Ciúme doentio

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P.O.V MIGUEL
- O dia da gravação havia chegado e eu estava decidido a bloquear qualquer outra coisa e deixar espaço apenas pro profissionalismo. Mas justamente hoje, Evandro tinha vindo com Marisa e sentou- se bem na primeira fila, frente à nossa marcação de palco. O episódio correu bem, eu tentava ignorar a presença de Evandro que me fitava a cada movimento. Enfim chega a cena do beijão entre os dois personagens e eu sinto minhas mãos suarem. Marisa estava tranquila, me dando permissão com os olhos.

P.O.V MARISA

- Evandro soube da cena do beijo e isso me rendeu uma baita DR por ciúmes a caminho do teatro. Meu Deus, qual a dificuldade de aceitar meu trabalho? Afinal, meu trabalho veio antes dele. No fundo eu sei do que se trata, só não quero aceitar. Me concentro nas falas e em realizar o trabalho com maestria, assim como nos ensaios. Antes de entrar em cena, checo pela coxia e vejo Evandro sentado bem à frente de onde seria a cena chave do casal essa noite. Entro em cena e o ignoro completamente. Cena vai, cena vem e chega a hora. Percebo Miguel nervoso e tento tranquiliza- lo e graças a Deus ele logo entende. A gente se encontra no meio do palco e a cena acontece sendo aplaudida por todos ali presentes na plateia enquanto a cortina se fecha. Quando ela abre novamente para agradecermos, percebo que Evandro continuava sentado de braços cruzados, me olhando bem nos olhos.
Seguimos pro camarim, onde comentamos sobre alguns momentos.

P.O.V MIGUEL

A cena tinha sido perfeita! Deixei todo meu nervosismo de lado, e dei espaço apenas para o profissional. Antes das cortinas serem fechadas, percebo o público aplaudindo e me tranquilizo.
Seguimos pro camarim  felizes com o resultado e interação e logo depois os figurinistas chamam cada um pro seu próprio camarim pra nos despirmos de nossos personagens. Terminado de voltar a mim, vou em direção à saída quando ouço vozes altas no camarim de Marisa.

Marisa: Qual é o seu problema?
Evandro: Eu sou o problema? Você fica se esfregando nesse cara desde o primeiro dia  e eu sou o problema?
Marisa: É o meu trabalho, meu querido. - havia uma certa ironia no tom de voz dela

- A discussão continuava e quando eu estava pra seguir meu caminho, Evandro abre a porta dando de cara comigo

Evandro: Ah seu... - Ele vem em minha direção e me atinge o rosto.
Miguel: Qual foi, tá me estranhando? - eu penso em revidar mas o olhar de Marisa sobre nós me fez pensar. Eu apenas me aproximo de Evandro enquanto meu nariz sangra. - você tem dois minutos pra sair daqui senão eu te pego.

- Ele sai e Marisa vem até mim

Marisa: Miguel, você tá bem? - ela tentava limpar meu nariz com as mãos mas só borrava ainda mais.
Miguel: Eu vou ficar legal. - esquivo a cabeça e evito contato visual.

P.OV MARISA

- Eu me sentia envergonhada e ao mesmo tempo com raiva pela atitude de Evandro. Havia sido a gota d'água. Miguel não me olhava nos olhos e isso me incomodou

Marisa: Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?
Miguel: Não, Marisa. - ele parecia triste.- eu vou pra casa, vou fazer uma compressa sei lá! Qualquer coisa. Boa noite - ele diz e se vira.

- Eu não consegui dizer nada. Só o vi sumir pela curva do corredor e senti uma raiva ímpar dentro de mim.

Aracy: Marisa meu amor, tá tudo bem? Evandro te bateu? - ela veio até mim e seu tom de voz era de preocupada
Marisa: Não Aracy. - digo séria.- Evandro não é violento assim, não sei o que aconteceu. - passo a mão na cabeça mostrando meu nervosismo
Aracy: O que quer fazer? - ela parecia mais calma
Marisa: Só quero ir pra casa e esquecer isso tudo por hoje. - sorrio

P.O.V Miguel

- Eu saio do teatro e pra minha surpresa, Evandro estava  do lado de fora e ao me ver, veio pra cima de mim. Eu estava com tanta raiva que apenas joguei minha bolsa no chão e me entreguei ao sentimento. Trocamos alguns socos e eu só me lembro de Tom me puxando pra trás.

Tom: Mete o pé daqui mermão. - Ele gritava com Evandro
Evandro: Senão o que?
Tom: Senão você vai ter que lidar com dois. Se achar que da conta, cai dentro.

- Evandro nada diz. Apenas se vira resmungando e vai embora.

Tom: Vem, Vambora.
Miguel: Me deixa, Tom. Eu vou pra casa
Tom: Casa nada. Vamos pro hospital olhar esse rosto antes que inche e piore.

- Mesmo relutante, eu cedo e seguimos pro hospital. O atendimento foi rápido e logo depois que saímos de lá, Tom me deixou em casa

Tom: Tá legal?
Miguel: Tô sim. Espero que amanhã esteja melhor. Tem notícias da Marisa?
Tom: Não. To torcendo pra que ela acorde, esse cara não é flor que se cheire.

- Eu subo pra casa e nem tenho forças pro banho. Apenas me jogo contra o colchão e adormeço.

No dia seguinte sou acordado com o barulho incessante da campainha.

Miguel: Já vai, já vai! - digo ainda sonolento e sem paciência. Era Daniel que já foi entrando. - Ah, é você.
Daniel: Achou que era quem? - ele parecia bravo
Miguel: Bom dia pra você também, Daniel.
Daniel: O que aconteceu ontem? - ele nos serve com uma dose de whiskey e se senta no sofá
Miguel: Você sabe o que aconteceu, se polpa o trabalho. - viro a dose inteira de uma só vez.
Daniel: A Marisa tá mal, sabia?
Miguel: E não é pra estar? - debocho.- E ela tá bem?
Daniel: Tá, tá sim. Quer dizer, eu acho que tá né.
Miguel: Acha que tá? Como assim?
Daniel: Ela está na casa da Aracy, devem estar bem.  Mas você não pode agredir as pessoas assim Miguel. - ele muda o tom de voz, parecia nervoso.
Miguel: Eu devia é processar ele! Eu estava trabalhando, pombas!
Daniel: Não vai processar ninguém! Não vai trazer os holofotes pra isso, já basta o furdúncio no teatro e das pessoas que viram a cena patética do lado de fora
Miguel: Você veio na minha casa me ofender ou o que?
Daniel: Te lembrar do ensaio. Aconteceu tudo tão rápido ontem e você não atendia o telefone.
Miguel: Eu não vou, não tenho condições com a cara desse jeito
Daniel: Bom, você que sabe. Minha parte eu fiz.

- Daniel vai embora  e eu fico sozinho novamente.

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