- Eu sou a filha da mulher que você violentou. E não, não sou a sua filha. Na verdade... eu não sei bem o que eu estou fazendo aqui, mas com certeza estou aqui mais por mim do que por você. - Dei uma pausa enquanto tentava controlar as minhas lágrimas, eu sentia raiva agora.
- Acho que você nem está aqui agora. E é o que eu espero, que você esteja em um lugar muito pior do que esse. Mas... Eu precisava falar com você e não iria fazer isso da minha casa, eu não quero te levar para lá. Eu não quero te levar para a minha vida. Por isso, essa vai ser a primeira e a última vez que eu vou estar aqui, então tente fazer um esforço para me ouvir bem.
- Lamento que você não tenha entendido o sentido da vida. Lamento que você tenha se reduzido a pior faceta do ser humano. Sabe... - respirei fundo. - Eu quase acreditei que eu tivesse essa escuridão dentro de mim também, por ter vindo de você.
- Eu me tranquei em um quarto escuro e esperei que ela viesse, que me engolisse, que ela me tornasse uma pessoa ruim, uma pessoa má. Seria muito mais fácil, não acha? Pelo menos eu não sentiria a dor que eu senti. Mas acontece que... essa escuridão nunca chegou, pelo contrário, eu me sentia enjoada toda vez que ela se aproximava. Eu tive muitas pessoas ao meu redor para trazer o melhor de mim de volta e... bom, eu não sou você.
- Eu não sou você. - Repeti baixinho, mais para mim do que para ele.
Fiz uma pausa olhando para aquele céu azul lindo, cheio de pássaros, que cobria aquela manhã. Como é possível? O ser humano, com toda a sua inteligência, consegue ser a pior espécie dentre todas. Dei uma risada sarcástica e senti toda aquela dor querer sair de mim.
- Eu ainda acho engraçado como a sua existência é fútil. E se estiver pensando que pelo menos me trouxe a esse mundo... Eu não vou te agradecer pela minha vida, não vou mesmo. Se eu pudesse escolher, entre vir de uma forma tão brutal, que machucaria tanto a minha mãe e... - Senti as lágrimas escorrerem no meu rosto e as sequei com força. - E simplesmente não existir, eu ainda escolheria não existir. Então, a minha vida eu não devo a você. Devo a ela. Ela que foi forte o suficiente para conseguir passar por cima do seu ato podre!
- Isso me dói muito ainda, sabe Folks? Mas todos os dias eu venho tendo motivos para acreditar que a vida vale a pena ser vivida. A minha mãe me quis... Ela... Ela me quis! - eu disse entre soluços de novo.
- A minha namorada me quer... Me quer como ninguém e todos os dias eu experimento os maiores amores do mundo. Agora você... Ninguém te quis. Ninguém. Nem as suas futilidades, nem o seu dinheiro te quis, Folks. Eu não sou nem um pouco parecida com você.
- Eu nunca vou te perdoar pelo que fez com a minha mãe. Eu não consigo fazer isso, ela é o meu anjo aqui na terra. Mas, eu entendi o que minha psicóloga pediu para que eu fizesse. Eu vim aqui para me perdoar.
Respirei fundo enquanto mais e mais lágrimas escorriam e tentei me manter forte para fazer aquilo.
- Eu me perdoo. - eu disse enquanto chorava e enterrei o rosto nas minhas mãos. - Eu me perdoo. Eu me perdoo. - falei baixinho para mim mesma.
Fiquei um tempo com a minha dor enquanto sentia o meu corpo relaxar e, finalmente, consegui continuar.
- Eu me perdoo por ter vindo da maior dor da vida da minha mãe. Eu... Não tive culpa. Você teve! Eu não vou aliviar para você, Ian. Espero que Deus esteja fazendo a justiça por mim. Então, eu entrego o controle nas mãos dele agora. Não vou mais carregar isso comigo. - Eu disse mais calma.
- Eu sou adulta. Eu tenho um trabalho que eu amo, amigos que me amam, uma família que me ama e... uma namorada incrível que me ama e que segura toda essa barra comigo. - Dei um sorriso fraco.
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À Beira do Penhasco | Malila Adapt.
FanficAdaptação da autora @spysariette - Todos os créditos são da autora. À Beira do Penhasco apresenta duas grandes empresárias, com jornadas totalmente diferentes, mas que passaram por muitas dificuldades para chegarem aonde chegaram. E agora que o dest...