Capítulo Quatro

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Victor Decker:

Pulei da cama e senti meu corpo ficar tonto por alguns segundos. Minha mãe me pegou e me ajudou a me sentar.

— Puck, temos que ir — falei.

— Está louco, não vê que está completamente exausto pelo que aconteceu lá fora — minha mãe disse.

— Não podemos ficar aqui, mãe. Se os portais estão se fechando, precisamos achar uma outra maneira de ir para nevernever, nesse instante só as fadas sombras devem ter acesso ao mundo mortal. É a única chance de evitar que fiquemos isolados dos mundos feéricos e do mortal se isso bloquear a magia — expliquei, sentindo a urgência da situação.

Puck permanecia tenso, os olhos refletindo a gravidade do momento. Minha mãe olhava entre nós dois, claramente preocupada.

— Victor, você não está em condições de viajar agora. Precisa descansar — ela argumentou, segurando meu rosto gentilmente.

— Se não formos agora, podemos perder a oportunidade. Se eu ficar, vocês estarão em risco — insisti, mesmo que cada palavra exigisse um esforço considerável da minha pessoa.

Puck suspirou, compreendendo a necessidade de agir rapidamente. Minha mãe, por outro lado, parecia dividida entre a preocupação maternal e a urgência da situação.

— Victor Decker — disse minha mãe, assumindo uma postura determinada. — Você ficará neste quarto até se recuperar por completo; não vou aceitar que recuse.

— Mas... — comecei, e ela me cortou.

— Sem 'mas', nada — afirmou minha mãe. — Victor, fiquei sem notícias suas por quase um ano, e achar que vou permitir que saia daqui...Não é uma opção. Você permanecerá aqui até que esteja completamente recuperado — ela acrescentou com firmeza, ignorando qualquer objeção.

Isso me fez assentir em silêncio, aceitando a decisão tomada diante das circunstâncias urgentes que se desenrolavam ao nosso redor.

Olhei para Puck, esperando uma espécie de apoio de Bond, mas tanto o feérico quanto o cão ficaram em silêncio quando minha mãe se levantou para sair.

— Irei trazer alguma coisa para você comer — disse minha mãe, saindo do quarto.

Fiquei ali, envolto em pensamentos, enquanto Puck e Bond permaneciam em silêncio, com a incerteza do que estava por vir.

— Temos que ir... — Comecei, e Puck me olhou.

— Para onde? Os portais estão se fechando, como a rainha branca disse — Puck comentou. — Vamos fazer assim, esperaremos um pouquinho até que você se recupere desse cansaço, e então veremos o que fazer.

Iria retrucar, mas ele se levantou, fazendo-me voltar para a cama. Pegou o espelho da minha mão; meu reflexo encarava-me de volta, a versão antiga de uma vida que havia sido normal há muito tempo. Aquilo me incomodou profundamente. Fazia tanto tempo que não via aquele reflexo em melhor estado, e usá-lo só para me disfarçar entre os mortais no mundo mortal era estranho.

Quer dizer, venho de uma família de mestiços de feéricos. Descobri essa informação há pouco tempo, e isso me trouxe certa alegria ao perceber que não sou completamente mortal. Na verdade, nem sei a que mundo pertenço. Queria tanto voltar para casa, mas agora que estou aqui, é quase como se um vazio estivesse se instalando dentro do meu peito.

Esse sentimento de desconexão e a busca pela minha verdadeira identidade pesavam em cada pensamento enquanto observava o reflexo da minha vida passada no espelho que Puck segurava. Uma dualidade entre mundos, uma sensação de pertencimento dividido, criando uma inquietude profunda que me consumia naquele momento. Puck, percebendo minha melancolia, tentou sorrir e o retirou o espelho do alcance da minha visão.

Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas Onde histórias criam vida. Descubra agora