poderia ir sem eu ter falado? - a morena disse contra meus ombros, ainda nos meus braços.

- E eu não fui. Tem coisas que não precisam ser ditas, Maraisa, apenas sentidas. E naquele dia eu senti, aliás, tenho sentido. - eu disse e Maraisa se afastou para me olhar nos olhos com uma expressão surpresa.

Eu sabia que ela me amava, sabia o quanto ela gostava de mim, ela demonstrava isso, mas tudo isso como um carinho de amigas, eu queria muito, muito saber se isso tinha mudado de alguma forma. Mas, por algum motivo, achei que não seria a hora certa, o foco agora era ela, as coisas que ela passou e eu queria saber. Queria saber de tudo. Até porque, nem eu sabia o que eu estava sentindo naquele momento.

- Er... - comecei meio sem jeito. - O coma me trouxe isso, eu conseguia apenas ouvir algumas coisas, parecia um sonho bem real, mas ainda assim, um sonho. Eu não podia falar, não podia acordar, não podia segurar a sua mão, mesmo que eu quisesse muito, eu podia apenas sentir. - dei uma pausa enquanto a morena me olhava atentamente.

- Mas me conta o que aconteceu nesse dia... - eu disse enquanto secava as lágrimas que ainda caiam no rosto de Maraisa.

A morena respirou fundo enquanto eu segurei a mão dela.

- Eu não achei que iria demorar tanto para você acordar. Eu entendi que era um coma, mas a cada dia você melhorava um pouquinho. Esse pouquinho, Marília, era como uma gota no oceano. E você melhorava. Para mim, a qualquer momento você iria acordar, principalmente quando seus amigos vieram para cá.

- O que tem a ver os meus amigos? - perguntei sem entender.

- O médico sempre disse para conversarmos com você, cantarmos música, isso de alguma forma estimula o cérebro e eu não sabia, mas algo me fazia acreditar que você me escutava. Eu tinha que me agarrar a isso. Então quando eles vieram eu achei que poderiam te trazer de volta, como se você pudesse escutar eles e ver que muitas pessoas... Que muita gente precisa de você, Marília, mas... - Maraisa deu uma pausa. Parecia muito doloroso tudo aquilo para ela, então eu segurei ainda mais firme na mão da morena.

- Mas eles vieram, até jogamos eu nunca, os levei no meu apartamento, jantamos juntos e foi horrível sem você. Não, claro, eles são incríveis, me encheram o saco até não poder mais, me fizeram rir, mas faltava alguém ali e essa falta eles não foram capazes de suprir. Ninguém é... - ela disse enquanto eu sentia uma lágrima escorrer na minha bochecha e escutava atentamente.

- Bom... - Maraisa suspirou. - Eles foram embora e eu reuni todas as forças do mundo para que eu não desmoronasse nessa hora. A frustração de você não ter acordado, o medo que você não conseguisse... Tudo isso me consumia, mas até aí tudo bem, eu conseguia lidar com isso vendo que você estava melhorando uma gota a cada dia. Pelo menos você estava melhorando.

À Beira do Penhasco | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora