Capítulo 23

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Todos no refeitório parecem observar o show que está prestes a acontecer. Amber caminha furiosa, claramente gostando da atenção, quase como se estivesse num palco.

— O que você pensa que está fazendo com meu namorado, sua… — Ela grita, enquanto todo mundo assiste, um verdadeiro show de horrores.

— Eu nunca fui seu namorado, Amber. Nem nos seus melhores sonhos. — Nathaniel diz, a voz mostrando uma calma que eu nunca conseguiria ter.

Os olhos das pessoas cruzam de um para o outro, tenho certeza que se tivesse a possibilidade eles pegariam pipoca e refrigerante para assistir de camarote o desenrolar da cena que se passa.

— Dediquei minha vida a você, você me iludiu, me fez acreditar termos algo especial. — Amber começa a chorar, quase sinto pena por ela. Talvez, eu me comovesse mais, se ela não tivesse sido tão babaca comigo desde o primeiro momento.

— Isso não é verdade, Amber. — Nathaniel solta um suspiro e passa a mão pelos cabelos. 

— É sim. Achei que você era diferente e tudo o que você queria era me levar para a cama. 

Algumas pessoas fazem um “oh” exagerado, enquanto outras pegam seus celulares para filmar, provavelmente torcendo para que isso termine com uma briga corporal.

— Amber, eu nunca toquei em você. Eu nem mesmo te beijei. Para com a cena.

Se Amber está realmente mentindo. Preciso dizer que ela merece um Oscar pela atuação, nem mesmo sei qual dos dois está falando a verdade. Quero acreditar em Nathaniel, mas tenho medo de acabar escolhendo o lado errado.

Nathaniel se provou até agora alguém muito melhor que a primeira impressão que tive dele. Entretanto, não da para fingir que nossas primeiras interações nunca existiram. Sinceramente, é fácil imaginar aquele Nathaniel como o cara que faz uma menina acreditar que é especial para rejeitar ela depois.

Ao mesmo tempo, agora que conheço o Nathaniel mais do que uma primeira impressão, não consigo ver esse Nathaniel como o cara que Amber diz. Ainda mais quando toda vez que penso neles juntos, me vem a mente um Nathaniel que se afasta, que parece alheio enquanto ela se esforça de toda forma para obter um mínimo de atenção.

Não quero ser injusta, não quero ver a mulher como uma vilã maluca, quando não conheço a história toda, Amber não foi legal comigo, mas ela merece mais do que isso, essa cena ridícula, independente se está ou não falando a verdade.

Me levanto da mesa e caminho até ela, que está deplorável, sentada sobre as próprias pernas no chão do refeitório, com o rímel escorrido e os olhos vermelhos. Estendo a mão para ajudá-la a se levantar e após pensar por alguns segundos ela aceita.

— Eu já volto. — Digo para Nathaniel e minhas amigas, antes de caminhar com Amber até o banheiro.

— O que está fazendo? — Ela pergunta, assim que chegamos.

— Te livrando de um papelão. Você não quer ser lembrada como a garota que implorou por ele.

— Você não me conhece, não sabe o que eu quero. Não sabe nada de mim. É só mais uma que ele enganará, igual me enganou. O que ele prometeu para você? Que iriam namorar um dia? Que você só precisava ser paciente? Besteira.

— Ele não disse nada disso, não tenho nada com Nathaniel. Somos apenas amigos.

— Então você é ainda mais idiota do que pensei.

Amber se aproxima de mim, seus olhos não têm a mínima sombra de uma lágrima, apenas raiva transparece em sua visão. Apesar de não ser muito mais alta que eu, seu corpo se sobrepõe, como se ela tivesse 2 metros de altura.

— Ele podia ter me escolhido. Eu estava lá para ele. A droga do tempo todo. Ele nunca preferirá você, é só olhar para nós duas.  Você é patética.

Suas mão agarram meus ombros, e eu fecho os olhos com força. Flashes de memória invadem minha mente, mãos firmes me segurando, me empurrando para a cama, se impondo sobre mim.

Minha respiração se acelera, meu coração está doendo dentro do meu peito, sinto como se eu estivesse prestes a morrer, estou apavorada.

— Ei, calma… Que droga, não vai ter um ataque aqui. Eu não fiz nada garota. Respira fundo. Droga. — Amber diz e começo a me guiar pela voz dela.

Demora alguns minutos até meu coração voltar ao normal, a loira me olha com os olhos arregalados.

— Desculpe, olha… Não foi minha intenção, seja lá o que tenha acontecido.

— Tudo bem, não tem problema, não é sua culpa. — Digo, ainda levemente sem fôlego e simplesmente saio do banheiro deixando-a sozinha lá. Nem mesmo agradeço a ela.

Respiro fundo algumas vezes antes de voltar ao refeitório. Minha mão está tremendo, a cena não deixa minha cabeça.

— Você está bem? Tá branca feito um fantasma. — Tracy pergunta quando volto para a mesa.

— Se aquela garota fez alguma coisa com você,  eu quebro a cara dela. — Mirella diz, já prestes a se levantar.

—Meninas,  ela não fez nada. Tá tudo bem. Eu só me lembrei... De algumas coisas.

Vejo os olhos preocupados,  o entendimento ainda que eu não cite o que foi que eu lembrei. Nathaniel pega minha mão e descreve círculos por ela, sua expressão é um misto de furia e preocupação.

— Odeio esse cara.

— Todo mundo aqui, meu querido. Não é só você não. — Mirella diz. — Minha vontade é chutar esse cara tão forte que ele vai parar em outro planeta.

— Desculpa aí, mulher maravilha. — Nathaniel diz com uma risadinha.

— Quando vocês dois ficaram tão próximos mesmo? — Tracy pergunta olhando em minha direção. Apesar disso é Nathaniel quem responde.

— A gente sempre foi próximo. Nunca ouviu falar que o amor e o ódio andam lado a lado. — Ele diz e passa o braço por cima do meu ombro. Não consigo evitar que meu rosto core.

— Eu liguei para ele ontem, depois do que aconteceu... Ele era o único que eu conheço que conhece Nova York bem o suficiente para me resgatar mesmo qie eu não tivesse ideia de onde eu estava. — Explico.

— O que posso dizer, ser um herói aproxima as pessoas. — Nathaniel completa.

— Sabe, até que você não é tão ruim. — Tracy diz.

— Eu sou ótimo e lindo.

— E modesto. — Completo.

— É, isso também. — Ele diz, rindo e acenando com a mão.

Mas é verdade isso, ele não é ruim. Não acredito que Amber tenha dito a verdade, pelo menos não verdade completa. Ainda quero ouvir o lado dela, mas Nathaniel não é um monstro. Nathaniel parece honesto e gente boa, por mais que eu nunca tenha imaginado que eu diria isso.

Não consigo ligar esse cara, rindo e fazendo piadinhas nerds com o cara que ficava se mostrando superior e irritando as pessoas. Quanto de cada um será que existe nele? Quem ele é de verdade? E por que esconde sua verdadeira face das pessoas? Olho para seus olhos azuis que brilham enquanto ele fala alguma besteira que faz minhas amigas rirem. Nesse momento tenho certeza, quero muito descobrir mais, descobrir a verdade sobre ele.

— Oi Aurora, podemos conversar? — Ouço a voz, e vejo a risada de Nathaniel sumir do seu rosto. Ele sempre teve ciúmes de mim e eu nunca percebi ou é algo que só aconteceu agora?

— Collin, eu... — Começo a dizer, mas ele me corta.

— Por favor, é rápido.

Apenas assinto com a cabeça, incapaz de dizer não.

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