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Lilian

— Melhor abrir essa maldita porta Lilian. — Ele volta a gritar batendo contra a pobre porta que não tem culpa de nada.

Como acabamos nessa situação? Simples, após sairmos daquele desastre parte de mim estava feliz, mesmo em meio a tantos destroços. Eu estava feliz, que o que quer que fosse que iria acontecer ali não aconteceu. Pensei que talvez Lucian fosse me deixar ir. Mas eu estava errada.

O facto de o noivado não ter acontecido não implica que não nos casaremos no domingo. Essas foram as suas palavras roubando todas as esperanças que eu tinha.

— Me deixa em paz. Eu não quero falar com você! — respondo grogue. De tanto chorar, minha garganta inflamou e agora pareço um rádio estragado falando.

— Meu amor. Por favor. Abra a porta e vamos conversar. — Ele diminuiu seu tom de voz, e pela sombra pude ver que também se afastou da porta. — Lilian meu anjo... Eu nunca vou te machucar, eu prometi.

Sua voz parecia cansada e angustiada. Faz minutos que ele não sai de perto dessa porta. E eu aqui sentada no chão ao pé da cama abraçada ao meu próprio corpo.

Algo dentro de mim queria muito, mas muito correr para porta abrir e me jogar nos braços dele. Só para ouvir mais uma vez ele dizendo que me ama. Mas a outra parte era somente medo, pavor. Gritando para não confiar nele.

— Eu quero ir embora. — Sussurro limpando outra lágrima que insiste em cair.

Eu nunca deveria ter deixado ele me tocar e se aproximar de mim no convento, para início de história. Eu joguei pedra na cruz e agora estou pagando pelos meus pecados.

— Meu anjo. — Sua fala foi calma porém severa, como se ele estivesse se contendo. Ouvi o barulho de algo girando e logo percebi que era uma chave. — Eu não queria usar a chave reserva mas você me obrigou Lilian.

Diz passando e caminhando lentamente até o pé da cama, ele se agacha em minha frente e sorri de lado. Mas somente seus lábios é que se curvam o resto neutro. Mesmo seus olhos, como se não tivessem alma nenhuma neles.

— Meu anjo o que foi que eu disse sobre derramar lágrimas? — Sua mão suavemente tocou minha bochecha me fazendo arrepiar. — Anjos não choram. Principalmente um anjo tão bonito quanto você! — Seu polegar acaricia minha bochecha e encaixa uma lágrima a limpando.

— Me deixe ir. — suplico tremula.

— Deixar você ir para onde? — Ele tira alguns fios de cabelo colados em meu rosto. — Você pertence a mim Lilian. Seu lugar é ao meu lado.

— Eu nunca vou me casar com você. Prefiro morar na rua a conviver com um assassino, criminoso. — cuspo as palavras, tremendo de medo. Ele é mais forte, mais grande que eu e está em vantagem.

— Não me torne no antagonista da sua história meu anjo. — Ele aproxima seu rosto do meu, seu olhar caindo em meus lábios e de seguida ele me beija. Tento me debater porém ele força seu corpo ao meu — Estou sendo muito brando com você. Não queira ver do que eu sou capaz.

— Você não pode me machucar, mais do que eu machuco a mim mesma. Sendo tão fraca . — murmuro sentindo o aperto no meu coração. Sim eu sou fraca por não conseguir odiar Lucian por completo.

Esse é o seu problema Lilian você se apega a todos que mostram um pouco de compaixão com você.

— Quem disse que eu irei machucar você meu anjo?.

— Você não seria capaz! — balanço a cabeça negativamente, sentindo o peso de suas palavras.

— De te machucar eu nunca seria capaz! — Faz uma pausa e sua mão pousa em meu ombro — Mas e o resto?.

— Eu nunca vou te amar.

— Eu sempre vou te amar. Te proteger e principalmente nunca te abandonar como sua mãe fez com você!.

Qualquer argumento que eu tinha morreu em minha garganta. Minhas memórias remotam a minha infância. Eu não me lembro se já vivi em um orfanato. Me lembro de crescer sozinha rodeada de freiras e alguns padres. Durante minha vida acho que conheci menos de 10 crianças. Cresci sozinha pós ninguém nunca me quis. Talvez eu não fosse o suficiente para ficar em um orfanato com as outras crianças e ter a oportunidade de ser adotada.

— Não chore meu amor. — Ele me puxa para um abraço. Me carregando em seu colo e me cobrindo em seus braços.

Não me continue novamente e o abraçei me deixando levar por todos os sentimentos e emoções confusas.

— Não chore meu anjo. Ninguém nunca mais vai fazer mal a você. Eu te amo e cuidarei de você. Você não está mais sozinha.

O quão quebrada e carente eu era para estar me apaixonado pela encarnação do diabo? Ele se levantou comigo e me depositou na cama com cuidado.

— Eu preciso sair. Provavelmente não voltarei hoje! — Ele deposita um beijo em minha testa e eu seguro sua mão antes que ele vá.

— Por favor não machuque aquela pobre mulher. — suplico e uma carranca se forma em seu rosto.

— Eu não vou machucar ela. Mas não vou deixar passar a forma como ela falou de você! — Ele me olha uma última vez antes de se levantar. — Durma bem meu anjo.

Eu sou uma estúpida, idiota, uma completa abominação. Talvez foi por isso que ninguém me quis. Por isso que a madre era tão severa e não me deixa sair. Ela sabia que eu era impura de alma.

Tão impura que aceitei dançar com o diabo, perdendo o controle, descendo até o inferno. Que nunca esteve tão perto quanto agora. Dancei com Lucian e barganhei minha alma.

Eu nunca deveria ter saído do convento naquela noite.

_________________L&L_________________

Uma batida na porta, mas eu não possuía nem forças para me levantar da cama. Muito menos sabendo que faltam somente horas para o meu casamento.

Mas outra batida, porém me mantenho quieta. Quem quer que seja eu quero que vá embora. Quero ficar sozinha e aproveitar as últimas horas da Lilian Martinelli se é que ela ainda existe.

— Lilian vou entrar. — Ouço a voz da Kyra do outro lado e logo ela entra segurando uma bandeja com meu café da manhã.

— Você está bem? — Ela pergunta me olhando compaixão. Vindo até a cama e colocando a bandeja do lado.

— Define estar bem para você? — respondo na defensiva me afastando.

— Eu não sou sua inimiga Lilian. Eu entendo tudo que você está sentindo e passando.  Nós realmente sentimos que as coisas aconteceram assim com você!.

— Por favor, eu quero ficar sozinha!.

— Pelo menos coma alguma coisa. — pede.

— Agradeço o esforço mas estou sem fome.

— Acredite quando digo que eu entendo pelo o que está passando. Eu já estive no seu lugar. E agora estou aqui se você precisar de ajuda.

— Agradeço toda empatia mas eu realmente não quero falar com você, nem com a Antonella. Não quero ver ninguém. Então me deixe sozinha e não fale sobre mim como se realmente soubesse como eu me sinto.

— Eu vou. Mas estarei lá embaixo se precisar. Todos estamos lá. E aqui por você.

PECAMINOSAOnde histórias criam vida. Descubra agora