Capítulo Vinte e Três - Cratera

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Steve me levou no colo até o sofá do trailer de Eddie quando finalmente conseguimos passar pelo portal. Estiquei minha perna em cima de uma cadeira e Nancy veio analisar o meu tornozelo.

– Definitivamente quebrado – disse ela.

– Ótimo – ironizei, sem me importar com nada.

– Eu posso fazer uma tala, vou procurar as coisas. – Ela saiu em disparada pelo trailer.

Robin sentou ao meu lado e segurou a minha mão. Eu sabia que ela era péssima com situações assim. Depois de Billy, toda vez que ia me visitar ficava sentada por minutos a fio em silêncio sem saber o que dizer, e só então soltava algumas piadas totalmente sem noção. Apesar disso, eu era grata por ter ela ali. Eu iria precisar da sua amizade mais do que nunca.

Steve se sentou no meu outro lado e me abraçou.

– Eu só quero sair logo daqui – falei, olhando em volta do trailer, depois de uma hora ali olhando para o nada, aceitando o fato de que Eddie tinha partido e pensando em todos os planos que Eddie tinha comigo.

– Nós vamos sair o mais rápido que der, mas você precisa enfaixar esse pé.

Concordei com a cabeça. Nancy não demorou a voltar com um pedaço de madeira, panos grandes e um pouco de cachaça.

– Você vai precisar disso – disse ela, me dando a garrafa. – Beba.

Virei boa parte do liquido que desceu queimando em meu esôfago enquanto Nancy se sentava próximo ao meu pé. Segurei a mão de Steve.

– Pronta? – perguntou ela. Confirmei com a cabeça.

Mais rápido do que eu esperava, Nancy torceu meu pé para o lado e colocou a tala embaixo. Apertei a mão de Steve enquanto gritava de dor.

Ela foi muito rápida ao enfaixar, mas quando terminou, eu suava de dor. Mesmo sendo insuportável, a dor não foi menor do que a que eu sentia em meu peito.

– Isso deve segurar até te levarmos ao hospital.

Concordei com a cabeça e Steve me ajudou a ficar em pé.

– Pronta para ir?

Neguei com a cabeça.

– Eu preciso fazer uma coisa antes. E eu preciso da sua ajuda.

– Claro – concordou Steve, sem hesitar.

Me apoiei em seu ombro e andei até o quarto de Eddie. Acendi a luz e as lágrimas voltaram a rolar com força.

Encarei a guitarra, pendurada no mesmo lugar que no Mundo Invertido. Passei a mão pelas cortar, imaginando quantas pessoas ele deixaria tocar nela. A tirei do seu apoio, ela iria comigo.

– Tem certeza? – perguntou Steve, preocupado.

– Tenho. – Soltei de seu braço e pulei até a mesa de Eddie.

Passei a mão suavemente pela sua colônia, a levando até meu nariz. A coloquei dentro da minha mochila. Passei todas as fotos que ele tinha ao redor de seu espelho, pelas peças de Dungeons e Dragons espalhadas por todos os lugares. Manquei até seu armário e peguei uma de suas camisetas. A vesti por cima da antiga e senti seu cheiro. Sentei em sua cama e imaginei-o ali, ao meu lado, tocando sua guitarra enquanto eu o admirava.

Olhei para o lado de sua cama e ali estava sua lancheira. Dei risada. Abri a tampa de metal e tirei de dentro dois pacotinhos cheios de uma erva verde com cheiro doce.

– Você sempre se apaixona pelos caras errados – zombou Steve, se sentando ao meu lado, e eu dei risada.

– E eles sempre acabam morrendo, então eu sempre acabo me livrando disso.

My queen of HellfireOnde histórias criam vida. Descubra agora