ACORDA

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    Olho para o relógio e vejo que marca 3:43 am. Estou montando guarda em uma das laterais da pequena casa de pedras onde meu batalhão resolveu montar acampamento, enquanto estamos a caminho de Kiev, onde nossa missão terá fim e finalmente poderemos voltar para casa. Respiro fundo e sinto o ar fresco da noite encher meus pulmões, seguro meu fuzil com mais firmeza enquanto observo como o céu está particularmente lindo nesta noite. A ausência da lua faz com que as estrelas pareçam mais brilhantes.

    Mas apesar da bela noite me encantar, ela também me incomoda. Noites tranquilas como esta não são nada comuns, sem o som de tiros ou explosões de mísseis sendo jogados contra as cidades ao redor. O silencio que muitos poderiam considerar como paz, eu levo com desconfiança.

    De repente ouço alguns passos se aproximando, me viro e vejo Alexa vindo ao meu encontro. Mesmo com seu capacete e a noite escura, consigo distinguir bem a mulher alta que vem se aproximando calmamente. Com certeza alguém como ela seria mais fácil de se encontrar em uma passarela ao invés de ser no meio do deserto com uma roupa camuflada e segurando um fuzil nas mãos. Dou alguns passos para o lado, abrindo espaço para que ela pudesse ficar ao meu lado.

    — Olá Jauregui, como está? — Ela me pergunta com um sorriso meigo.

Apenas respondo com um sorriso enquanto encaro os olhos da minha companheira.

    — E então, como estão os preparativos para o casamento? — Pergunto depois de alguns segundos de silêncio.

    — Excelentes. Estou pensando em fazer uma festa grande, no jardim de casa. Quero que seja tudo perfeito! — Ela responde com um brilho no olhar.

    Não posso deixar de notar sua empolgação, então a encorajo.

    — Com certeza vai ser! — olho para ela e completo com um sorriso debochado. — Espero poder ir, para ver pessoalmente.

    — Claro que você vai. Você é minha convidada de honra. — Responde dando um tapa no meu braço pelo tom debochado.

    Nós duas então nos olhamos e começamos a rir da conversa que estamos tendo. Quando um ruído chama nossa atenção. Prontamente nós nos colocamos em alerta e levantamos nossos fuzis. Posiciono os óculos com visão noturna que está acoplado em meu capacete e dou pequenos passos me aproximando com cautela da direção em que está vindo o barulho, tentando ver se há algo naquela escuridão. Alexa se mantem atrás de mim, cobrindo minha retaguarda, também com seus óculos posicionados.

    O local onde estamos e absurdamente escuro, sem qualquer tipo de iluminação artificial a não ser dentro da pequena casa onde estava o batalhão, a nossa frente um deserto com uma vegetação seca e muitas pedras.

    Dou mais dois passos, quando um vulto salta em minha frente assustando Alexa e eu. O vulto para aos pés da mulher que me acompanhava e eu me viro para acompanhá-lo, apontando o fuzil na direção pronta para atirar a qualquer momento.

    — Porra! — Grito, enquanto Alexa começa a ter um ataque de risos. — Vai Rindo, quase que eu atiro nos seus pés, por causa de um maldito coelho.

    Alexa continua a rir enquanto observo o coelho que fugiu novamente para os arbustos por causa do meu grito, a mulher estava vermelha já e secava pequenas lagrimas que escapavam de seus olhos de tão descontroladamente que ela riu. Depois que nos acalmamos um pouco começamos a voltar lentamente para nossos postos para tomar guarda do acampamento novamente.

    Enquanto caminho me viro para olhar para Alexa mas não consigo focar minha visão na mulher, tudo a minha volta agora está girando, perco completamente o controle sobre meu corpo e o sinto sendo jogado contra a parede que estava a minha frente. Com o impacto meu corpo é atirado violentamente ao chão. Não consigo processar o que está acontecendo, todos meus sentidos estão um caos, minha visão está turva, meus ouvidos estão zunindo e começo a sentir um sabor forte de ferro em minha boca, que tenho certeza ser de sangue.

A Guarda-CostasOnde histórias criam vida. Descubra agora