Ou eu ou ele.

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P.O.V Marisa
- Eu estava atônita. Minhas mãos suavam e meu coração estava gelado e acelerado. Durante todo o caminho até em casa, permaneci em silêncio, já Evandro, agia como se nada tivesse acontecido. Ele estaciona na garagem e eu quase dou um pulo pra fora deixando ele pra trás.

Evandro: Amor, me espera! - ele pede quase numa súplica, mas eu não dou atenção.

- Ja dentro de casa eu me tranco no banheiro e ouço Beethoven tocando do lado de fora e um cheiro maravilhoso de comida. Tomo um banho demorado enquanto penso sobre tudo o que havia acontecido durante o dia e sobre a conversa que eu e Miguel tivemos. Saio do banheiro e vejo Evandro ajeitando as almofadas no chão da sala e uma garrafa de vinho na mesa de centro.

Evandro: Vem, vai esfriar. - ele se senta e serve as duas taças.
Marisa: Não tô com fome. - digo seca e sigo pro quarto. Ele vem atrás
Evandro: Ei ei ei! - ele me abraça por trás e eu sinto sua excitação. - o que tá acontecendo?
Marisa: O que tá acontecendo? - me afasto dele  indignada.- É sério Evandro?
Evandro: Aí amor, não vamos brigar hoje. - ele se aproxima mas eu o paro com a mão.
Marisa: Para, presta atenção e me escuta! - digo mais alto e ele se afasta.
Evandro: Tá bom, Tô ouvindo. O que aconteceu?
Marisa: O que aconteceu é que aquela cena patética e ridícula com o Miguel no teatro, quase me custou meu trabalho.
Evandro: Pelo menos assim você não ia ficar se esfregando o dia inteiro com aquele otário. - Ele tinha a cara fechada e o rosto vermelho.
Marisa: É sério? Eu falando que quase perdi meu emprego por algo que eu nem fiz, e você tá pensando que eu tô lá pra ficar me esfregando no Miguel? - a minha vontade era sumir dali. Eu não o reconhecia.
Evandro: Ué, quer que eu fale o quê Marisa? Eu ein. Você é ótima no que faz, tenho certeza de que arrumava outra coisa muito em breve. Eu se fosse você saía mesmo.
Marisa: Aí e que tá, meu amor. Esse é o projeto da minha vida, eu não vou abrir mão e se houver 1% de chance de eu permanecer, eu não vou abrir mão.
Evandro: É o projeto da sua vida ou porque o Miguel Falabella está lá também? - seu tom se tornou irônico ao mencionar o nome dele
Marisa: Não tem NADA a ver com Miguel, tem haver com a minha carreira. Entende isso pelo amor de Deus!
Evandro: Então a escolha é sua: Ou eu e nossa vida maravilhosa juntos, ou o programa com o Falabella.
Marisa: Aí meu Deus. - eu coçava a testa sem acreditar no que ele havia acabado de dizer.- Você só pode estar brincando com minha cara.
Evandro: Escolhe Marisa, vamos! Tá na sua mão.
Marisa: Eu juro que eu tentei. - digo mais calma.- Entre todas as opções, eu escolho minha carreira. - digo e saio do quarto seguindo pro closet

- Minha cabeça estava com um turbilhão de pensamentos e eu só conseguia chorar. Nunca imaginei que meu casamento acabaria, pelo menos não dessa forma! Ter que escolher entre meu futuro é um casamento? Eu amava Evandro, nossa vida era linda dentro da realidade que vivíamos mas ultimamente ele havia se tornado outra pessoa. Esse ciúme, essa obsessão pelo Miguel se tornou um câncer entre nós! Eu precisava esfriar a cabeça antes de qualquer outra coisa. Coloco algumas roupas na mala e passo por ele saindo do apartamento. Desço até a garagem, entro no meu carro e fico lá por alguns minutos. Era tudo muito recente ainda e estava difícil assimilar tudo assim tão rápido. Iria pra um hotel mas todos estavam muito cheios e poderiam atrair holofotes pra mim, já que eu estava tendo um certo reconhecimento na mídia.

P.O.V Miguel

- Estava sentado na sala assistindo um filme qualquer na televisão quando ouço a campainha tocar me assustando. Abro e ao ver Marisa com duas malas e com os olhos inchados de chorar meu mundo desaba e sinto uma fúria me invadir. Eu nada digo, apenas a puxo pra um abraço onde ela desaba sem hesitar.

Miguel: Calma, calma! - eu dizia enquanto sentia meu ombro molhar com as lágrimas dela. - vem cá, senta! - ela entra e eu pego as malas dela e checo pra ver se algum vizinho havia visto. Vou na cozinha, pego um copo d'água e me abaixo de frente pra ela. - o que aconteceu? - eu digo calmo
Marisa: O E-vandro - ela soluçava
Miguel: Ele te bateu, Marisa? - levanto o rosto dela procurando por alguma coisa mínima que seja
Marisa: Não, tá maluco? - ela dizia enquanto tentava conter o choro. Ela me conta os detalhes e eu ouço tudo atentamente. - E como eu não tinha pra onde ir, aceitei seu convite e vim pra cá. Mas se incomodar eu vou pra outro lugar, não tem problema!
Miguel: Não, você não incomoda! A casa é sua, fique aqui o tempo que precisar e o quanto quiser! - digo e seco uma lágrima que caiu.
Marisa: Porque tá fazendo isso tudo por mim?
Miguel: Eu também não sei como te responder isso com certeza. Só não quero que alguém tão linda e tão talentosa como você seja desvalorizada.
Marisa: Obrigada! - ela me puxa pra um abraço demorado e eu retribuo.

- O cheiro que vinha dos cabelos dela era um dos aromas mais marcantes que eu já senti. Vê-la ali tão frágil e machucada fazia meu coração doer. Eu não sei por qual motivo, mas eu odiava ver ela assim.

Miguel: Já jantou? - nos afastamos e ela sorri.
Marisa: Não! Evandro tentou um jantar romântico mas a fome até sumiu.

- Me levanto, vou pra cozinha e abro a geladeira

Marisa: O que tá fazendo? - ela vem e para na parede que separava a sala da cozinha
Miguel: Vou preparar alguma coisa pra você comer, não posso deixar minha convidada de honra com fome. Do que você gosta? Tem massa, carboidratos, sopa, japonês...
Marisa: Acho que um japonês cairia bem!
Miguel: Então me espera aqui que eu vou buscar. - volto pra sala e pego um casaco e as chaves do carro. - fica a vontade pra conhecer o apartamento eu já volto.

P.O.V Marisa

- Miguel havia me recepcionado da forma mais confortável possível. Enquanto ele foi comprar a comida, eu aproveitei pra explorar o apartamento enorme que ele morava. Cada cômodo tinha o perfume dele e era extremamente organizado. Estranho, vindo de um homem tão atrapalhado quanto Miguel. Quer dizer, pelo menos em cena ele era bem atrapalhado. No escritório, haviam quadros de todos os trabalhos que ele havia feito e, em um destes quadros, o pôster de "algemas do ódio". Nosso primeiro trabalho juntos. Eu estou distraída olhando a estante de livros e não ouço ele chegando e me assusto quando noto sua presença

Miguel: Desculpa! - ele se aproxima ao meu lado e parecia tímido com as mãos nos bolsos da calça
Marisa: Já leu todos?
Miguel: Já. Alguns mais de uma vez e lá no quarto tem alguns pra terminar de ler.
Marisa: Uau! - eu estava encantada, pois eram muitos livros.
Miguel: Se quiser ler algum, fica a vontade. Já conheceu seu quarto?
Marisa: Não, fiquei presa nesse monte de livros e quadros.
Miguel: Tem um nosso ó -aponta pro quadro de algemas do ódio.
Marisa: Eu vi! Meu Deus, quanta coisa aconteceu depois, né? - cruzo os braços e olho pra ele..
Miguel: Pois é! Se alguém me contasse o que acontecia depois, eu não acreditava. - ele sorri e eu retribuo. - vem, vou te mostrar seu quarto e depois a gente come.

- eu concordo e o sigo até o quarto e no caminho passamos pela porta do quarto dele que estava entreaberta e tinha o cheiro forte do perfume dele.

Miguel: Bem vinda, senhorita! - ele abre a porta do até então meu quarto, e da sinal de reverência arrancando risadas baixas de mim
Marisa: Muito obrigada, você é muito gentil.
Miguel: Muito obrigado. - ele entra e nós observamos o lugar. Uma cama enorme, um banheiro privativo, um guarda roupas grande, roupas de cama todas trocadas... Estava simplesmente limpo e organizado.- Se quiser mudar alguma coisa, já sabe.
Marisa: "Fica a vontade" - digo primeiro o imitando.
Miguel: É isso. - ele ri.
Marisa: Assim tá ótimo, Miguel. Muito obrigada mesmo! - sorrio de canto. - Vamos comer? Eu tô faminta!
Miguel: Senhorita. - ele da passagem e eu passo na frente.

-Chego na sala e já está tudo pronto. O vinho, a comida, e pra minha surpresa, algemas do ódio na TV

Marisa: Onde você conseguiu essa gravação? - me sento no chão ao lado dele.
Miguel: Dei um jeitinho. Sempre quis assistir, mas sem companhia fica sem graça.

- Assistimos a gravação e eu ficava admirada a cada cena. A minha evolução a nível de atriz, era visível.
Eu estava tão calma mas ao mesmo tempo tão apreensiva com o próximo dia e o próximo e depois... Conversamos até bem tarde da noite, assistimos algumas coisas a Tv e acabamos por adormecer ali, juntos, no sofá.

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