7.

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Pov Marília

- Muito obrigada - Falo entregando o dinheiro para o taxista.

Ele pega o dinheiro e me entrega o troco logo em seguida, sorrindo simpático na minha direção. Pego minhas compras do mês e mal consigo levar tudo, provavelmente vou ter que deixar algumas coisas na portaria e voltar logo em seguida.

- Boa tarde, Marília - O porteiro fala assim que me vê - Você quer ajuda?

- O senhor se importa?

- Claro que não...

Ele me ajuda com as sacolas e subimos para o meu andar, deixando na frente do meu apartamento. Apenas agradeço e coloco as sacolas para dentro.

A pior parte de morar sozinha é que não é como morar com seus pais, sua geladeira não vai aparecer magicamente cheia, sua comida não vai estar pronta se você não fizer e se você queimar alguma coisa, não vai ter que sua mãe dizendo que está tudo bem e que ela vai te ajudar a fazer outra coisa, se você queimou algo, vai ficar queimado e você não tem janta.

As vezes sinto falta do conforto da minha casa, dos braços da minha mãe, de sair do meu quarto apenas para irritar a minha irmã, mas depois que me tiraram do armário a força, grande parte da minha família passou a me olhar de forma indiferente e eu nunca mais consegui andar de cabeça erguida dentro da minha própria casa. Não é tão fácil celebrar com orgulho quem você é quando todos que você ama diz que é errado, talvez seja por isso que eu viajo tanto, porque assim eu não sinto a indiferença.

Guardo as minhas compras e pego as coisas para o almoço, olhando para o relógio, pensando que Maraisa já deve ter chegado da sua faculdade.

Fico olhando para os ingredientes e penso que pode ser divertido se eu chamar ela para ficar aqui comigo e não perco meu tempo. Saio do meu apartamento e bato na porta da morena, esperando ansiosamente ela me atender.

Mas meu mundo caí assim que um homem abre a porta e me olha confuso, sem entender o que eu estou fazendo.

- Oi, quem é você? - Ele pergunta confuso.

- Eu vim falar com a Maraisa - Ignoro a sua pergunta e aponto para dentro do apartamento.

- Mas qual o seu nome? - Ele fala fechando mais a porta - Não posso deixar qualquer um entrar.

- Eu nem sei quem é você - Me irrito e tento entrar - Elas me conhecem, fala que é a Marília.

- Eu sou o Gustavo, amigo das meninas - O homem dá de ombros - Marília... ah a amiga lésbica da Maraisa?

Fico sem reação alguma, principalmente porque eu nunca vi ele na minha vida, mas eu percebo tom pejorativo na sua voz, o que me irrita profundamente, trazendo as piores memórias do passado.

" - Lila, vamos logo - Murilo fala segurando a minha mão - Vai ser divertido, hoje é seu aniversário, vamos.

- Não acho que eu deveria ir - Falo receosa e puxo a minha mão - Eu quero ficar na sala, me deixa aqui, o professor já vai chegar.

Ele revira os olhos e me puxa para fora da sala de aula, mesmo contra a minha vontade. Assim que estamos no corredor, sinto alguns olhares sobre mim e eu não consigo entender, porque é a primeira vez que eu sinto alguém me olhando estranho.

- Por que estão me olhando assim? - Pergunto baixinho.

- Deve ser coisa da sua cabeça...

Dou de ombros e continuo andando, até chegar no refeitório do colégio, vendo uma legião de alunos me olhando, com fotos minhas nas mãos e coisas horríveis escritas no meu rosto. Fotos minhas espalhadas pelas mesas, fotos das garotas que eu beijei, fotos minhas chorando, bandeiras rabiscadas, enquanto todos começam a rir de mim, me expondo ao ridículo.

War of hearts (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora