Capítulo 35 - Brazsonza

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Fiquei um tempo em silêncio e involuntariamente me veio uma cena na cabeça.

Flashback on

Acordei com o choro intenso dela e com as suas pernas inquietas batendo sobre a cama. Eu estava deitada no colchão que havia colocado ali perto. Preferi evitar dormir na mesma cama porque qualquer toque meu fazia com que ela reagisse de forma intensa. Mas, eu precisava ficar ali ao lado dela, eu tinha medo de deixar Maraisa sozinha.

Me levantei em um salto e corri para acender a luz. Maraisa tremia tanto sobre a cama que o corpo dela dava pequenos saltos sobre o colchão. Ela chorava muito e pressionava com toda a força a unha na própria coxa.

Corri para o meu colchão de novo e me sentei de frente para ela.

- Amor? Ei... ei... Maraisa? - eu tentava chamar sem encostar nela.

Maraisa continuava chorando e de olhos extremamente fechados enquanto todo o seu corpo reagia a aquele pânico. Ela lutava para respirar, tanto que seu peito subia e descia descontroladamente.

- Maraisa! OLHA PARA MIM! - gritei em meio aquele desespero e parecia que ela não me ouvia.

Eu queria abraçá-la forte até que ela se acalmasse. Eu queria protegê-la dela mesma. E eu tentei. Segurei o braço dela fazendo-a parar de se machucar e ela imediatamente empurrou forte o meu braço.

- NÃO Marília! NÃO! - ela disse entre soluços sem olhar para mim e eu senti minhas lágrimas escorrerem.

Impotência. Me senti tão pequena diante daquela crise que por um segundo achei que fosse sair de mim. Respira Marília... Pense.

Fui até o banheiro e peguei uma toalha. Enfiei debaixo d'água impaciente ouvindo o choro dela e logo voltei colocando o pano úmido sobre a testa de Maraisa. Pelo menos a toalha ela suportou.

- Respira meu amor, respira fundo... - eu disse me sentando ao lado dela em uma distância segura para que ela não me tirasse dali de novo.

Maraisa tentava respirar a todo custo.

- Eu estou bem aqui, eu sei que está horrível agora, mas isso vai passar! - eu dizia com a melhor voz que eu conseguia.

O corpo dela não parava um minuto, as mãos pressionavam cada vez mais a coxa enquanto ela tentava buscar o ar.

- Isso... Respira! - eu disse.

Me levantei e peguei o ventilador de chão. Liguei o aparelho e coloquei bem próximo à ela.

Maraisa chorava forte. Eu tentava fazer de tudo, falar de tudo, mas parecia que ela não conseguia me ouvir direito, nada ajudava. Ela não falava nada, o que me angustiava cada vez mais.

Eu não tinha noção do que estava passando na cabeça dela, eu tentava ser forte, tentava pensar no que mais eu poderia fazer. Cogitei levá-la ao hospital, mas eu precisaria de ajuda, ela não iria me deixar pegá-la no colo. Primeiro ela tinha que se acalmar.

O que ela faria em sã consciência? O que a ajudaria pelo menos um pouco em um momento difícil? Música!

Peguei meu celular e rapidamente escolhi uma música. Aumentei o volume para que ela tentasse ouvir para além daqueles pensamentos que a atormentavam e comecei a cantar junto, bem baixinho próximo ao seu ouvido, mas não tão próxima a ponto dela me afastar.

Dusk Till Dawn - Zayn

Baby, I'm right here
(Amor, eu estou bem aqui)

But you'll never be alone
(Mas você nunca ficará sozinha)

I'll be with you from dusk till dawn
(Eu estarei com você do crepúsculo ao amanhecer)

Enquanto eu cantava, Maraisa tentava se acalmar, o corpo já tremia menos e o ar entrava em seus pulmões de forma mais fácil.

À Beira do Penhasco | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora