Victor Decker:
Nos adiantamos em meio à neblina que se espalhava ao nosso redor, fria e densa, engolindo o caminho à frente. Cada passo era acompanhado por uma sensação crescente de que algo além da nossa compreensão estava acontecendo. O ar parecia vibrar, como se o próprio tecido da realidade estivesse sendo distorcido. Puck, sempre vigilante, guiava o caminho com olhos atentos, movendo-se com uma mistura de cautela e determinação feroz.
Conforme avançávamos, a neblina começou a assumir formas, revelando sombras que dançavam nas bordas da nossa visão. O solo sob nossos pés vibrava com uma energia latente, cada passo ecoando como se o chão estivesse prestes a desabar. A atmosfera ao nosso redor tornou-se sufocante, carregada de uma força misteriosa que me deixava tenso, como se estivéssemos nos aproximando de um lugar onde o próprio tempo se dobrava sobre si.
De repente, um estalo cortou o ar, e antes que eu pudesse reagir, Puck me puxou com força. Onde meus pés estavam há segundos, o solo rachou violentamente, uma fissura imensa se expandindo como se o mundo estivesse se quebrando ao meio. Um cheiro acre e nauseante, uma mistura de petróleo e algo podre, emanava da abertura. Fumaça negra começou a se erguer, densa e sufocante, e meu coração afundou ao reconhecer o que aquilo significava.
— O reino das sombras... está invadindo o véu entre os mundos — murmurei, sem conseguir acreditar no que via. Antes que eu pudesse processar a enormidade da situação, outro estalo ecoou, seguido de um tremor violento. O chão sob nossos pés ergueu-se de repente, e nós fomos jogados no ar.
— Demônios! — gritou Puck, enquanto começávamos a despencar em direção a um abismo negro que se abria à nossa frente. No último segundo, minhas asas se abriram instintivamente. Agarrei a mão de Puck, e juntos conseguimos evitar a queda, pairando sobre o caos crescente.
Enquanto flutuávamos no ar, o cenário abaixo de nós era de puro desespero. Sombras grotescas e criaturas demoníacas emergiam das fendas no solo, seus gritos se misturando aos ecos de uma batalha que já parecia perdida. A fissura que se expandia sem controle parecia devorar tudo em seu caminho, e minha mente girava com a realidade de que estávamos no epicentro dessa invasão devastadora. O glamour do mundo mortal se misturava à escuridão de forma caótica, como se os dois reinos estivessem em colapso.
— O que está acontecendo? — murmurei para mim mesmo, confuso e apavorado ao ver as forças sombrias se movendo com tanta ferocidade.
Puck, ainda segurando minha mão, olhou para mim com uma expressão séria, mas não menos determinada.
— Temos que deter isso. O reino das sombras não pode consumir tudo.
Seu tom era firme, e a determinação em seus olhos me impulsionou. Precisávamos de uma rota segura, um ponto de apoio para lutar. E então, à distância, entre a neblina e as sombras, vi uma casa. Estava perto da borda da fissura, uma construção solitária em meio ao caos. Sem hesitar, bati minhas asas com mais força, voando em sua direção com urgência.
Enquanto nos aproximávamos, os sinais de batalha ficavam evidentes. Marcas de feitiços estavam gravadas nas paredes da casa, e vestígios de lutas brutais se espalhavam pelo chão. A atmosfera estava carregada de tensão e perigo iminente, mas não havia tempo para hesitar. Aterrissamos com rapidez, e imediatamente bati contra a porta da frente, empurrando-a com força para nos lançarmos para dentro.
Caímos na sala de estar, a porta se fechando com um baque quando algo sinistro — um tentáculo de sombras — se ergueu do chão para nos atacar. Rolei no chão, puxando Puck comigo, evitando por pouco o golpe.
A sala estava mergulhada em penumbra, a luz fraca de uma lâmpada quebrada tremeluzia, mal iluminando o caos ao nosso redor. Móveis estavam virados, destroços espalhados por todos os cantos, sinais de uma luta desesperada. Levantei-me rapidamente, encarando o tentáculo sombrio, enquanto Puck assumia uma postura de combate ao meu lado. Foi então que ouvimos vozes e vimos Lea e seus seguidores emergindo das sombras.
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Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas
AdventureDentro de menos de vinte e quatro horas, Victor celebrará seu décimo sétimo aniversário e enfrentará uma escolha crucial. Apesar de tecnicamente já ter vivido dezessete anos, sua estadia prolongada em Nevernever o deixou apenas alguns dias mais velh...