Onde Jack Beauchamp é o novato gato e caladão que acaba de chegar no Bishop Union High School, e Nolan Urrea vira logo seu cadelinha. Mas Jack não é um cara de temperamento fácil, e tudo piora quando ele bate de frente com o valentão do colégio, Bai...
Quando piso na sala de aula, parece que carrego o mundo inteiro de culpa nas costas. Eu não queria nada disso. Não queria magoar ninguém. Eu só sinto que... Sei lá. Parece que nunca nada dá certo para mim.
O que o Jack pretende fazer com aquele vídeo? Meu Deus, isso está me perturbando desde ontem. Parece que todos já sabem o que o Bailey faz comigo quando ninguém está olhando. Parece que todo mundo está rindo de mim pelas costas. Eu nunca posso ser eu mesmo, sem ter medo. Estou sempre me escondendo. Sempre sendo protegido pelos outros. Eu estou com tanto, mas tanto medo. Se eu for expulso, os meus pais vão me matar.
— Oi, amigo — Anne diz, sentando ao meu lado na aula de biologia.
Anne Marielly é a minha melhor amiga. Eu me sinto tão envergonhado agora, me sinto tão mal por ela. Não quero que ela descubra o que eu fiz com o Bailey por aquele vídeo. Não quero. Ela é a única pessoa aqui que realmente gosta de mim. Eu sei disso. O Bailey só gosta de mandar em mim. Ele gosta do que eu faço ele parecer em público: um machão, um fodão. Ele não se importa de verdade comigo.
A propósito, onde está o Bailey agora? Não o vi nem aos meninos ainda.
— Oi — eu respondo, murchando na cadeira.
— Vai, me conta — Anne sorri, me olhando. — Você não tá legal hoje, né?
Eu tento não olhar direto nos olhos dela. Me sinto tão culpado e envergonhado que simplesmente não consigo olhá-la. Para mim, parece que ela já sabe que eu a traí.
— Foi porque o Jack te empurrou na arquibancada? — Ela ri. — Você sabe que ele estava brincando, né?
Sim, eu sei. Mas por causa daquela brincadeira do Jack, o Bailey quase me bateu no banheiro. O meu pescoço ainda dói onde ele me enforcou. Tive que usar moletom em casa para os meus pais não verem que eu estava todo roxo e me encherem de perguntas.
— Não é nada — digo, tentando matar o assunto ali.
— OK — ela se endireita na cadeira e abre o estojo de canetas. — Mas se quiser conversar, sabe que tô sempre aqui, amigo.
A aula começa e eu não consigo me concentrar por um só segundo sequer no que o professor diz. Só penso naquele vídeo. Só penso no Jack olhando para mim ajoelhado sobre o Bailey e rindo. Eu me senti tão humilhado. Por que essas coisas só acontecem comigo? Por que as coisas simplesmente não dão certo para mim uma vez que seja? O que o Jack pretende fazer com aquele vídeo? Se os meus pais souberem disso, nem sei o que são capazes de fazer comigo.
Então, lembro do Nolan. Será que o Nolan poderia me ajudar? Ele parece próximo do Jack. Será que ele poderia pedir para o Jack excluir aquele vídeo? Ele parece um cara bonzinho, acho que ele me escutaria. Já o Jack, duvido muito. Ele é inimigo do Bailey, ele não vai me ouvir nem que eu ajoelhe e implore...
Eu tenho tanto medo. Eu estou esgotado. Tenho vontade de chorar. Tenho vontade de sumir. De gritar até os pulmões explodirem. Não sei o que faço mais. Simplesmente não sei.
Finalmente consigo olhar para Anne, ao meu lado. Ela está focada na aula, copiando anotações no seu caderno. Eu me sinto um lixo olhando para ela. Como deixei isso chegar nesse ponto? A Anne é namorada do Bailey e minha melhor amiga. Como pude trair ela tão traiçoeiramente assim? Como fui capaz?
Volto a encarar o meu próprio reflexo na tela apagada do meu celular. A verdade é que eu não tenho coragem de simplesmente ser quem eu sou. Eu preciso sempre fingir que sou melhor. Eu preciso fingir que sou hétero e que nada me abala. Eu preciso fingir que sou intocável. Estou sempre fingindo alguma coisa para esconder quem eu sou de verdade. Mas por quê? Do que isso adianta agora para mim? Bastou um cara com um celular filmando na mão para me provar que eu não passo de uma grande farsa.
Eu estou cansado de ter que fingir ser quem eu não sou e sinto que, da pior forma, isso está prestes a acabar.
Quando a aula de biologia finalmente termina, eu pego a minha mochila e sigo para a aula de ginástica. A minha cabeça está tão pesada que quase dói. Não sei como vou conseguir correr e treinar desse jeito. Simplesmente não sei.
Finalmente encontro o Crystian, o Lamar, o Bailey e todos os outros no campo. Ele, o Bailey, me recebe sorrindo e brincando como se nada tivesse acontecido. Como se o vídeo do Jack não o perturbasse nem um pouco.
Às vezes, a frieza dele me arrepia.
Eu também tento parecer normal e sorrir para todos. Sei que não estou no clima e sei que não sou tão cínico quanto o Bailey, mas sinto que se eu não fingir que estou bem, eu posso me encrencar com ele.
Logo depois, vejo o Jack chegar. Dessa vez, Nolan não está com ele. Eu não sei porque, mas sinto que esse vai ser um treino pesado.
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