TRÉGUA

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Do ódio à amizade a distância é menor que do ódio à antipatia.

















NARRADOR




A pressão em suas têmporas se intensificaram, após a tentativa falha de fixar seus olhos na lousa onde o professor explicava alguma coisa, algo sobre formação dos ossos, não tinha certeza, estava em um estado deplorável. Mais uma noite em que não dormia bem, o sono era substituído por lágrimas, por culpa, por ansiedade. As refeições, já não realizava direito e já tinha estourado o limite de faltas muito rapidamente.

Naquela manhã, só havia comparecido às aulas porque ao contrário, reprovaria e colocaria sua bolsa em risco. Não podia se dar ao luxo, seus pais não tinham como pagar o seu curso, e se o curso de Medicina já era caro na América, imagina na Europa, onde se mantém a moeda mais cara. O que tinha que fazer, era simplesmente seguir em frente, afinal, tinha certeza que não havia feito nada de errado. Então, por quê fora ignorada? Por que suas mensagens não foram respondidas? Ou suas ligações antendidas? O que ela tinha feito?

Quando a aula terminou, foi a primeira a juntar seus materiais e guardá-los na bolsa. Mas antes que deixasse a sala de aula, o professor a chamou.

"Senhorita Ferraz." - disse caminhando na direção da mesma.

"Ah... oi professor..." - respondeu com um sorriso forçado. - "algum problema?"

"Eu quem pergunto, algum problema? Você parecia aérea a aula toda... distante..."

"E-estou bem..." disse de cabeça baixa. Era péssima em mentir, esperava que o professor ao menos pudesse fingir que acreditava e deixar pra lá.

"Certo, mas lembre-se de que se precisar conversar, estarei aqui." Disse com um sorriso de lado. Judy apenas assentiu e pediu licença se afastando.

Os corredores pareciam dez vezes mais longos que o normal e suas pernas já não pareciam tão potentes quanto custamava ser. Se sentia fraca, ridícula e no entanto, não podia evitar. Fora praticamente abandonada depois de se declarar, depois de confiar em alguém.

Quando avistou o banheiro feminino mais próximo, adentrou sem pensar duas vezes. Não estava com necessidades fisiológicas no momento, só queria se isolar do resto dos universitários. Não queria falar com ninguém, nem ver ninguém. Se sentia muito idiota.

Se sentia, humilhada.

Levantou a tampa da privada e se sentou, e não foi preciso mais que dois segundos para que um choro alto ecoasse pela cabine. Céus, por quê estava de sentindo daquela maneira? A impressão que tinha, era que Mason a usou, apenas. Que foi a porra de um objeto nas mãos do loiro, que ele simplesmente queria fodê-la e conseguiu, a descartando logo em seguida. Já devia imaginar que aquele papinho de amor era conversa fiada.

Sua ingenuidade estava a matando, sufocando por dentro.

No entanto, quando ouviu vozes se aproximando, foi obrigada a se calar. Engolir o restante das lágrimas que ainda insistiam em cair, e secar o rosto com a palma das mãos trêmulas.

"O boato é que ele foi embora por causa dela..." (uma voz irritantemente aguda disse primeiro)

"O que aquela baranga fez ao nosso Masy?" (outra disse logo em seguida) "Eu sabia que esse relacionamento não ia dar certo, nem acreditei quando o boato correu, ela é tão feia..."

"Sim, tipo... ela é muito gorda..." (disse com deboche)

"E você sabe, muito escura..." (era notável o desprezo em seu tom de voz)

*Finalizada* RESISTÊNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora