Capítulo 18 - Colapso

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Eu andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Minha mente estava a mil e só vinham pensamentos ruins. Era um medo absurdo, eu estava em um estado de pânico, estava fora de mim e não conseguia me controlar.

- AAAAAAAAAAAAAAARGH! - Gritei. Eu precisava disso. A dor estava tão maior que eu que... Peguei outro vaso de cristal e atirei contra a parede, outro estilhaço.

Aquele barulho era a única forma de calar os meus pensamentos, era o que eu conseguia fazer para aguentar aquilo tudo e mesmo assim, minha cabeça não parava. Tudo girava. Atirei mais duas taças de uma só vez até que me encolhi no chão com a cabeça enterrada entre as minhas mãos.

Eu chorava como se eu já tivesse a perdido, não conseguia pensar em como ela iria acordar, melhorar... Eu simplesmente não conseguia. Ela estava apresentando melhoras, mesmo que como gotículas no oceano, mas ela estava melhorando... E de uma hora para outra tudo desmoronou. Eu perdi as minhas forças e não resisti, desabei. É como se estivessemos nos afogando.

Por que ela piorou? Por que? O que tem de errado, Marília? Por que você simplesmente não abre esses olhos verdes para mim de novo? É só... Abrir os olhos. - eu chorava tanto que não sabia mais quando eu iria conseguir parar.

Abracei o meu corpo no chão e enfiei a cabeça entre as pernas tentando me acalmar.

Sabe o que machuca, o que dói? É saber que talvez eu fique sem as nossas ligações de madrugadas, sem os conselhos dela, sem as nossas fofocas. Dói saber que nossos encontros podem se acabar por causa daquela maldita noite. Maldito bêbado.

O contato. Ficar sem o toque dela, o carinho, os abraços, os beijos... Aquelas sensações que eu jamais senti com outra pessoa antes, simplesmente...acabariam. Era como se uma parte de mim clamasse para não se perder, para não... Morrer.

Isso dói e muito. Machuca a alma, o espírito.

É como se tudo que vivemos juntas não passasse de um filme. Mas, nesse filme, eu era uma das protagonistas. Eu fiz parte do enredo e das reviravoltas que a caminhada da vida me proporcionou. Eu fiz parte da história, eu sou a história.

A nossa história. É real, não é como se eu pudesse desligar a TV e voltar para a minha vida normal, como eu deixei antes daquela fatídica noite. É como se eu estivesse vivendo naquele filme de terror em um looping que nunca termina.

Isso me revolta, me angustia e não sei mais se compensa mesmo viver tudo isso. Dói e como dói.

Eu não conseguia me mexer. Estava calor lá fora, mas eu tremia e suava frio.

Eu tentei tanto segurar o que eu estava sentindo por toda essa semana. Eu não me permiti sentir. Em todo esse tempo, de 100 eu deixava que 10% do que eu sentia se externalizava, e agora é como se tudo que estava preso aqui dentro tivesse explodido e eu não tinha o menor controle disso tudo.

Dor. Era só o que eu sentia.

Eu queria me levantar, arrumar essa bagunça, tanto no meu exterior quanto no meu interior e ter forças para voltar àquele hospital. Mas, eu só... Não conseguia me mover.

Eu já estava deitada em posição fetal naquele chão frio daquela sala enorme que não fazia mais o menor sentido para mim e que fazia eu me sentir ainda mais sozinha. Não fazia o menor sentido eu estar nesse país sem ela.

Ouvi a campainha tocar. Uma. Duas. Três vezes. Eu não queria atender e mesmo que eu quisesse, era como se eu estivesse amarrada pelas cordas da minha dor. Mais uma vez o som da campainha ecoou no apartamento e ouvi barulhos de alguém batendo forte na porta.

- Maraisa? Maraisa eu sei que você está aí! Abre a porta! - aquela voz era inconfundível. Maiara. O que ela estava fazendo aqui a essa hora?

Eu não me mexia. Não conseguia. Eu até tentei falar, mas também não saia uma palavra. Eu estava em choque.

À Beira do Penhasco | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora