Doce Redenção

Forty-six

— Quanto tempo falta? 

Travis verifica o relógio de pulso antes de responder, com sua voz rouca, em meu ouvido: 

— Trinta minutos. 

Estremeço, mas não é por causa do frio. Na verdade, estou muito bem aquecida, acomodada em uma toalha sobre a grama, sentada entre as pernas de Travis, enquanto seus braços tatuados me envolvem em um aperto caloroso e acolhedor. 

— Acho que dá tempo de terminar este aqui antes da virada do ano — balanço o livro que estou lendo no ar. — Faltam menos de vinte páginas, acho. 

Ele beija o meu pescoço, e sinto um sorriso contra a minha pele.

— Você não vai sossegar enquanto não souber o que acontece com os protagonistas, né? — comenta, em tom divertido. 

— Vai dizer que não está morrendo de curiosidade? — lanço um olhar afiado por cima do ombro. — O Camden largou tudo e está indo atrás da Juliette! É emocionante! 

— É previsível — retruca ele, com ar entendido. — É um romance, Max, então não precisa fingir que não sabe o que acontece no final. Ele vai chegar lá, surpreendê-la, vai fazer um discurso ensaiado e eles vão se beijar depois de trocar juras de amor. No epílogo vai mostrá-los alguns anos depois, talvez com dois filhos, em uma casa bacana e em um casamento perfeito. Típico. 

— Chato — resmungo. 

Ele solta uma risadinha. 

— Na verdade, acabei de te dar um grande spoiler. Eu já havia lido esse livro antes. 

— Travis! — repreendo. 

Ele ri mais abertamente. 

— Tô brincando. Eu nunca li esse livro antes. Evito livros com caras seminus na capa. 

É a minha vez de rir. 

— Por quê? Isso fere sua masculinidade frágil? 

— Para sua informação, eu confio bastante na minha masculinidade. 

— Aham — caçoo. 

Ele faz cócegas para se vingar de mim. Contorço-me em seus braços, soltando gritinhos enquanto seus dedos não me dão sossego, até que ele para com a brincadeira e me enche de beijos. 

Depois que me recupero da crise de risos, pergunto: 

— Você se lembra do primeiro livro que leu? 

— Não. Mas me lembro do primeiro livro que gostei de ler. 

Olho por cima do ombro, curiosa. 

— Qual foi?

— A Travessia. 

— Nunca li. 

— Mas devia. É uma leitura bastante emocionante. — Ele faz uma pausa, depois acrescenta: — Eles tinham um clube de leitura no Centro de Reabilitação para Jovens Infratores, e meio que éramos obrigados a ler um livro por semana e fazer uma redação sobre eles. A Travessia foi o primeiro que encontrei na pilha de livros, e não porque gostei dele, mas sim porque queria me livrar o mais rápido possível daquele circo de horrores. Mas acabou sendo uma experiência interessante. É engraçado pensar que meu amor pela leitura se iniciou na cadeia. 

— No fim das contas, passar esse tempo isolado foi, de certa forma, bom pra você — comento. 

— Verdade — concorda. 

Travis fica espiando por cima do meu ombro enquanto eu termino de ler o livro, com o som das ondas se quebrando ao fundo. 

Estamos na praia, esperando a virada do ano. Minha intenção era ficar com minha família, já que passei o Natal com Travis e sua família, mas eles decidiram visitar minha avó de última hora, e mesmo que eu ame a vovó incondicionalmente, escolhi ficar na cidade. 

Travis e eu decidimos vir para Boston de última hora. Viajamos durante duas horas e meia no meu carro, mas conseguimos um lugar legal no Castle Island, com vista para a praia, meio afastados da multidão que se reúne do outro lado do parque. É melhor aqui, na nossa bolha de tranquilidade. 

— Não acredito — fecho o livro, frustrada, enquanto Travis ri. — Aconteceu exatamente o que você disse! Como você sabia disso? Você já leu esse livro, não é? 

— Eu disse, padawan: romances são previsíveis. Mas vamos dar um crédito, eu não previ sobre o cachorro. 

— Eu queria ter um cachorro — faço biquinho. 

— Quando nos casarmos, talvez. 

— Opa. 

Ele sorri. 

— Que foi? 

— Não temos nem um ano de namoro e você já tá pensando em casamento? 

— Eu tenho certeza de que vou me casar com você, Maxine. Você é a mulher da minha vida. 

Não tem aquele tom de brincadeira nas suas palavras, apesar do sorriso no rosto. Ele olha em meus olhos, a honestidade transbordando deles, e meu peito explode como se os fogos de artifícios tivessem sido estourados com antecedência. 

Mordo o lábio inferior, então digo: 

— Bom, quando chegar a hora, a minha resposta será sim. 

Ele abre a boca, mas antes que possa dizer qualquer coisa, o céu explode em cores diferentes. Olhamos para cima, vislumbrando a chegada de um novo ano. Consigo ouvir os gritos de comemoração das pessoas que estão por perto, e até mesmo o estourar de algumas rolhas de champanhe, mas estamos bem aqui. Seguros. Felizes. 

Travis olha para baixo, para o meu rosto, e sorri. Ele está lindo — o que não é novidade — com o cabelo bagunçado por causa do vento, e os olhos cintilando perante o brilho dos fogos. Ele se parece com o sonho perfeito, aquele que a gente torce para nunca acordar. Mas estamos bem acordados agora, e ele é real; pertencemos um ao outro. E a paixão nos seus olhos quando olham para mim é a mesma paixão que habita em meu peito agora, transbordando intensamente. 

— Feliz ano novo, Max. 

— Feliz ano novo, Trav. 

E com isso, ele me beija. Estou com a cabeça apoiada em seu peito, inclinada para trás, dando-lhe a possibilidade de capturar os meus lábios, já que estou sentada entre suas pernas. É uma posição um pouco desfavorável, mas não me importo. Acho que nunca me senti tão feliz quanto agora, nos braços do homem mais improvável do mundo, mas que sei que é o certo para mim. 

Várias coisas poderiam ter nos afastado, mas encontramos um lugar para descansar os ossos, nos braços um do outro. Quem poderia imaginar que caminhos tão distintos acabariam se cruzando de uma forma tão inusitada? 

Eu sempre idealizei um final feliz como aqueles que eu lia nos livros… mas, sinceramente, o que eu tenho com Travis extrapola todas as expectativas. 

Primeiro capítulo do ano, penúltimo capítulo do livro... vai ser doloroso dizer adeus, mas satisfatório saber que estou entregando, mesmo com muito esforço e alguns imprevistos, mais um livro completo.
Espero vocês no fim. 💜