Entro no quarto ainda abalada, meu peito parece doer e sinto meus olhos arderem com lágrimas não derramadas. No entanto, logo sou surpreendida pelos braços calorosos de Mirella. Não preciso dizer uma só palavra, apenas aceito seu abraço e me derramo com a cabeça nos seus ombros.
— Ah, minha amiga, dá para ver que não está bem. Você pode contar conosco, sabe? — Mirella diz.
— Eu… — Começo a falar, mas, não consigo dar continuidade, nem sei por onde começar.
— Não precisa se forçar a falar se não consegue, está tudo bem. Vai no seu tempo. Tracy está vindo para cá, ela está trazendo pipoca, chocolate e refrigerante. Enquanto separei algumas comédias românticas péssimas para vermos.
— Vocês são as melhores amigas do mundo. — Digo com a voz levemente trêmula devido ao choro.
Tracy não demora a chegar, trazendo sacos de batata frita e chocolate o suficiente para eu comer o dia inteiro. Nos aconchegamos as 3 na cama de Mirella e começamos a assistir a um filme genérico com nome mais genérico ainda.
— Me sinto culpada de fazer vocês ficarem aqui. É sexta a noite, vocês deveriam estar se divertindo em algum lugar.
— Decidimos dar um tempo das baladas. — Tracy responde com a boca cheia.
— Ainda vamos para as festinhas, mas, precisamos sossegar um tempo também. Além disso, ir sozinha não tem graça… — Mirella diz.
— Por que sozinha? — Pergunto curiosa, revesando o olhar entre minhas duas amigas.
— Tracy conheceu alguém…
— Ah! Meu Deus! Por quanto tempo fiquei fora? Como não estou sabendo disso?
— Não tem nada rolando. — Tracy diz. — Mas, tem essa menina… Ela trabalha numa pizzaria aqui perto. É bonita e divertida, e sabe… Só ficamos horas conversando e eu prefiro isso a sair para pegar gente sem conteúdo. Ainda mais depois do que aconteceu com você.
— Tracy, não acredito que não estava sabendo nada disso. Estou tão feliz por você! Qual o nome dela?
— Tracy não quer falar. — Mirella diz, emburrada.
— Não acho que seja legal contar ainda, não tem nada acontecendo e ela não é assumida para a família. Ela tem uma família problemática. A mãe tem problemas psiquiátricos, se envolveu com bebida a um tempo atrás. Seu irmão parece só arrumar confusão, sempre brigando e discutindo com todos. Mesmo que vocês não conheçam ela, acho que não é legal trair sua confiança assim.
— Eu disse para ela que o nome não faz diferença se eu não sei quem é... Então não seria trair a confiança de ninguém… Mas, mesmo assim, ela não fala nada. — Mirella reclama.
— Concordo com a Tracy. Acho importante ser leal as pessoas que gostamos. — Respondo
— Por falar em pessoas que gostamos… E o Nathaniel Aurora? — Mirella pergunta.
— Confesso que me surpreendi hoje. Nunca havia visto esse lado dele. Protetor e divertido. Realmente gostei da companhia dele. — Tracy diz.
— Acho que eu também demorei até ver esse lado dele.
— Se ele mostrasse esse lado com mais frequência, ele teria mais amigos. — Mirella comenta.
— Talvez ele não queira ter mais amigos. — Respondo.
— Como Alguém pode não querer ter mais amigos? — Ela retruca.
— Ele parece ter dificuldade… Com as pessoas. — Digo somente.
— Todos temos nossos demônios Mirella, alguns maiores do que outros. — Tracy completa.
Passamos boa parte da noite acordadas no nosso quarto. Por incrível que pareça conseguimos comer toda a imensidão de besteiras que Tracy trouxe. Assistimos dois filmes, rimos, conversamos e dançamos sozinhas no quarto pequeno.
Apenas paramos quando ficamos cansadas de mais. Só então apagamos as luzes e nos deitamos Mirella e Tracy em uma das camas e eu sozinha na outra.
Na escuridão do quarto, após horas rindo e conversando frivolidades. Sinto que eu finalmente deveria falar, então o faço.
— Estou tendo crises de ataque de pânico. — Digo simplesmente.
Ouço minhas amigas se virando na cama, mas ninguém diz nada.
— A primeira vez que aconteceu foi no banheiro com Amber. Ela me segurou mais forte, e um flash de memória invadiu a minha cabeça. Foi terrível, eu tive tanto medo de simplesmente não sei… Achei que eu fosse morrer. — Dou uma pausa antes de continuar.
— A segunda, foi ainda pior. Eu estava com Nathaniel e ele me beijou. O beijo estava ótimo… Até não estar mais. Outra memória veio na minha cabeça, eu mordi a boca dele tão forte que começou a sangrar. Fiquei com tanto, tanto medo. Continuo com medo. Mal consegui me despedir dele… Estou me sentindo culpada, e envergonhada. Ele falou que estará do meu lado quando eu precisar, mas simplesmente não consigo entender como ele ainda quer estar do meu lado. Ele disse que já passou por isso antes, mas não importa quantas vezes eu repita isso para mim mesma, não parece entrar na minha cabeça.
Estou chorando tanto quando termino de falar tudo isso, que mal consigo dizer as palavras seguintes.
— Às vezes, eu acho que… Talvez, Lucas tenha conseguido realmente estragar a minha vida. E me mata… Porque uma parte de mim tem certeza que tudo o que aconteceu é culpa minha.
Minhas amigas pulam na minha cama e me abraçam forte, cada uma de um lado.
— Não diga uma besteira como essa. Isso de forma alguma foi sua culpa. — Mirella diz, limpando meus olhos.
— Estamos aqui ao seu lado também. Para te apoiar e te ajudar, também me sinto culpada, Aurora, também sinto que poderia ter protegido você, ter impedido que saísse com aquele cara. Fico imaginando mil cenários que podia ter feito diferente. — Tracy diz, sua voz está trêmula, o que indica que também está chorando.
— Eu não sei como lidar com o que está acontecendo comigo. Essas lembranças, esse medo. Por um lado quero ser forte e lidar com isso, mas por outro… Estou cansada de ser forte. Não quero lutar, não quero me lembrar do que aconteceu. Quero apenas fechar os olhos e ignorar tudo o que houve.
— Aurora, ninguém precisa ser forte o tempo todo. O que você passou, foi terrível. Ninguém espera que você seja forte depois disso. Mas, estamos aqui para você e continuaremos aqui. Pois somos suas amigas.
Minhas amigas continuam me abraçando e me confortando. Conto mais uma vez tudo o que aconteceu e conto as lembranças que tive. Quando durmo, finalmente estou me sentindo melhor.
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A um e-mail de distância
RomantizmAurora é uma garota inglesa comum, com uma família comum, amigos comuns e até um ex-namorado babaca comum, quando embarca em uma nova vida ao se mudar para Nova York para cursar a faculdade dos seus sonhos. Assim que pousa na cidade que nunca dorme...