Capítulo 33 - Se Encontrar

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Percorri os meus dedos no rosto dela suavemente e percebi que ela estava suando. Maraisa continuava a gritar vários "não" e chorava. Ela estava presa naquela lembrança e eu sabia exatamente qual era.

- Amor... Volta, está tudo bem! - a abracei forte sobre a cama.

Senti as mãos dela nos meus cabelos enquanto o seu peito subia e descia ofegante. Levantei o rosto para olhá-la nos olhos e ela estava com o rosto coberto de lágrimas.

- Não me interna, Marília... - ela disse em um fio de voz.

Me sentei ao lado da morena e a puxei abraçando-a de lado. Maraisa deitou a cabeça em meu ombro e comecei um carinho em seus cabelos enquanto ela chorava.

- Tudo bem amor... Foi só uma lembrança ruim, está tudo bem...

Ficamos um tempo em silêncio apenas dentro daquele abraço e carinho, quando minha mente me levou direto àquele dia.

*****

Flashback on

O quarto estava todo escuro. Acendi a luz e Maraisa estava acordada com os olhos fixos. Era um olhar perdido, ela não focava em nenhum lugar específico, parecia confusa dentro de si mesma. Cada vez que eu entrava naquele quarto e a via daquele jeito, meu coração se partia em mil pedaços.

Maraisa se levantava apenas para ir ao banheiro, tomar banho e com muito esforço meu e de Márcia, para comer. Ela comia pouco, umas 3 colheres de comida em cada horário de refeição, o que me deixava maluca.

O único movimento que ela fazia com rapidez era para se livrar do meu toque e aquilo me doía tanto que eu precisava ter uma racionalidade imensa para suportar. Não era ela deitada ali, era a sua dor.

Maraisa já estava a quase duas semanas desse jeito, desde que descobriu a... verdade. Ela não falava nada, apenas reagia às coisas básicas. Naiara estava lá embaixo, ela estava me ajudando muito com toda essa situação.

Me aproximei de Maraisa e sentei na beirada da cama sem tocá-la.

- Boa noite, meu amor!

Nada. Nem uma reação, apenas silêncio. Nem mesmo os olhos dela se encontravam com os meus. O desespero tomou conta de mim, sentei no chão de frente à ela tentando buscar seus olhos que permaneciam fixos.

- Maraisa... Ei... - coloquei a mão de frente à ela na cama evitando ao máximo tocá-la. - Está me ouvindo? Maraisa? Amor? Levanta!

Minha voz já se embargava, eu queria chorar, queria gritar, queria sacudi-la para que voltasse para mim, mas Maraisa nem se mexia na cama.

- Maraisa... Você precisa levantar, meu amor! Você.. você vai ficar doente se continuar assim, precisa comer direito, precisa dormir, precisa ir para o sol um pouco. Você precisa levantar.

- Pode fazer isso, Maraisa? Por mim, por favor... - eu falei entre soluços e levei minha mão no rosto dela.

Maraisa reagiu instantaneamente e se afastou da minha mão sem olhar nos meus olhos, apenas uma reação instintiva.

- Me deixa te ajudar... - eu disse entre lágrimas e ela já estava distante de novo com os olhos fixos em um lugar perdido.

Naiara logo apareceu e me pegou pelos ombros, eu chorava e protestava. Não queria sair do lado dela, mas aquilo estava me matando aos poucos também. Ver a pessoa que você ama se enfiando em um buraco tão fundo é a pior sensação do mundo.

- Se ela não melhorar em dois dias uma opção a ser muito considerada é interná-la na área psiquiátrica, Marília... Você sozinha pode não ser o suficiente para trazer Maraisa de volta.

À Beira do Penhasco | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora