O que nós somos?

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P.O.V Miguel

- Acordo com o som insuportável do interfone. Olho no relógio e ainda marcava 6:30h da manhã.

Miguel: Porra, não se pode nem dormir em paz! - resmungo e me levanto com certa dificuldade devido ao sono. - Alô. - atendo o interfone.- Bom dia meu querido. - digo sem paciência.- Tá, já que falou que eu estava em casa, pode liberar. Obrigado. - desligo e vou pra cozinha, estava faminto!

- Não demora muito e a campainha toca.

Miguel: Tá aberta.

- Como esperado, Cecília entra batendo o pé e a porta, o que me deixou com o humor duvidoso.

Miguel: Bom dia. - estendo o copo de suco, ironicamente.
Cecília: Bom dia? Bom dia Miguel? - ela estava indignada. Seu rosto branco estava vermelho assim como os cabelos.

- Eu a encaro sem semblante esperando algo a mais mas desisto de esperar pois a paciência matinal não era meu forte.

Miguel: Tá nervosa porque?
Cecília: Você é muito cara de pau mesmo né? - ela cruza os braços e vem na minha direção. Tira o copo das minhas mãos e me encara nos olhos. - Porque você cancelou o jantar ontem?
Miguel: Eu passei mal, te falei! - desvio o olhar discretamente.
Cecília: Mentira! Você tava com alguma vagabunda por aí?

- Eu queria explodir naquela hora, mas permaneço pleno por fora.

Miguel: Que vagabunda, Cecília. - me afasto dela e vou pra sala abrir as cortinas pra disfarçar o desconforto diante das falas dela.
Cecília: Vagabunda sim! - ela quase grita.
Miguel: Já viu que horas são? Se eu tomar uma multa de condomínio, você vai pagar. E outra, eu estava em casa morrendo de dor de cabeça quer você acredite quer não.
Cecília: É ela, não é? - sua voz era embargada.
Miguel: Se você não vai ao menos dizer um nome fica difícil né? Quer ter uma conversa com enigmas, porra.

- Eu andava pela casa pra não gerar uma briga maior, mas ela insistia em vir atrás de mim com gritos e insultos a alguém que só existia na cabeça dela.

Miguel: Você tá se ouvindo, Cecília? - cruzo os braços a encarando.- Tá vendo a incoerência do que você tá dizendo?
Cecília: Não e incoerência, Miguel! Você fica se arrastando atrás dela igual um cachorro e ela caga pra você! Você tá fazendo comigo o mesmo que ela faz com você e não se finja de sonso porque você sabe exatamente o nome dela.
Miguel: Aí meu Deus! - passo a mão na cabeça e respiro fundo. - Olha, vamos acabar com isso de uma vez?
Cecília: Acabar? Tá maluco?
Miguel: Não, numa boa! Você veio na minha casa antes de eu ao menos ter a chance de acordar, bateu minha porta, tá fazendo escândalo, me insultou de nomes que eu nem sei o que significam, insultou uma terceira pessoa que eu não sei quem é... Eu já passei da idade, gatinha! Tô velho pra essas coisas. - digo com calma.- É melhor acabar com isso de uma vez porque você tá surtando sem motivo. Imagina se tiver um?
Cecília: Se tiver um porque? Você pretende me dar motivos?
Miguel: Tá vendo com você distorce tudo? Isso nunca vai dar certo. É melhor você ir porque eu tenho que trabalhar, tá bom? - a acompanho até a porta
Cecília: Mas... - faz voz de pidona.- Mas eu te amo Miguelzinho! - já do lado de fora.
Miguel: Não Cecília, você não me ama. Isso é um jeito muito estranho de demonstrar amor à alguém. Passar bem, viu! - dou um último sorriso e fecho a porta.
Cecília: Eu vou fazer da sua vida um inferno, tá me ouvindo! - grita mas eu ignoro.

- Abro a geladeira rindo da situação idiota que tinha acabado de protagonizar e pego uma cerveja. Sigo pra varanda e observo Cecília dirigir como uma louca e me arrependo de ter deixado chegar a este ponto. Eu sabia que ela era apenas um passatempo mas ela não merecia isso.
"Você fica se arrastando atrás dela igual um cachorro e ela caga pra você!" As palavras dela martelavam na minha cabeça. E se ela estivesse certa? E se eu tô me iludindo com a Marisa da mesma forma que Cecília se iludiu comigo? Ainda era cedo, Marisa não tinha acordado pela hora que eu saí da casa dela. Troco de roupa e sigo pra lá.

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