Além das telas

Agora é a hora que...

P.O.V Miguel

- Uma semana havia se passado e eu não tinha conversado com ela ainda. Minha cabeça ainda estava quente, mas não como aquela noite. Eu me perguntava o que era o certo a de fazer, afinal de contas essas coisas não acontecem com frequência na vida de um indivíduo. Mesmo o filho não sendo meu, eu não queria que ele ou ela crescesse sem a figura importante de um pai, já que entre os verdadeiros pais não existia mais nada. Bom, pelo menos até onde eu saiba. Saindo das coxias, passo em frente ao camarim de Marisa e decidi entrar pra conversar.

Miguel: Posso entrar? - bato na porta
Marisa: Claro, pode sim! - diz calma, mas sem olhar pra mim.

- eu entro tímido sem saber muito o que falar e reparo um leve relevo na altura da barriga.

Miguel: Você vai ficar ainda mais linda com o barrigão enorme! - sorrio imaginando a cena futura
Marisa: Miguel, você não precisa f...
Miguel: Não, espera! Eu falei coisas horríveis com você aquela noite, te tratei da pior forma possível e eu não me orgulho disso, ok? Você não merecia isso.

P.O.V Marisa

- Pra mim foi uma surpresa Miguel me procurar pra conversar. Não que ele não o fazia, mas não era frequente. Resolvo ficar em silêncio e ouvir tudo o que ele tinha pra dizer.

Miguel: Eu não quero tomar o lugar do Evandro, mas eu quero ficar com você e quero me certificar de que ele vai ser pai desse neném e que vocês dois - levo a mão na barriga dela- vão ficar bem.
Marisa: Eu acho isso lindo, Mig. Mas você conseguiria viver comigo sabendo que meu filho não é nosso?
Miguel: Não vai ser fácil, mas eu aguento qualquer coisa por você e agora por ele. Claro, se você me permitir a isso.
Marisa: Você sabe que eu nunca vou te privar de nada na minha vida, né? - sorrio incrédula.
Miguel: Então eu acho que agora é a hora.

- Ele pigarreia e se ajoelha.

Marisa: O que você tá fazendo? - confusa
Miguel: Eu me apaixonei desde a primeira vez que te vi. Me apaixonei antes do beijo, me apaixonei pelo sorriso, pelo humor que as vezes me dá medo, pelo seu talento, seu carisma e a forma de se colocar no lugar do outro mesmo que o outro não mereça. Agora eu posso confirmar com toda certeza do universo que eu te amo, Marisa Orth. Eu te amo a ponto de não ligar pro que os outros dizem. A ponto de bater de frente com quem quer que seja por você. A ponto de deixar você usar minhas camisas, roubar o cobertor a noite, colocar sua escova ao lado da minha no banheiro... E eu nunca fui muito receptivo com isso de relacionamento sério, sempre demorei pra me adaptar mas parece que com você tudo é mais fácil e mais gostoso. Eu te amo e pode ter certeza, de que vou amar essa criança. - eu sinto os olhos marejarem.- Não te prometo uma vida perfeita ou um relacionamento perfeito até porque relacionamentos perfeitos não existem mas eu te prometo dar o meu máximo pro que vocês dois precisarem. Eu deveria ter uma aliança mas eu não tenho agora.
Marisa: Miguel, e- tento falar algo mas ele me interrompe.
Miguel: Calma, deixa eu terminar. - tira a pulseira que ele sempre tinha no pulso e coloca no meu. - até eu arranjar as alianças, fica com ela! Era da minha mãe. Meu pai me contou que prometeu só dar essa pulseira a alguém especial aí ele encontrou minha mãe. Acho que eu encontrei minha pessoa especial o suficiente pra ficar com ela.

- Eu admirava a pulseira fina de ouro e era estupidamente linda!

Marisa: Agora é a hora que...
Miguel: Agora é a hora que você aceita namorar comigo sim. - nós rimos
Marisa: Achei que não viria nunca esse pedido! - eu seguro seu rosto e o beijo.

- Ele se abaixa e chega perto da minha barriga.

Miguel: Aí garoto, você não imagina o quanto tem sorte de nascer da sua mãe! - beija minha barriga
Marisa: Garoto?
Miguel: Acho que vai ser um meninão e queira Deus que se pareça com você.

- Nós rimos e fomos contar pro resto dos colegas sobre a gravidez e agora, o namoro. Miguel parecia se incomodar quando o parabenizavam pelo neném, embora ele nunca fosse admitir isso.

P.O.V Miguel

- Incômodo? Pff, não! Eu adorava fantasiar que o neném era meu mesmo a realidade sendo dura o bastante pra não ser.
Seguimos pra casa dela dessa vez e eu só sabia sorrir e dizer o quanto eu estava feliz e o quanto eu a amava. Podia dizer agora sem culpa ou remorso, embora ela não tenha dito de volta mas não me incomodava. Somos seres humanos individuais, cada qual com seu tempo. Após o jantar fomos pra varanda, colocamos uma música baixa e ficamos conversando e observando o horizonte.
Eu estava me sentindo uma criança após ganhar o que mais desejava. Eu a amava e me sentia realizado.
Par perfeito não existe, mas existem pessoas imperfeitas que aprendem a gostar das diferenças umas das outras e o que todos nós queremos no fim das contas? Alguém que nos ame, nos assuma, nos perdoe. Sim, porque quase sempre amar é uma grande troca de perdões. Quem não sabe perdoar ainda não está pronto para o amor!

P.O.V Marisa

- Tudo estava perfeito e eu não poderia desejar lugar melhor pra pertencer naquele momento. Por mais que  o medo ainda me rodeasse e houvesse feridas que ainda não se fecharam desde o último relacionamento, eu sentia uma paz com o Miguel. Uma sensação de lar. Ele era tão atencioso, tão carinhoso, tão disposto a fazer o que estivesse no alcance dele pra que eu e agora o bebê, ficássemos confortáveis. Ele era, apesar de todos os defeitos, o cara mais incrível que eu poderia conhecer.
Só que nesse relacionamento, não éramos só nós três. Éramos quatro, já que Evandro era o pai e estava sempre por perto.
Hoje em especial era o dia de vermos o bebê e descobrir o sexo depois de 5 longos meses.

Miguel: Tá pronta amor? - disse na porta do quarto.
Marisa: Tô! - sorrio animada e passo por ele.

- Ele sempre me acompanhava nas consultas e hoje não seria diferente. Seguimos pro consultório e eu não parava de falar um minuto sobre assuntos aleatórios por causa da ansiedade e animação.

Miguel: Chegamos meu bem. - estaciona o carro em frente ao prédio.
Marisa: Não quer subir comigo mesmo? - pergunto calma
Miguel: Não, Evandro tá te esperando ali - aponta com a cabeça.- não quero causar desconforto. Vou ficar aqui esperando vocês. - leva a mão na barriga que já estava grandinha.
Marisa: Então tá! - dou um selinho nele e saio do carro indo de encontro a Evandro que me da o braço mas eu ignoro.

P.O.V Miguel

- Imaginar Marisa numa sala sozinha com Evandro me causava arrepios. Na minha cabeça ele era uma bomba relógio pronta pra explodir a qualquer momento. Mas eu respeitava as escolhas e confiava nela. Espero no carro enquanto meus pensamentos voam tão longe que nem percebo que o tempo passou e ela que havia acabo de sair, volta pro carro com um sorriso largo que ia de orelha a orelha e os olhos marejados.

Marisa: É menino! - ela repetia enquanto me abraçava forte
Miguel: Eu sabia! - sorrio vitorioso.

- Seguimos pra casa enquanto ela me contava detalhes do que tinha acontecido lá dentro: a posição que o menino estava, o momento em que a médica responsável conseguiu ver o sexo... E eu ouvia tudo atentamente compartilhando do mesmo entusiasmo.
Nossa vida estava boa! Além de namorados, éramos amigos e sabíamos respeitar o espaço do outro sem invasões ou desconfortos.