Esclarecerimentos

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P.O.V Marisa

- Eu estava animada por estar em um novo projeto e por rever Miguel depois de tantos anos. Tá, a gente se via as vezes em eventos? A gente se via as vezes em eventos, mas era sempre coisa rápida, as vezes só um cumprimentos de mãos na entrada e nos perdíamos novamente. E era incrível como a mídia inteira se voltou a nós e surgiu uma galera que shippava embora eu ainda não tenha certeza de saber o que isso significa.

P.O.V Miguel

- Especulações e mais especulações sobre Marisa e Eu. E como eu desejava que aquilo tudo fosse verdade... Surgiram os primeiros fã clubes pro "casal" e na internet não se falava outra coisa senão nós dois e, pra piorar, resolveram nos chamar de "Miguerisa". É um nome fofo, embora estranho! Mas me orgulho por ter um fã clube repleto de pessoas tão criativas quanto essas crianças.
O ano era 2008 e nós já havíamos desmentido qualquer teoria que surgisse a respeito de nós mas a juventude sempre está anos luz à frente e é preciso pensar muito no que vai dizer pra não deixar entrelinhas. Marisa e eu seguimos só como amigos, embora era evidente que o sentimento estava em algum lugar lá dentro gritando pra sair. Mas tudo foi frustrado novamente quando ela assumiu um novo romance com um careca baixinho e eu me senti como aquela planta que a avó esquece no fundo do quintal e ela vai murchando aos poucos, sabe? Por respeito a ela e pra evitar mais comentários sobre nós, eu me afastei um pouco. Certa vez eu estava no camarim preparando pra ir pra casa quando ela chegou e me deu um abraço por trás.

Miguel: Que susto criatura! - olho pelo espelho com os olhos arregalados e a vejo rindo.
Marisa: Desculpa Mig! Vim ver se você tá bem. - ela se afasta e apoia na bancada de frente pra mim.
Miguel: Eu tô e você? - tiro a bolsa dos ombros e volto a atenção pra ela.
Marisa: Eu tô também.
Miguel: Que bom! - sorrio simpático e nossos olhos se encontram no meio do silêncio seguinte.
Marisa: Porque você tá distante? - cruza os braços e quebra o silêncio, mais ainda com os olhos fixados aos meus.
Miguel: Não tô distante, tô cansado. - desvio o olhar.
Marisa: Você desvia o olhar quando mente. - seu semblante agora era sério.
Miguel: Me conhece tão bem. - brinco quebrando o peso.
Marisa: Tô falando sério! O que aconteceu?
Miguel: Nada demais, meu bem. Você tá namorando de novo, tem mil coisas na internet que envolve nós dois, tem até fã clube! Não quero te causar problemas.

P.O.V Marisa

- Ele é inacreditável! Eu senti vontade de rir porque era um motivo absurdo pra ele se afastar.

Miguel: Tá rindo de quê, ô palhaça? - ele fecha o cenho, me da um tapa no braço e eu não consegui me controlar soltando uma gargalhada alta
Marisa: Você é ridículo, Miguel! Se afastar por causa do D..
Miguel: Do careca baixinho? Lógico, ele tem a cara ruim. - revira os olhos
Marisa: Ele não é tão baixinho assim, vai!
Miguel: É sim, e ele não combina nada com você. - ele me encarava e eu podia notar sua pele ficando avermelhada
Marisa: Tá com ciúme, bebê? - cruzo os braços e me aproximo dele
Miguel: Com inveja também. - me acompanha com os olhos
Marisa: Tivemos várias oportunidades de ser diferente, né? - nossos corpos estavam próximos
Miguel: Eu tô vendo uma nesse exato momento. - sua mão me cerca pela cintura.
Marisa: Dia triste pra você então. - dou um selinho rápido nele e me afasto.
Miguel: Porra, Marisa! - esbraveja e eu saio do camarim antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

P.O.V Miguel

- Fico parado mais um tempo no camarim tentando assimilar o que tinha acontecido ali antes de ir pra casa. Ela sabia onde mexia e sabia que mexia comigo. Ela estava feliz. O brilho nos olhos havia voltado e eu tenho que admitir que mesmo odiando o fato daquele cara estar com ela, ele a fazia bem e a tratava bem, o que pra mim era mais que a obrigação dele mas isso já é outra história.
Como esperado toma lá dá cá havia sido mais um sucesso nessa temporada que chegou ao fim. A parte ruim, é que eu e Marisa não nos veríamos com tanta frequência nem passaríamos o dia inteiro juntos, mesmo nossa relação estando só em âmbito profissional. A parte boa é que os autores já estavam planejando outra temporada e nos veríamos em breve. Certa feita estou no escritório focado em terminar mais um capítulo do livro que em breve seria publicado, e assim como qualquer outro escritor eu estava no que chamamos de "bloqueio literário". Por mais que soubesse sobre o quê falaria, não sabia por onde começar nem como organizar as palavras. Vencido por esse tal bloqueio, desligo o computador e sigo pro quarto onde a tevê ligada e uma garrafa de vinho seriam minha companhia nessa noite chuvosa de SP.

P.O.V Marisa

- Enfim, férias! Eu amo meu trabalho mas nada supera o fato de poder esvaziar a mente e tirar a bagagem do personagem. Hoje ia ao ar um dos episódios gravados e eu estava animada pra assistir, embora não fizesse isso com frequência.

João: Quer companhia? - se joga no sofá ao meu lado com uma tijela de pipocas. - tá vendo o quê?
Marisa: Um episódio de toma lá da cá. - me ajeito no sofá e focamos na televisão.

- Embora estivéssemos em silêncio, estávamos tendo um momento de mãe e filho, o que as vezes era quase impossível com a rotina dos dias. Alguns minutos depois Dalua chega e também se junta a nós. Demos bastante risadas e nos curtimos bastante. Vencidos pelo cansaço, encerramos o dia por ali. Subo pro quarto e vou pro banho, e, quando volto, Dalua lê seu livro de todas as noites.

Dalua: Amor, posso te fazer uma pergunta? - deixa o livro de lado e eu sinto seus olhos sobre mim.
Marisa: Pode, amor. O quê foi? - pego um pouco de hidratante e espalho pelos meus braços com os olhos atentos a ele.
Dalua: Qual é a tua com o Miguel? - sinto meu coração acelerar e desvio o olhar de volta pro que estava fazendo.
Marisa: Somos amigos, por quê? - respondo calma, escondendo qualquer nervosismo que existisse naquele momento.
Dalua: Tantas coisas na internet sobre vocês, só por serem amigos? - ele cruza os braços desconfiado.
Marisa: Pois é, eu queria saber de onde as pessoas tiram essas coisas. - me deito ao lado dele e ele ainda me olhava com reprovação. - Mais alguma pergunta?
Dalua: Já aconteceu alguma coisa entre vocês dois? - ele me olha dentro dos olhos e eu sinto os mesmos lacrimejarem.
Marisa: Se você fala além do que é mostrado nas telas a resposta é não, meu amor. - minto sem olhar nos olhos dele
Dalua: Engraçado, tava conversando com João esses dias e ele me disse de uma vez que tua mãe chegou em casa e vocês dois estavam sozinhos e chorando ou alguma coisa assim.

- Por um momento eu revivo a sensação que tive no dia citado.

Marisa: João era criança, Miguel esteve na minha vida desde sempre, é como irmão pra mim. - acaricio seu rosto.- esquece isso.
Dalua: Mas o quê aconteceu àquele dia?
Marisa: Miguel precisava conversar com alguém e me procurou ué, amigos são pra isso.
Dalua: Mas porque você tava chorando?
Marisa: Ai Dalua, que saco! - perco a paciência e me levanto.- eu não sei porque tava chorando, não sei porque esse assunto surgiu agora, não sei ok? Não sei. E já faz muito tempo isso.
Dalua: Tá bom, amor. Não tá mais aqui quem falou, eu ein. - fecha a cara e se deita de costas pra mim.

- Eu me ajeito na cama e minha mente é tomada por pensamentos aleatórios enquanto a chuva caía lá fora. Mesmo longe Miguel sempre estava tão perto... Entre tantas coisas que João podia se lembrar, se lembrou logo daquele dia? Mas não culpo ele. Ele era uma criança e eu nem sabia que ele se lembrava disso! Àquele dia foi um dos piores dias da minha vida. Tive que aceitar que Miguel e eu seríamos só amigos dali pra frente e a sensação foi de uma facada no peito porque eu nunca quis ser só amiga dele depois de ter provado o amor que tínhamos pelo outro. Não que a gente tenha deixado de se amar, mas agora é realmente amizade e eu me contento com isso porque é melhor do que não ter ele na minha vida de jeito nenhum. Eu me sentia mal por ter mentido pro Dalua mas foi preciso. Às vezes pra um relacionamento dar certo (e queríamos que desse certo), é preciso guardar alguns segredos pra conservar a sanidade mental do casal. Entre um pensamento e outro, ou melhor, entre pensar em Dalua e Miguel, adormeço.

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