CHEGANDO AO PARAÍSO

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E eu sou
A voz da resistência preta
E eu sou
Quem vai empretar minha bandeira
E eu sou
E ninguém isso vai mudar
Tudo começou a dar certo quando eu aprendi me amar 🥀


1° FASE


JUDY FERRAZ




Não me lembrava a hora exata em que fui dormir na noite anterior, mas lembrava com clareza de que quando caí na cama meus olhos se fecharam no mesmo instante e eu caí em um sono profundo. Estava exausta. Afinal, não foi fácil me organizar, principalmente por conta do fuso e de toda a papelada que eu era obrigada a ter em mãos para dar entrada na minha vaga nos dormitórios do Campus. Era burocracia demais para uma coisa ao meu ver, nem tão importante assim mas que eu era obrigada a cumprir cada ponto e vírgula se quisesse garantir os meus próximos cinco anos naquele lugar.

— Bom dia, eu sou Judy Ferraz, eu acabei de chegar de Nova York, eu... ganhei uma bolsa para estudar aqui... — comecei sem saber bem o que dizer pois a diretora me encarava com seus grandes olhos verdes aparentemente impacientes.

— Certo, você é atleta, correto? — disse fazendo pouco caso enquanto procurava algo em meio a uma pilha de folhas.

— Sim, jogo hóquei senhora.— disse olhando disfarçando para os lados.

— Estou surpresa que uma garota jogue hóquei e seja tão boa ao ponto de ser capitã por anos seguidos.— diz e dá uma risadinha ácida enquanto me olha por cima do óculos. — Bem, você trouxe os documentos solicitados?

— Ah sim... estão bem aqui... — disse tirando tudo da minha bolsa de colo.

Ela pegou em silêncio e ficou um bom tempo analisando tudo enquanto digitava no computador e uns vinte minutos depois é que o silêncio fora quebrado, quando ela se levantou e caminhou para o interior da sala chegando a um armário, onde abriu e pegou algo logo voltando para a mesa.

— Você vai ficar no quarto número 206 e vai dividir o quarto com duas garotas muito importantes Mika Mussolini e Michelly Stewart. — disse com um sorriso gigante. — Ambas, filhas de grandes patrocinadores do colégio, infelizmente não há outro quarto vago na ala B, e como somos obrigados a recebermos todos os bolsistas que chegam, temos que te colocar em algum lugar. — sorriu sem humor.— Apesar de seu histórico acadêmico não apresentar problemas, você veio de um bairro tanto quanto... difícil... então peço que tenha cuidado, Chelly e Mika são garotas adoráveis e delicadas...

Por mais que eu apenas tivesse concordo em silêncio, a minha expressão facial deve ter denunciado todo o meu nojo e indignação ao ouvir as merdas que a mulher a minha frente estava dizendo. Bairro difícil? Era inacreditável o quanto as pessoas ainda possuíam uma visão totalmente estereotipada do Brooklyn. Na verdade o que elas quis dizer é que, bairro é aparentemente um bairro de preto (periférico), apesar de que  não funcionava mais daquela forma. Em que época aquela megera vivia?

Respirei fundo e peguei a chave com o número "206" enquanto observava os dedos esguios e branquelos da diretora se relutar ao soltar o objeto. A porta fora sutilmente aberta e eu só notei porquê os olhos esbugalhados e verdes olharam para algo além de mim.

— Tobby ! — ela sorriu largo.— Que bom que chegou, senhorita Ferraz, esse é Tobby Karson, é veterano por aqui e normalmente fica encarregado de mostrar a universidade e os dormitórios para os novatos. E Tobby querido, essa é Judy Karson.

Me virei e dei de cara com um garoto alto, de pele clara para variar, o cabelo castanho e liso em um penteado de playboy, tudo isso acompanhado de um sorriso esnobe que ele não fazia a menor questão de esconder enquanto me analisava dos pés a cabeça.

*Finalizada* RESISTÊNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora