Capítulo 36

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Decido dormir em minha própria cama nessa noite. Apesar de saber que poderia passar quanto tempo fosse necessário no quarto de Nath, vejo que preciso de um tempo sozinha. E é isso que falo para ele quando nos encontramos novamente. 

— Tem certeza que não quer que eu fique com você? — Nath diz, preocupado. 

— Não tem mais perigo Nathaniel. Lucas está preso e eu preciso desse tempo, para pensar. Sinto que vivi por um dia muito mais do que ei vivi em muito tempo, algumas vezes precisamos de um tempo imersos na nossa solidão.

— Ok, entendo que precise disso, mas se lembre que estarei aqui quando precisar. — Ele diz, em seguida corre o dedo suavemente pelo meu rosto, num gesto apaziguador.

— Sabe Nath, às vezes me pergunto onde se esconde aquele rapaz que logo que me viu mostrou o dedo do meio para mim.

— Ele continua aqui, só sinto que não preciso dele mais, não com você. Não preciso usar uma máscara quando estou ao seu lado. 

Sorrio sentindo a sinceridade em suas palavras. Em seguida me curvo até ele e beijo suavemente seus lábios. Minha boca encontra a sua e nossas línguas se cruzam.

O beijo logo aumenta de ritmo e meu coração parece ribombar no peito, batendo mais forte, incendiando meu corpo. 

Um incêndio imediatamente apagado pelo gelo que parece correr pela minha corrente sanguínea, meu coração ainda bate forte, mas é medo a emoção principal. Me afasto de Nath, prevendo o que aconteceria no futuro.

— É melhor irmos para a aula antes que nos atrasemos. — Digo apressada. 

Seus olhos permanecem nos meus e ele concorda, mas posso perceber no seu semblante que ele entende o que estava prestes a acontecer tão bem quanto eu.

Assisto às aulas do período da tarde já me preparando para o dia seguinte que será um dia cheio. Logo pela manhã terei a apresentação do seminário com o Nathaniel, o tão aguardado seminário que foi o grande responsável por nos unir dessa maneira. 

Após as aulas vou ao refeitório, mas não encontro Mirella e Tracy em lugar nenhum. Mando uma mensagem rápida avisando que o perigo havia passado, mas ela não responde na hora.

Mirella também não estava no quarto quando voltei, sua cama permanecia do exato jeito em que deixei. O que me fez pensar que ela ainda não voltaria pro quarto hoje, o que, na verdade, é exatamente o que precisava, mas, ainda assim, sinto um frio percorrer meu peito, será que está tudo bem?

Olho o celular novamente, mas ainda nem sinal de minhas amigas, meu coração bate forte com preocupação, então mando outra mensagem, para o celular de Tracy dessa vez.

Respiro fundo e deito em minha cama, preocupada e esgotada emocionalmente. Deixo as lágrimas simplesmente rolarem pelos meus olhos e inundarem minha alma. Começo a refletir sobre tudo o que aconteceu nos últimos tempos, os e-mails trocados com Collin, a decepção quando ele começou a namorar, a revelação de que ele sabia quem eu era, toda a mudança com Nath, descobrir que eu estava sendo tão injusta com ele, o estupro, Lucas preso.

Não tem a menor condição de eu estar bem mentalmente depois de tudo isso. Apesar de tudo no meu âmago gritar que estou tomando a decisão certa e saber que preciso colocar um ponto final nessa história de uma vez para conseguir seguir em frente sem impedimentos. Outra parte de mim teme que eu esteja apenas sendo burra e teimosa. Tenho medo que isso acabe me destruindo.

Fico assim por um tempo, até que as lágrimas secam. Respiro fundo e faço o que já devia ter feito há algum tempo; procuro no Google psicólogos que atendam em Nova York e que continua aberto nesse horário de fim da tarde. Não demora até que eu encontre alguém, uma mulher que chama minha atenção. 

Ligo para o seu consultório e a recepcionista atende no segundo toque. 

— Consultório da doutora Ingrid, boa tarde com quem eu falo?

— Oi, meu nome é Aurora eu… Gostaria de marcar uma consulta.

— Certo, é para você mesmo?

— Sim.

— Qual o melhor dia e horário para você Aurora? 

— Vocês atendem no sábado? — Pergunto com o coração ainda acelerado

— Sim, sábado no período da manhã. Tenho uma vaga para esse sábado as nove horas da manhã, a senhorita tem disponibilidade?

— Sim.

— Certo, telefone para contato é esse mesmo que está me ligando?

— Isso.

— Ok, então ficou marcado para sábado as nove. Obrigada senhorita Aurora. 

E simples assim eu havia dado um passo a mais para a resolução dos meus problemas, pode não ter sido um grande passo. Mas passos pequenos também são importantes. 

Me sinto aliviada por um momento, feliz por decidir procurar ajuda. Me sinto calma e em paz, tão em paz que não demora até que eu apague completamente, indo para o mundo dos sonhos.

Acordo mais cedo do que o necessário no outro dia, checo o celular e ainda não tem nada de novo. Estou começando a ficar realmente preocupada com isso. Tento ligar no celular de ambas as minhas amigas, mas cai direto na caixa de mensagens. Não deixo um recado, desligo e tento me distrair da preocupação.

Não posso me deixar levar por isso agora, por mais preocupada que eu esteja com as meninas preciso focar na minha apresentação. Depois da apresentação poderei focar totalmente nisso e farei o necessário para encontrar minhas amigas.

Posso estar me preocupando à toa, sei disso, talvez elas estejam apenas se divertindo em algum lugar, mas prefiro minhas amigas rindo de mim por ter me preocupado tanto do que me culpar por não fazer nada quando elas sumiram.

Tiro o celular do silencioso para poder ouvir quando alguma delas mandar mensagem. Em seguida tomo um banho, me arrumo e repasso o texto até a hora da apresentação estar próxima. Estou tão nervosa que nem me dirijo ao refeitório, afinal, sei que não conseguiria comer absolutamente nada.

Quando está quase dando a hora saio do quarto e me encaminho até a sala de aula. Nath está na porta da sala me esperando quando chego.

— Não te vi no refeitório. — Ele diz.

— Não fui comer, preferi repassar o texto, não ia conseguir comer de qualquer forma.

— Não devia ter feito isso, comer é importante. Se tivesse comido não estaria azul agora. 

— Estou azul? — Pergunto preocupada e pego rapidamente o espelho para dar uma olhada, apenas para ver que estou exatamente igual. — Estou exatamente igual Nath!

— Princesa, foi uma figura de linguagem. Não precisa surtar assim. Você vai se sair bem e se precisar eu te dou uma força, afinal sou perfeito.

— Você é um idiota. — Respondo rindo. — Mas não é só isso, não consigo falar com as meninas, estou preocupada. 

Nathaniel abre a boca para dizer algo, mas se fecha assim que vemos nosso professor entrando na sala, seguimos em silêncio atrás dele e eu nem mesmo percebo meu celular tocando o aviso de uma nova mensagem. 

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