UM FILHO, POR UM FILHO

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Eu sei que serão dias difíceis, sei que sofrerei por um longo tempo, e sempre que eu me lembrar de você, vou sentir novamente o meu coração lacrimejar sangue. Mas sei que um dia essa dor vai passar.
— Desconhecido

NARRADOR


Era domingo à tarde, o céu límpido e azul puro, com leves manchinhas brancas, não era capaz de impedir a temperatura baixa. Afinal, ainda estávamos no comecinho do inverno na Espanha, o que já era consideravelmente frio. Porém, tal fato, não impedia que as pessoas de Madrid vivessem suas vidas normalmente, ou seja, levarem o cachorro para passear no parque, frequentarem as praças, levarem as crianças para brincar e até mesmo lavar o quintal.

Tá, talvez esta última não seja assim muito normal, lavar o quintal no domingo? Dia de descanso? Que absurdo. E além disso, ainda estava muito frio para mexer com água, porém, os jovens que seguravam a mangueira de borracha e vez ou outra tentavam se molhar, pareciam não sentir a temperatura comum.

— Tobby, para !!! — gritou rindo enquanto corria. — A água está muito gelada!

— Você não achava isso quando jogou em mim...!! — resmungou indignado correndo atrás da garota. — Judy, isso não é justo ! Você é muito rápida !

— ihh... tá arregando para uma mulher Tobbyzinho? — debochou enquanto parava com as mãos no quadril. — Você paga sua língua até hoje por me desmerecer quando me conheceu.

— Eu já pedi desculpas, okay? — disse sério. — Até quando vai jogar isso na minha cara?

— Sempre. — gargalhou.— Me lembro até hoje... do seu olhar debochado, e quando eu disse que era atleta, você zombou e disse que eu lutava sumô devido ao meu peso!

O garoto rolou os olhos e suspirou. A garota nunca superava os desentendimentos do passado. Claro que ela apenas estava o provocando, mas ele se sentia ainda mais idiota quando era lembrado do que fez ou falara em seus momentos de ignorância.

— Hey crianças, o almoço está servido, já terminaram de lavar o quintal? — Dona Valentina apareceu, sempre elegante, enquanto acenava para ambos há uma mediana distância. — Por que estão molhados assim? Vão acabar pegando um resfriado!

— Valentina, deixa eles minha querida! São jovens, e não adoecem assim com facilidade, têm que aproveitar o melhor dessa vida! — o homem idoso de muitos fios brancos na cabeça e uma bengala na mão direita, disse enquanto sorria para o neto.

— Mas papai, está frio e eles mexendo nessa água gelada, é perigoso! — a mulher protestou.

— Garanto que eles não estão com tanto frio assim... é só olhar para eles... — o velho indicou ambos os jovens que estavam deitados no gramado. Tobby por cima de Judy enquanto ao que parecia, tentava fazer cócegas na mesma, enquanto gargalhavam. — Ah... esse fogo, fogo da paixão, que saudades da sua mãe!

— Papai!

O homem apenas deu risada e se afastou, parecia ir em direção ao jardim, assim como todas as manhãs, cuidar das plantas que adquiriu junto com sua amada e falecida esposa.

O Senhor Benedict vivia sozinho naquela grande casa, mesmo após ficar viúvo não quis morar com nenhum dos filhos. E às vezes, como naquele final de semana, eles se revezavam para ir visitá-lo, e era de lei que Tobby sempre limpasse o seu quintal, tirasse o excesso da grama, os entulhos nos cantos. No início faziam isso juntos, mas a vista do avô foi ficando ruim e a tarefa passou a ser atribuída apenas ao mais novo.

Na cozinha, estavam os quatro sentado à mesa comendo, quando o anfitrião resolveu que era hora de encher o neto de questionamentos. Aqueles tipos de questionamentos constrangedores.

*Finalizada* RESISTÊNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora