Capítulo Dezesseis

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Victor Decker:

O céu acima de Nevernever estava pintado com uma tonalidade surreal, como se o próprio firmamento estivesse dividido entre duas forças opostas, presas em um conflito eterno. O crepúsculo parecia lutar para se manter, enquanto o dia e a noite travavam uma batalha silenciosa, como se o equilíbrio entre luz e trevas estivesse à beira de ser rompido. Nuvens negras se misturavam com filetes de ouro pálido, um contraste violento que só acentuava a tensão no ar. O vento uivava, cortante e gélido, carregando o cheiro metálico de sangue não derramado e o frio ameaçador de um inverno implacável, como se o próprio mundo estivesse segurando o fôlego, aguardando o impacto iminente da batalha.

Estava de pé, na linha de frente, sentindo o peso da responsabilidade e do medo apertando meu peito. Ao meu lado, cavaleiros e guerreiros de todas as cortes estavam perfilados, suas expressões endurecidas, mas com os olhos cheios de uma incerteza que tentavam mascarar. A nossa frente, as forças unidas das cortes Seelie, Unseelie, Ferro, e até mesmo os excêntricos habitantes do País das Maravilhas se estendiam em uma linha contínua, prontos para enfrentar o inimaginável. O brilho de espadas mágicas, lanças encantadas, e armaduras reluzentes iluminava o campo, um espetáculo quase surreal, como se estivéssemos prestes a encenar a última dança de um mundo à beira da ruína.

Puck estava ao meu lado, os olhos verdes cintilando com uma mistura de expectativa e cautela. Havia uma tensão entre nós, algo que sempre existiu, mas desta vez, não havia lugar para suas brincadeiras. O peso do momento sufocava qualquer tentativa de humor. Ele sabia, assim como eu, que o futuro de tudo dependia daquele instante. Caleb estava logo atrás, suas mãos envoltas em sombras que se agitavam como criaturas vivas, prontas para reivindicar seu antigo lar, o Reino das Sombras. As sombras pareciam chamá-lo, sussurrando promessas que só ele podia ouvir, mas ele não vacilaria. Não agora.

O horizonte à nossa frente começava a se distorcer, uma linha escura e pulsante se formando. As sombras não eram mais uma ameaça distante; elas estavam se movendo, como uma maré viva e implacável, avançando com uma intenção mortal, prontas para engolir tudo e todos que se colocassem em seu caminho. Eu podia sentir a presença sinistra crescendo, uma pressão invisível que tentava nos esmagar antes mesmo da batalha começar, um prenúncio da escuridão que viria.

No coração daquela escuridão, estava Conrad. Ele liderava seu exército de sombras, acreditando que o mundo lhe pertencia por direito. A oferta que ele me fez ainda ecoava na minha mente, uma sombra de dúvida que tentava se infiltrar em minhas decisões. Mas eu sabia que não havia mais espaço para hesitação. Ele havia escolhido seu caminho, e eu o meu. Não havia volta.

Meus dedos se apertaram ao redor do cabo da espada, sentindo a familiaridade do metal frio contra minha pele. O medo e a adrenalina corriam por minhas veias, fazendo meus sentidos latejarem com uma intensidade quase dolorosa. Ao meu redor, os guerreiros se preparavam, seus rostos endurecidos pela determinação, mas também marcados por uma ansiedade que, apesar dos esforços, não conseguiam esconder. Era uma quietude mortal, o silêncio antes da tempestade.

Oberon e Titânia estavam montados em cavalos imponentes à nossa direita, seus olhares frios e calculistas fixos no horizonte, como deuses antigos que observam o destino se desenrolar. Mab estava à esquerda, sua presença gélida fazia com que o ar ao redor dela parecesse congelar. Seus olhos eram poços de vazio, refletindo uma calma perturbadora, como se nada pudesse abalá-la. Meghan, a Rainha de Ferro, permanecia firme, os punhos cerrados com uma resolução feroz, enquanto observava a maré de sombras se aproximar. E a Rainha Branca, distante e sorridente, parecia encarar a guerra como mais um jogo em seu interminável tabuleiro, cada movimento calculado com precisão fria.

O vento parou de repente, e o mundo parecia congelar em um instante de pura expectativa. O campo de batalha ficou suspenso no tempo, um momento em que o destino de todos nós poderia ser mudado com um único movimento.

Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas Onde histórias criam vida. Descubra agora