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Lilian

Os  dias seguiram normalmente após aquela noite, levei alguns castigos razoáveis, nada que eu nunca tenha levado pela minha curiosidade. Apesar de tudo ter passado e ficado lá naquela noite eu ainda tenho o mesmo pressentimento, de quê estou sendo seguida é como se a mesma sombra pairace sobre a minha, e a imagem daquele homem tomando todos os meus pensamentos, tanto que eu nem consigo mais me manter focada nos meus afazeres.

Eu vou me tornar numa irmã em breve, é meu dever servir ao senhor, não devo me deixar levar pelos pecados da carne e suas tentações. Tenho que tirá-lo da minha cabeça.

— Não vai mesmo me contar o que aconteceu naquela noite? — Me assusto largando o prato que estava em minha mão no lavatório.

— Que susto irmã Beatriz. — Limpo as gotas de água que respingam em meu rosto, encaro a mulher que possui um mau hábito de aparecer como se fosse um fantasma. — Eu já disse que nada aconteceu naquele dia. — Coço o nariz, e também fofoca é pecado.

— Mentira também é pecado e você é uma péssima mentirosa Lilian. — Ela puxa uma cadeira para mais perto de mim se sentando. — Está tão distraída que não percebe que está lavando os pratos com um pano e não a esponja.

Encaro minha mão e vejo que realmente estou a quase uma hora fazendo praticamente nada,já que a louça ainda continua suja e as que já lavei precisam de ser repetidas. O que está acontecendo comigo?.

— Ah não. — resmungo suspirando cansada mas logo me repreendo por estar reclamando de algo que eu mesma causei. Olho pela janela vendo os jardins que eu ainda não cuidei se perdendo até o limite das árvores, meu coração bate como se fosse um presságio e vejo uma figura parada bem do lado da minha árvore favorita.

Daqui da janela não consigo identificar, talvez seja o padre mas se fosse todas saberíamos que o padre veio. Sinto o sangue aquecer em minhas veias e não tiro os olhos da figura que parece estar olhando de volta para mim, igual um demónio reclamando sua alma, se eu visse um deles seria assim.

— Você viu isso?— pergunto desviando a atenção do que quer que seja olhando para Beatriz, ela franze o cenho lançando um olhar confuso — Tem alguém nos jardins.

— Deve ser uma das irmãs. Que tal você não tentar fugir do assunto e começar a falar, to ansiosa garota!.

— Não é uma das irmãs, tenho a certeza de que é um homem!.

— Um homem? — Ela se levanta ficando ao meu lado e olha pela janela — Não tem ninguém ali.

— O que, como assim? — Como que por mágica ele já não estava lá, é como se nunca tivesse estado ali. — Eu juro que eu vi um homem parado ali. — sussurro desacreditada, eu não posso estar enlouquecendo, eu tenho a certeza do que vi ou não vi.

— Bateu com a cabeça, andou fumando, bebendo coisa que não deveria, cheirando pó ou algo do gênero?.

— Eu sei o que eu vi irmã Beatriz!.

— Você definitivamente não está bem, precisa de um descanso. Vá querida, eu tomo conta do resto.

— Você tem razão. Obrigada Beatriz.

— Só não abusa tá, não tenho a bondade da virgem santíssima e nem sou virgem.

— Beatriz! — perco a vontade de colocar algum juízo na cabeça dela, e nem se quer me atrevo a perguntar como ela perdeu a virgindade. As irmãs são virgens elas devem ser virgens. — Em que tipo de convento você estava? Sabe que mais nem precisa falar. Agradeço pela ajuda.

Caminho apressadamente até ao quarto e agradeço por não ter cruzado com a madre , entro no quarto fechando a porta atrás de mim, me encosto nela respirando fundo quando uma fragrância diferente toma conta do cómodo, abro os olhos e encontro um arranjo de hortênsias encima da minha cama tornando tudo ainda mais sinistro.

PECAMINOSAOnde histórias criam vida. Descubra agora