Capítulo Dezoito

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Victor Decker:

Afundado na escuridão, sentia meu corpo sendo sugado para o vazio, o peso esmagador das sombras tornando cada segundo um esforço para manter a consciência. De repente, uma força puxou-me para cima, rompendo o véu da escuridão com uma explosão de ar frio. Emergi das sombras, tossindo enquanto tentava desesperadamente recuperar o fôlego. Meu peito subia e descia rapidamente, meus pulmões se enchendo de ar como se tivessem sido privados de vida por uma eternidade.

Olhei para o lado, ainda atordoado, e vi Morgana, cercada por alguns cavaleiros das sombras. Meus olhos então caíram sobre Pauline, seu semblante grave, e logo atrás dela, os outros que haviam escapado. O caos era visível em suas expressões, mas a sensação de alívio predominava.

Antes que eu pudesse processar completamente o que estava acontecendo, Mark se jogou em cima de mim, me abraçando com força. O impacto foi inesperado, mas, de alguma forma, reconfortante. Eu estava vivo.

— Que bom que está bem — ele murmurou com um tom de alívio, seus braços ainda firmes ao meu redor.

Respirei fundo, ainda tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

— O que aconteceu? Eu estava em NeverNever... a vermelha me afundo nas sombras — Minha voz soava hesitante, como se o que tinha acabado de presenciar fosse uma memória distorcida. Virei o rosto para Pauline, que trocou olhares com os outros antes de se ajoelhar ao meu lado, os olhos carregados com uma verdade que eu ainda não compreendia.

— NeverNever está se abrindo para o mundo mortal*— Pauline disse, e senti meu corpo congelar diante da revelação. — A Vermelha abriu os portais e agora tudo está desmoronando. Mas o pior de tudo... — Ela parou por um momento, sua voz trêmula com o peso das próximas palavras. — Está envenenando o nosso mundo também.

Minha mente mal conseguia processar. A Vermelha não havia apenas destruído o Reino das Sombras — ela estava envenenando tudo, conectando os mundos de uma maneira que poderia destruir ambos. Pauline então apontou para uma direção, e quando olhei, finalmente percebi onde estávamos.

Estávamos ao céu aberto, em uma rua movimentada, e ao redor, pessoas seguravam celulares, filmando algo no céu. Olhei para cima, e meu coração parou por um segundo. O Reino das Sombras estava visível. Uma enorme massa negra flutuava acima de nós, como uma sombra ameaçadora, lentamente se aproximando do mundo mortal, caindo em nossa direção.

— Conseguimos passar pelo portal a tempo — Morgana disse, sua voz calma, mas firme. Olhei para ela, e um turbilhão de emoções percorreu meu corpo. Morgana, minha tia biológica, uma figura que tinha sido uma inimiga por tanto tempo. Crescida no País das Maravilhas, antiga aliada da Vermelha, até que eu a destronasse. Agora, ela estava aqui, do meu lado.

— O que aconteceu naquele lugar?* — Blue perguntou, a voz dela cheia de uma curiosidade silenciosa, mas também de um medo que ela tentava esconder.

Meu corpo congelou. As memórias voltaram como um maremoto, cada cena gravada em minha mente como um pesadelo recorrente. Eu me lembrei dos feéricos lutando com tudo o que tinham, das espadas se chocando, do chão tremendo. Mas o que mais me abalou foi o lento desaparecimento de cada um deles. Os rostos dos guerreiros desvanecendo em poeira, Puck desaparecendo diante dos meus olhos, suas últimas palavras ecoando na minha mente.

— Eles desapareceram — sussurrei, minha voz fraca, quase inaudível. — Todos eles... começaram a desaparecer. — Minha garganta se apertou, e o peso de tudo o que havia perdido caiu sobre mim como uma montanha. — **Puck... ele... ele se foi.

O silêncio caiu sobre o grupo ao meu redor. Ninguém sabia o que dizer. O ar parecia pesado com o luto silencioso que todos compartilhavam, mesmo que a maioria deles não tivesse visto o que eu vi.

Anjo das sombras | Livro 4: O Rei Das Fadas Onde histórias criam vida. Descubra agora