Eu estava correndo contra o tempo.
Ainda me lembro do dia em que pedi a ajuda de Travis para passar na matéria que tem tirado o meu sossego como se fosse ontem, e há duas semanas atrás, parecia que eu tinha todo o tempo do mundo para dar conta desse problema. Agora, faltando menos de uma semana para enfrentar a prova que vai decidir o meu futuro, estou explodindo de ansiedade. Estou usando todo o meu tempo livre para focar nos estudos, repassando tudo que ainda julgo ser necessário, e Travis está empenhado em me ajudar. Nos encontramos de segunda à sexta, todos os dias, depois do meu expediente na biblioteca, e passamos horas revisando o conteúdo.
Sinto que tenho completo domínio da matéria de ética — posso citar, sem pensar muito, todos os conceitos de Maquiavel, Kant, Platão e etc —, mas não estou afim de subestimar o meu querido professor. Sei que o Sr. Miller fará o que estiver ao seu alcance para me derrubar, mas estou cansada de cair em suas armadilhas traiçoeiras. Não vou ficar calada desta vez. Vou mostrar a minha força, passar nessa matéria com êxito, e depois seguir em frente sem olhar para trás. Mas se aquele desgraçado tentar me sabotar, vou ter que retribuir na mesma moeda.
Robert Miller é nojento. Só isso explica ele dar em cima de uma de suas alunas, o que é completamente antiético — e extremamente hipócrita, já que ele ensina a matéria e deveria servir de algum exemplo —, e ainda por cima tentar arruinar a vida dela quando ela não aceita chupar o seu pau murcho. Fico nauseada só de lembrar de todas aquelas insinuações que eu tive — e tenho — que aguentar, todos aqueles olhares maldosos e todas as tentativas de me tocar, mesmo que, para quem vê de fora, seja algo totalmente inofensivo.
Sei que eu deveria falar com alguém, que deveria denunciar ou fazer um escândalo, mas se expor desse jeito não é tão fácil quanto aquelas frases motivacionais fazem parecer. Vivemos em um mundo comandado pelos homens, e eles são capazes, mesmo estando errados, de fazer nós, mulheres, nos sentirmos constrangidas e reprimidas pelos seus atos repugnantes. É o que eu sempre sinto quando estou na presença do Sr. Miller, mesmo que eu tente esconder: vergonha. Fico me martirizando, relembrando cada momento em que estivemos no mesmo cômodo, tentando achar alguma indicação no meu comportamento que tenha dado a ele a liberdade de agir como um libertino assediador. Nada. Eu não fiz nada. E estou cansada de procurar justificativas.
— Deixa eu ver se entendi… você vai sair com o Tanner, mas dormiu com o Travis? É isso mesmo?
Faço uma careta para Jules. É incrível como ela tem a capacidade de distorcer todas as minhas palavras.
— Eu não dormi com o Travis — faço uma pausa. — Pelo menos não desse jeito que você está pensando. Eu só… peguei no sono sem querer.
— Isso é tão esquisito — diz ela. — Travis não é conhecido por dormir abraçadinho com uma garota.
— A gente não… — interrompo-me abruptamente, porque, droga, dormimos abraçadinhos. A noite toda, pelo visto. Quando eu acordei no domingo de manhã, meu corpo estava tão colado no de Travis que parecíamos moldados no mesmo esqueleto. Consigo lembrar exatamente da sensação dos seus músculos fortes pressionados contra o meu corpo, a textura quente da sua pele me acolhendo como uma manta confortável.
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Doce Redenção
RomanceMaxine Wheeler e Travis O'Brien podem até estudar na mesma faculdade, mas vivem em universos completamente diferentes. Max está interessada apenas em terminar os seus estudos e passar despercebida, enquanto Travis, apesar de ser o centro das atençõ...