Capítulo Um

74 107 71
                                    

Victor Decker:

Há um ano, encontrei-me imerso numa aventura no reino das fadas, determinado a enfrentar aqueles que ansiavam me sequestrar e explorar um poder que mal sabia pulsar dentro de mim.

Em menos de vinte e quatro horas, celebrarei meus dezessete anos. É incrível como o tempo pode se esvair rapidamente para alguém, como se estivesse preso, imóvel. Mal posso acreditar que se passou um ano desde aquele dia e que meu aniversário está tão próximo.

Foi o dia em que adentrei Faery, o dia que moldou meu destino de maneira irreversível. Tecnicamente, não estarei completando verdadeiramente dezessete anos. Fiquei tempo demais em Nevernever, ainda imerso no país das maravilhas.

Nesse lugar mágico, o envelhecimento é uma entidade elusiva, ocorrendo de forma tão lenta que mal vale a pena mencionar. Assim, enquanto um ano transcorreu no mundo real, percebo que talvez tenha envelhecido apenas alguns dias desde a minha partida.

O mundo das fadas é um reino atemporal, onde o tempo se desdobra em uma dança mágica, desafiando as leis do envelhecimento. Cada dia parece uma eternidade, uma jornada que transforma o comum em extraordinário. Às vésperas do meu aniversário, relembro aquele dia que me lançou nesse universo encantado, alterando para sempre o curso da minha existência.

Na vida real, experimentei tantas mudanças que mal conseguia me reconhecer. Balancei a cabeça com serenidade, fitando o terreno vazio à minha frente, onde, de acordo com o testamento do meu avô, ele desejou ser sepultado, e onde minha mãe honrou sua última vontade.

Nesse trecho solitário da autoestrada, ladeado por árvores de tupelo e ciprestes cobertos de musgo, poucos carros cruzavam nosso caminho. Aqueles que o faziam passavam velozmente, lançando folhas ao seu rastro, sem dar a mínima atenção para dois adolescentes acompanhados por um enorme cachorro.

Com delicadeza, peguei a flor e a plantei ao lado do túmulo. Senti Mirna, estender suas raízes pelo solo. A flor, então, irradiou uma luz suave. Em questão de segundos, uma pequena esfera mágica surgiu diante de mim, começando a dançar ao redor do túmulo. Ela repetiu o mesmo espetáculo ao meu redor, e subitamente, uma suave brisa se fez presente, como se fosse um beijo de despedida na minha testa.

Nesse momento, a esfera mágica desapareceu da minha frente, deixando para trás uma sensação de encerramento e magia no ar. Fiquei ali, imerso na quietude do local, refletindo sobre a jornada que me trouxe até ali e sobre as forças misteriosas que permeiam o tecido do mundo.

Puck surgiu ao meu lado, entrelaçando nossos dedos. Ele estava envolto pelo Glamour, ocultando sua essência feérica, mas eu conseguia enxergar além das tentativas dele de enganar os outros mortais.

Seus olhos, mesmo sob o disfarce mágico, revelavam um brilho travesso que só os seres feéricos possuíam. Senti a energia vibrante e encantadora que o circundava, mesmo que ele tentasse dissimular sua verdadeira natureza.

Ao segurar sua mão, percebi a sutileza das texturas mágicas que o Glamour proporcionava. Era como segurar a essência de um mundo mágico que se ocultava dos olhos mundanos. Puck sorriu, ciente de que, apesar de suas artimanhas para se camuflar, eu conseguia penetrar na aura feérica que o envolvia.

Juntos, mantendo nossas mãos entrelaçadas, adentramos o mundo comum, onde o Glamour escondia as maravilhas e perigos que os olhos humanos não podiam ver. Era um pacto entre dois mundos, um elo que transcendia a barreira entre o cotidiano e o extraordinário.

Iríamos chegar em casa em pouco tempo. O lugar onde meu avô havia sido enterrado não era longe de casa, mas dava uma boa caminhada para manter a calma e contar tudo para minha família sobre nossa relação com os seres feéricos, o país das maravilhas e, principalmente, a rainha vermelha.

Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas Onde histórias criam vida. Descubra agora