11. Quando o devasso sente

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#escritordevasso

E  o que era para acabar em apenas um jantar, acabou por gastar mais tempo e papel do que o previsto. Dias depois do jantar com Kim Namjoon, Dominic recebera uma carta endereçada a si.

De início, não compreendeu o motivo pelo qual o homem lhe escrevia, mas ao ver a letra bruta e levemente grosseira, ao ler aquelas palavras que nenhuma maldade continham, decidiu que haveria de ceder, pelo menos um pouco.
Que maldade havia em responder a um amigo? Nenhuma.

E foi assim que, durante os dias que se sucederam, Kim Namjoon e Park Jimin trocaram cartas e mais cartas. De início, Dominic lhe escrevia somente sobre seus dias na empresa, o modo como esperava que os negócios dessem certo e a forma como seus dias costumavam ser tácitos e comuns. Já Namjoon, discorria de maneira poética sobre seu trabalho fotografando mulheres despidas e como escrevia nas horas vagas.

Falando com tanta paixão, Kim Namjoon não parecia ser um devasso. Na verdade, Dominic achou até um pouco poético como ele acreditava na liberdade feminina por meio da nudez e de como ele não media esforços para ajudar essas mulheres a encontrarem sua força. Jimin, assim como Namjoon, acreditava que mulheres mereciam um tratamento melhor do que recebiam.

Mas  diferente de Dominic que só tentava mudar a vivência de sua esposa, Kim buscava ajudar muitas mulheres. Por um momento, ao longo de todas as cartas escritas, sentiu inveja do fotógrafo e da sua ausência de medo da liberdade.

Namjoon era livre de um modo que Dominic jamais se permitiria ser.

Naquela manhã usual de trabalho, Jimin lia furtivamente mais uma das cartas endereçadas a si. Aquela em específico tinha como assunto principal o desejo de Namjoon por viagens de navio.

Kim Namjoon era um amante de tudo que fosse perigoso, aventureiro e fantástico e viagens de navio aos olhos do fotógrafo, eram tudo isso. Dominic que tinha costume de viajar a negócios algumas vezes no ano, não enxergava com tal admiração aquelas viagens, mas entendia o motivo de tanto torpor por parte do escritor.

Havia poético sobre o mar e suas ondas, havia algo de surreal em estar em meio aquilo tudo.

Pescou uma caneta tinteiro em sua gaveta, pegando um papel sem seguida e rabiscando com sua letra floreada uma resposta para Namjoon. Contou como estava sendo sua semana, discorreu sobre os eventos nada empolgantes de sua vida e por último, ousou em dizer que estava precisando de algo para espairecer. Esperava que Namjoon entendesse a mensagem pelas entrelinhas.

Em seu íntimo, Jimin desejava que pudessem jantar mais  uma vez, algo mais informal e talvez discreto, afinal não queria que soubessem que fazia gosto da companhia do escritor devasso, até porque não era o caso. Namjoon era apenas um homem cativante cuja conversa parecia deveras interessante aos ouvidos de Dominic.

Nada mais.

Depois de escrever para Namjoon de maneira breve e sucinta, se pôs a voltar aos seus afazeres. Havia muito o que fazer na empresa aquele dia e não podia se dar ao luxo de perder tempo.

♣️

Florence acordara especialmente animada aquela manhã. Vestida com um vestido azul claro, os cachos dourados estavam pousados de maneira graciosa ao redor de seus ombros e luvas brancas cobriam suas delicadas mãos.

Ela olhou pela janela que havia no quarto, observando o jardim no qual sua filha e uma das funcionárias brincavam. Era um dia ensolarado e Florence queria aproveitar ao máximo, por isso saiu de seu quarto e desceu as escadas, se dirigindo com certa pressa ao jardim.

A pequena Rosa vestia um vestido lilás, o cabelo loiro como o dos pais estava arrumado de maneira infantil em uma trança que cobria toda a extensão da cabeça, em seus pés sapatos pretos como os de uma boneca. A atenção da menina estava toda voltada para a cestinha na mão da funcionária enquanto colhia flores e depositava na cesta. No meio do processo, Rosalina sorria animada, cheirando as flores e até mesmo colocando uma oui outra em seus fios.

A mãe se aproximou sorrateiramente, sorrindo com os olhos brilhando em direção a filha. O amor materno transbordava de seu coração, inundando seus poros e causando uma queimação em seu peito.

ㅡ Olha só quem já está acordada! O que está fazendo, minha princesinha? ㅡIndagou, beijando o topo da cabeça da filha, sorrindo para a mulher que a auxiliava.

Dispensou a funcionária com um aceno da cabeça, pegando a cesta que estava em suas mãos e agradecendo em seguida pela atenção dada a sua filha.

ㅡBom dia mamãe! Estou pegando florzinhas.ㅡ Respondeu, pondo mais um monte de flores na cesta.

A mãe sorriu.

ㅡ Oh, e para quem são as flores, minha rosinha? 

A pequena sorriu, erguendo uma flor em direção a mãe, que sorriu em resposta. Juntas, as duas mulheres Clifford continuaram a caminhada pelo jardim, colhendo flores e trocando gracejos.

Ao longe, Kim Seokjin observava as duas, sorrindo de canto e pensando se deveria se aproximar da casa da família Clifford. Ele sabia que as pessoas já começaram com os burburinhos a cerca das vistas constantes de Seokjin a casa da família, sobretudo na ausência de Dominic. Afinal, o que fazia um homem solteiro na casa e uma moça comprometida na ausência do marido dela?

Ele sabia que deveria se manter distante, pelo bem da honra de Florence. Afinal, seria ela quem seria prejudicada.

Suspirou fundo, afastando-se do lar dos Clifford. Era melhor assim, por hora.

Enquanto isso, Florence levou a filha para dentro da casa, sorrindo abobalhada para a cesta de flores e para o modo como Rosa estava radiante por tê-las colhido para si. Era uma garotinha adorável.

(...)

Havia algo sobre escrever que sempre tomava o coração de Namjoon. Ele escrevia arduamente, às vezes horas seguidas durante o dia, sem pausa ou descanso. Escrever era um grito de socorro para o escritor devasso, preso em uma sociedade que o via como uma aberração.

Dificilmente Kim Namjoon preocupava-se com seus atos e a imagem que tinha perante os outros, contudo existiam dias como aquele, em que a liberdade tinha um preço e ele era caro. Bebericava uma taça de vinho cujo líquido já estava quente devido ao tempo que estava ali, os olhos estavam marejados e o álcool das tantas outras taças ingeridas por ele já fazia efeito. Namjoon tinha tido uma semana deveras complicada e agora deixava que seus pensamentos controlassem suas emoções.

Pegou-se pensando em Jimin e na ausência de cartas vindas dele naquela semana. Será que Dominic finalmente estava cansado de conversar consigo?

Não havia motivo para aquela preocupação descabida com o magnata e duas cartas, afinal, Park quase nunca era sincero em suas palavras, sempre divagando sobre coisas supérfluas e quase nunca permitindo que Namjoon adentrasse muito em sua vida pessoal. Mas, de certo modo, Kim estava quebrando as amarras de Jimin e logo poderiam falar a mesma língua.

Namjoon desejava passar mais tempo com Park, nem que fosse para um jantar como dois bons amigos, nada demais.

Nada que manchasse a imagem de Dominic.

Namjoon não queria arrastar Park para a podridão que é sua vida devassa e sem escrúpulos. Contudo, o que o escritor não sabia era que, aquela altura, Jimin já não tem salvação alguma.

♣️

Capítulo curtinho porque tivemos atualização dupla!





Amour Interdit • minimoni •Onde histórias criam vida. Descubra agora