Capítulo Vinte e Um

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Victor Decker:

A figura me olhou por mais um segundo, seus olhos brilhando com uma mistura de expectativa e frieza. O peso da decisão estava esmagando, uma pressão insuportável que parecia roubar o ar ao meu redor. Tudo dentro de mim gritava que essa escolha iria me definir, me transformar para sempre — e eu simplesmente não podia aceitar isso.

Não dessa maneira.

Então, sem pensar, sem hesitar, fiz o impensável.

Dei um passo para trás, olhando para a vastidão ao meu redor, e então, com um único impulso, corri em direção ao fim do caminho. Meu coração batia como um tambor, minha mente em branco, mas o corpo sabia o que fazer. Corri direto para o vazio, para o desconhecido que se estendia diante de mim como uma boca faminta.

— O que você está fazendo? — a figura sibilou, sua voz ecoando, cheia de surpresa. Eu não olhei para trás.

Eu pulei.

O vazio me engoliu. A gravidade inexistente parecia me puxar em todas as direções ao mesmo tempo, como se o espaço ao redor estivesse se distorcendo em espirais de escuridão e luz. O som desapareceu completamente, e por um momento, eu me senti flutuando, suspenso em um abismo sem fim.

Não havia medo. A escolha que fiz não tinha volta. Pulei para fora do ciclo, para fora da decisão que me atormentava. Se aquele era o fim, então eu o havia escolhido.

E então, senti uma força invisível me agarrar, puxando-me ainda mais para o fundo, mais rápido do que antes. O vazio tinha uma direção.

Algo estava me esperando.

O ar, ou o que quer que fosse aquilo ao meu redor, começou a se solidificar. Um vento forte começou a soprar em meu rosto, e o turbilhão de luz e sombras ao redor começou a clarear. Aos poucos, a escuridão deu lugar a uma luz intensa, tão brilhante que tive que cobrir meus olhos.

Eu estava caindo, mas não para o fim.

No horizonte, vi algo se formando, uma nova paisagem surgindo do nada. Uma terra que não pertencia a nenhum dos mundos que conhecia, algo completamente novo e ao mesmo tempo estranhamente familiar.

O fim do caminho era apenas o começo de algo ainda maior.

E com isso, o vazio me lançou em direção àquele novo destino, enquanto a voz da figura ecoava uma última vez, distorcida e distante:

— Você cometeu um erro... mas talvez o destino ainda tenha planos para você.

E então, tudo ficou branco.

O branco intenso ao meu redor se transformou lentamente em uma fumaça densa, mas estranhamente brilhante, como se cada partícula estivesse carregada de luz própria. A fumaça flutuava, se misturando em correntes ondulantes, pulsando com energia. Senti o peso da atmosfera ao meu redor, mas não me deixei intimidar. Cada passo, cada batida das minhas asas, me levava mais fundo em direção àquele novo destino.

Por um breve momento, me vi envolto em memórias — Puck, minha família, meus aliados. Vi seus rostos se formarem nas sombras ao redor da fumaça. O sorriso travesso de Puck, sua lealdade inabalável, sua última risada antes de desaparecer para sempre. Ele tinha acreditado em mim, até o fim. Cada sacrifício que fizemos, cada batalha que lutamos, tudo conduzia a este momento.

Eu lembrava das batalhas, da dor e da perda, mas também das promessas feitas. Promessas de proteger aqueles que não podiam lutar, de preservar os mundos que dependiam de nós. Puck se foi, mas o que ele representava ainda estava vivo dentro de mim. E eu não o deixaria morrer em vão.

Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas Onde histórias criam vida. Descubra agora