3 capítulo

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Suspirei olhando o teto do trem, a noite já se fazia presente e com ela a hora de voltar para casa, não estava com muita coragem de encarar todos meus irmãos depois do ocorrido, sabia que ouviria piadas e murmúrios odiosos contra minha pessoa e também sabia que não tinha como escapar disso. Lucca parecia tão aflito quanto eu, mas não tinha muito o que fazer, normalmente só ficava calada esperando eles se sentirem satisfeitos com a onda de xingamentos.

Me sentia melhor depois de um longo tempo dormindo sentia dor é claro, mas não tanto quando senti ao acordar depois da surra, percebi que meu amigo me olhava e fazia leves caretas, provavelmente pelo estado que me encontrava.

- Hoje parece que foi um pouco mais pior que o normal - Murmurou forçando a vista.

A única luz era a da lua então quase não dava para ver, mas isso era por pouco tempo a algum tempo estávamos fazendo alguns planos de colocar algumas luminárias pelo local, assim conseguiríamos ficar até mais tarde.

- É realmente foi! - Sentei-me no banco e olhei para fora - Já está bem tarde - Ele negou com a cabeça.

- Acabou de anoitecer, só está muito escuro hoje - Afirmou se levantando. Acenei e levantei seguindo até a porta para sair, começamos andar em silêncio só aproveitando os barulhos da noite.

- Vamos explorar mais amanhã? - Questionou inclinado a cabeça em minha direção.

Claro, quanto mais tempo ficar fora de casa melhor - Afirmei olhando para ele. Já estávamos perto de casa quando senti um grande frio percorrer meu corpo.

- Chegamos - Murmurou me olhando apreensivo.

- Andamos muito rápido - A rua estava vazia,
o que normalmente não acontecia já que
acabou de anoitecer.

- Bom, o jeito é enfrentar o que for - Falei com confiança.

- Com certeza - Lucca socou o ar e estufou o peito.

Rimos e esperei ele chegar em casa para entrar na minha, estava silêncio provavelmente estavam na sala, caminhei devagar até lá e eles realmente estavam lá ouvindo as notícias na rádio, suspirei e subi para meu quarto.

(...)

Levantei cedo para não dar a chance de meu pai me ver, e saí de casa indo para os trilhos esperar o meu amigo. Depois de um tempo avistei Lucca correndo em minha direção, ele parecia animado.

- Está tudo bem? Me parece que não aconteceu novamente - Analisou meu rosto e sorriu.

- Eles estavam ocupados então me tranquei no quarto e nem jantei - Passei a mão pela barriga - Peguei algumas coisas e comi no caminho para cá.

Ele sorriu e deu um soquinho no meu ombro - Sabe aquela casa? - Apontou para casa depois da cerca - Minha mãe me disse que vive uma mulher sozinha lá.

- Uhn! Coitada - Começamos a andar em direção a cerca.

- Dizem que seu marido morreu e ela ficou muito triste e nunca mais foi vista pela cidade - Olhei para meu amigo que olhava para a casa. Deve ser muito ruim sua felicidade depender de outra pessoa - Sussurrou e ficou pensativo.

Subi pulando a cerca e fiquei olhando para ele do outro lado.

- O que está fazendo? Não podemos entrar aí
Exclamou pulando ela também.

- Ela parece ser inofensiva - Murmurei andando para chegar perto da casa. - Não! Vamos voltar - Me puxou e saímos de lá.

Como não sabíamos o que fazer, começamos a instalar algumas luminárias dentro do trem, quando tudo já estava terminado era quase hora do almoço então resolvemos ir para casa.

- Minha mãe vai ao cinema hoje, vou com ela - Olhou para sua casa - Você vai também né? - Perguntou me olhando.

- Não! Vou ficar lá no trem - Falei, ele assentiu e nos despedimos.

O almoço da minha casa foi em completo silêncio, meu pai nem me olhava e meu irmãos também não, resolvi aproveitar esse milagre para almoçar direito. Logo começaram a se retirar da mesa e fiz o mesmo, só que saí de casa indo para meu lugar favorito.

No trem tinha uma parte que faltava bancos então quando achamos ele limpamos o local e colocamos alguns colchões para dormirmos se fosse preciso.

Quando o tédio bateu, fui até a casa do outro lado da cerca, parecia tão vazia e triste. Quando ia saindo ouvi uma porta abrindo me virei de frente para casa, arregalei os olhos quando vi a mulher parada na porta, senti minhas mãos começarem a suar e fui me afastando ainda olhando para ela.

- Você não pode entrar aqui! - Exclamou, sua voz era bonita.

- Me desculpe, eu só estava olhando -
Murmurei sentido meu coração quase saindo pela boca. - Não volte mais aqui - Falou e entrou novamente para sua casa fechando a porta, suspirei e apoiei minhas mãos nos joelhos.

Ela não parecia ser uma mulher muito brava, só não gostava de invasores. Pelo pouco que vi também não parecia ser velha, então fiquei mais curiosa porque uma mulher jovem como ela não se casou novamente quando seu marido morreu.

Claro, ela amava ele e não esqueceu ainda, mas se fechar para o mundo era bem precipitado, caminhei para fora da sua propriedade e me apoiei na cerca olhando para sua casa. Ela apareceu novamente mas me escondi rapidamente, olhei e não estava mais lá então saí do meu esconderijo e voltei para o trem.

Estava estranha, me senti nervosa e ansiosa, deitei no colchão e fiquei olhando para o teto. Voltei para casa e fiquei na sala onde dois dos meus irmãos estavam.

- Deveria não ter voltado agora - Leon e lane meus irmãos gêmeos falaram em uníssono.

- E vocês deveriam já ter saído - Sussurrei, mas parece que escutaram.

- O que disse? - Lane perguntou se virando na minha direção.

- Nada - Murmurei olhando para meus dedos.

- Vamos fale novamente - Leon disse, eu sempre soube que ele gostava de confusão.

- Vocês já tem vinte e sete anos, já deveria ter a casa de vocês - Falei em um momento de coragem.

- Sua aberraçãozinha, você que nem deveria estar aqui - Eles se levantaram e se aproximaram, mas meu salvador entrou na sala, suspirei aliviada e me aproximei de Lucca.

- Vamos dormir lá hoje? - Perguntou sussurrando perto do meu ouvido, Assenti com a cabeça e indiquei a cozinha, seguimos para lá onde meu pai e minha mãe estavam conversando.

- Boa noite! Queria saber se o Pierre pode dormir na minha casa? - Lucca perguntou de forma séria.

- Não

- Sim

Minha mãe e meu pai falaram ao mesmo tempo.

- Não, ainda é uma criança para dormir fora de casa. - Minha mãe falou lavando alguns legumes.

- Ora! claro que pode, já é um homem pode ir para onde quiser - Meu pai falou e deu dois tapinhas no meu ombro.

Pensei que ele estava bravo comigo, mas pelo visto já esqueceu o ocorrido, minha mãe suspirou e permitiu que eu dormisse na "casa" do Lucca, não iríamos realmente dormir lá, mas eles não precisavam saber disso.

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