Acordo no dia seguinte, mais cedo do que o necessário, mas, não por vontade própria. Meu celular toca, estridente, embaixo do meu travesseiro, e após tentar abafar o toque de diversas formas, pego o aparelho para ao menos descobrir quem é a pessoa infeliz que está me ligando a essa hora.
No momento que vejo o nome na tela eu até desperto. São 5 da manhã aqui nos Estados Unidos e minha mãe está me ligando. Qual a chance disso ser só uma chamada ocasional de saudade? Exatamente, nenhuma. Eu já me preparo para a bronca que está por vir, afinal para piorar, já faz mais de uma semana que não ligo para ela, tenho estado tão preocupada com tudo o que vêm acontecendo na minha vida, que tenho sido relapsa com todas as outras áreas da minha vida.
Saio do quarto para atender o telefone e poder conversar com minha mãe sem atrapalhar Mirella, afinal, não estou com vontade de receber seus xingamentos em italiano a essa hora do dia, já me bastam os da minha mãe por hoje.
— Oi, mamãe. — Digo assim que atendo o telefone, já do lado de fora do dormitório.
— E eu achando que você não me ligava por que teria sido sequestrada ou algo do gênero…
— Na verdade, meu sequestrador me liberou para atender essa ligação, ele não queria que a senhora ficasse preocupada sabe?! Mas, voltarei pro porão assim que desligarmos aqui.
— Fale para ele que não adiantou, pois estou preocupada da mesma forma. — Minha mãe responde em tom de brincadeira, porém firme.
— Desculpe mamãe, eu devia ter ligado antes. Estou com tanta coisa na cabeça, que me tornei uma filha relapsa, desculpe. Prometo que melhorarei a partir de agora.
— Tudo bem, tudo bem… Não precisa se martirizar por isso. Entendo que você está tendo muitas ocupações no momento, mas, sou sua mãe e me preocupo com você. É por isso que liguei.
— Ah, mamãe, você é a melhor. Só precisa ligar num horário decente da próxima vez.
— Horário decente? São 10 da manhã, Aurora, o que seria um horário decente para você?
— Ah, mamãe… Você se esquece do fuso-horário, aí pode ser 10 da manhã, mas, aqui é pouco mais de 5 da manhã. Fui dormir um pouco tarde ontem, então se na próxima vez a senhora ligar um pouco mais tarde, seria ótimo.
— Ai, minha filha, me desculpe meu amor, esqueci completamente deste detalhe. Quer que eu desligue, para que você possa voltar a dormir?
— Não, mamãe, agora que já me acordou, quero conversar. Não havia percebido que estava com tanta saudade de casa. Como está tudo por aí?
— Ah, você sabe, tudo na mesma, sabe como é... Nenhuma novidade, nada de novo. Mas, me fale de você. Como está seu coração?
O jeito que minha mãe fala me deixa com uma pulga atrás da orelha, conheço minha mãe o suficiente para saber que ela está escondendo alguma coisa. O que me faz questionar, se essa ligação foi mesmo tão inocente quanto ela parece querer me fazer acreditar, algo me diz que não, mas, ao mesmo tempo, não quero puxar isso agora, talvez eu esteja apenas ficando paranoica demais e não seja nada. Mesmo com os pensamentos a mil, continuo a ligação como se essa dúvida não pairasse em minha cabeça. Claro que já tinha falado por cima para ela sobre tudo o que estava acontecendo, por mensagens ou ligações anteriores, mas, me sinto bem em contar tudo nos detalhes para ela dessa vez, sobre a faculdade, sobre minhas amigas, sobre Collin e até sobre Nathaniel. Quando termino de falar do Nathaniel, porém, um silêncio se instaura do outro lado da linha.
— Mamãe, está tudo bem?
— Sim, está… Eu só, estou pensando na melhor forma de te dizer que você está sendo uma babaca.
— MAMÃE?
— Sim, Aurora. Você está sendo uma babaca. E olha que eu não digo apenas por você saber quem é esse menino que você troca mensagens sem dar a ele a oportunidade de ter a mesma informação, ou, nem mesmo porque você tem deixado de lado suas amigas para viver essa fantasia perfeita que só acontece na sua cabeça. Mas, tem tanto que eu queria dizer…
— Fantasia perfeita? Não entendo o que você está dizendo mamãe.
— Mão entende? Tudo bem, eu explico. Em primeiro lugar, você não pensou que você só quis encontrar alguém que correspondesse ao seu ideal de Conan? O que te faz ter a certeza de que encontrou o cara certo além de pistas que você inventou?
— Eu não inventei pistas mãe, se encaixa. Tudo se encaixa. O apelido, o cachorro, tudo. Até a forma de falar. Claro que ele é diferente às vezes, mas, eu também sou. A internet é isso.
— Será que você só não quer que tudo se encaixe, pois assim, você não precisa ficar no escuro quanto a quem realmente é ele? Porque você não tenta só, não sei, perguntar uma coisa mais específica para ele?
— Ok! Farei isso, e vou te mostrar como estou certa em relação a esse assunto. A senhora não vê mamãe, mas, é coincidência demais. Não pode ser outra pessoa.
— Sempre pode ser outra pessoa, filha, mas, não estou aqui para julgar você. Além disso, tem mais uma coisa que eu queria falar com você, Aurora. Esse menino, o Nathaniel, você parece esquecer de que ele é um ser humano às vezes da forma que fala. Não criei você assim, para se tornar alguém que trata um ser humano como algo descartável.
— Mãe, eu não tratei o Nathaniel como algo descartável, a gente nunca teve nada para começo de conversa.
— Você foi honesta com ele, então? Você chegou a perguntar para ele se você o magoou ou se ele se sentiu um objeto?
— Você não conhece o Nathaniel, mamãe.
— Tem razão, eu não conheço ele… Mas. Será que você o conhece? — Minha mãe para de falar um momento esperando uma resposta que não tenho para dar. Depois de alguns segundos de silêncio ensurdecedor, ela continua. — Enfim, preciso ir, tome cuidado. Se algo acontecer, de estranho, me ligue.
— Ok, mamãe, até mais. — Desligo, sem prestar muita atenção.
Permaneço ali, com o celular na mão, pensativa, será que estou me iludindo em relação ao Collin? Será que estou sendo uma babaca realmente? O que me faz pensar que conheço realmente o Nathaniel? Será que um dia terei resposta para essas perguntas?Eu nem volto a dormir depois da ligação com minha mãe, aproveito o tempo livre para revisar algumas matérias, e adiantar alguns materiais. No meio de tudo encontro o trabalho que Nathaniel me entregou no outro dia, e, que eu ainda não tive oportunidade de entregar para o professor.
Reviso todo o trabalho e vejo que ele fez algo impecável. Não sei por que, mas eu esperava algo diferente. Acho que eu esperava que ele tivesse aprontado alguma coisa, mas, vejo que me enganei. Claro que isso me faz questionar novamente, tudo o que minha mãe disse, e minha reação a esse trabalho, eu estou claramente sendo injusta, o Nathaniel pode não ser a melhor pessoa do mundo, mas, eu não tenho sido muito melhor.
Me arrumo e me preparo para ir tomar o café da manhã com minhas amigas, estou decidida a pedir desculpas pro Nathaniel.
Sigo o caminho de sempre com Mirella, que fala empolgada sobre o último encontro que teve. Tudo vai correndo muito bem até que ao chegar no refeitório, o choque da visão me abala, não consigo evitar a reação automática do meu corpo de sair dali correndo e chorando, eu sou uma grande idiota.
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A um e-mail de distância
RomanceAurora é uma garota inglesa comum, com uma família comum, amigos comuns e até um ex-namorado babaca comum, quando embarca em uma nova vida ao se mudar para Nova York para cursar a faculdade dos seus sonhos. Assim que pousa na cidade que nunca dorme...