Capítulo Vinte

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Victor Decker:

O silêncio após o caos era ensurdecedor. Eu estava flutuando em um vazio sem fim, cercado por uma escuridão que não era natural, mas uma ausência total de existência. Não havia luz, som, ou qualquer sensação física — apenas um abismo que parecia se estender para além de qualquer limite. Meu corpo estava imóvel, suspenso no nada, como se o próprio conceito de gravidade tivesse sido apagado.

Minha mente ainda girava com o que acabara de acontecer. O portal, Vermelha, o vórtice de criação... e então o colapso. O que saiu daquele portal? Eu sabia que era algo além de nossa compreensão, mas antes que pudesse reagir, tudo tinha sido engolido por aquela luz cegante.

De repente, uma pulsação suave percorreu o vazio, como se o coração do universo estivesse batendo novamente. Uma batida... depois outra... Lentamente, o nada começou a se fragmentar, e aos poucos, sensações começaram a voltar.Primeiro, um toque leve no rosto, como uma brisa distante; depois, o som fraco de ecos, distorcidos e distantes, mas presentes. A realidade estava se reconstruindo, pedaço por pedaço.

Eu tentei mover meus dedos, sentindo o formigamento retornar a eles. Aos poucos, o peso do meu corpo voltou, e com ele, a dor. Era uma dor surda, profunda, como se eu tivesse sido despedaçado e remontado de maneira imperfeita. Mas eu estava ali. Ainda estava vivo.

Abri os olhos lentamente. O que vi à minha frente me deixou sem fôlego.

Estava de volta ao campo de luz e sombras, mas algo havia mudado. O vórtice que Vermelha havia criado não estava mais lá. No lugar, uma paisagem surreal se estendia por todos os lados — colinas de luz pura misturadas com rios de escuridão, como se o próprio tecido da realidade estivesse sendo costurado de volta de maneira imperfeita. O portalainda estava lá, mas agora estava rachado, vazando pequenas ondas de poder bruto, sua energia instável e perigosa.

E no meio desse cenário de caos... Vermelha.

Ela estava ajoelhada no chão, respirando pesadamente, sua postura instável. O sorriso arrogante tinha desaparecido, substituído por uma expressão de pura incredulidade. Seus olhos estavam fixos no portal, que pulsava com uma energia que ela claramente não conseguia controlar. O poder que ela havia despertado estava além do que ela imaginava.

— Não... isso não pode estar acontecendo... — ela murmurou, sua voz tremendo de pânico.

Ela tentou se levantar, mas seus passos eram trôpegos, como se o peso de suas próprias ações estivesse esmagando-a. Aquele brilho de confiança que a dominava antes agora era uma sombra, e por um breve instante, ela parecia tão perdida quanto eu.

Eu me forcei a levantar, meus músculos gritando em protesto. Cada movimento era uma luta, mas eu precisava entender o que estava acontecendo. Precisava parar aquilo antes que fosse tarde demais — se já não fosse.

— Vermelha! — minha voz saiu rouca, mas firme. — Você perdeu o controle. Feche o portal antes que tudo se desfaça!

Ela olhou para mim, e pela primeira vez, não havia arrogância em seus olhos. Havia medo. Medo real.

— Não posso... — ela sussurrou, seus olhos se arregalando com a terrível compreensão. — Eu... eu não sabia... o que estava atrás dele...

O chão ao redor do portal começou a tremer, e um som profundo, quase como um rosnado, reverberou pelo campo de criação. Algo estava se movendo nas sombras além da luz. Algo antigo. Algo que nunca deveria ter sido libertado.

O que quer que fosse... estava prestes a atravessar.

E com isso, o verdadeiro horror estava apenas começando.

Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas Onde histórias criam vida. Descubra agora