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22 de janeiro de 2019

Pov Narrador

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...

- Precisamos ir para o enterro - Maiara fala chamando a sua irmã baixinho - Estamos atrasadas, Mara.

Maraisa tenta fechar o seu terno, mas as suas mãos não tem força nem para fechar os botões. Ela sente como se a sua alma fosse desligada do seu corpo, como se tudo perdesse a cor e o sentido, nada mais faz sentido.

- Deixa eu te ajudar... - Maiara se aproxima da sua irmã e fecha os botões do seu terno.

- Cadê o Léo? - Maraisa pergunta olhando para o nada, sem esperança no olhar.

- Está com a Lau...

A morena concorda com a cabeça e passa por Maiara, andando até a porta da sua casa. Ela mal tem forças para chorar, ela quer gritar, bater nas coisas, implorar por ajuda, mesmo sabendo que ninguém nunca vai poder ajudá-la.

Maraisa tenta abrir a porta, mas ela está tão fraca que mal consegue girar a chave e se irrita por isso, batendo na porta, deixando toda a tristeza e a raiva saírem nesse momento, junto com as lágrimas que descem dos seus olhos.

- Mara... eu abro para voc-

- Eu quero a minha esposa - Maraisa fala com a voz embargada - Eu só quero a minha esposa, eu preciso da minha esposa.

- Ela sempre vai estar com você...

- Não começa com essa merda, não começa com isso, ela não está aqui, eu quero ela aqui, comigo com o nosso filho, eu quero ela aqui.

- Eu sinto muito...

Maraisa nega com a cabeça apoiada na porta gelada de madeira, batendo com o resto de força que resta, pedindo para acordar, rezando para ser um pesadelo, mesmo sentindo a dor latejante no seu peito.

- Vai ficar tudo be-

- Vai se fuder, Maiara - Maraisa grita nervosa em meio ao choro - Sua vida vai continuar, não é? Sua noiva está te esperando, sua vida não vai parar,  isso não te afeta em nada.

Maiara engole a seco as palavras da sua irmã, mesmo Maraisa estando completamente errada, porque essa perda afeta a vida de absolutamente todos desse ciclo.

- Minha vida acabou - Maraisa sorri fraco e as lágrimas marcam a sua pele branca - Tudo acabou.

- Léo precisa de você - Maiara se aproxima dela devagar - O filho que você gerou precisa de você, não é o momento de desistir.

- Eu não consigo...

- Você precisa conseguir...

- Eu queria que fosse eu no lugar dela - Maraisa fala voltando a chorar, seu rosto vai ficando vermelho e Maiara abraça a sua irmã rapidamente - Me leva no lugar dela, deixa eu ir no lugar dela.

- Mara, seu almoço chegou - Alguém chama Maraisa - Vai esfriar.

- O quê? - Maraisa pergunta confusa e saí dos braços de Maiara.

De repente ela sente alguém balançado ela devagar e em questões de segundos, Maraisa volta para a realidade, acordando de mais um pesadelo. Olha senta no sofá assustada, seu peito desce e sobe, seu coração está disparado, ela consegue sentir ele batendo no seu peito, seu corpo está todo suado e totalmente gelado.

Maraisa olha ao redor e percebe que está no hospital, especificamente no quarto da sua esposa, que ainda continua em coma.

- Você está bem? - Lauana pergunta olhando preocupada para a amiga - Estava falando sozinha...

Maraisa levanta do sofá e vai até a sua esposa, segurando a sua mão, sentindo que Marília ainda está quente, mostrando que ela ainda está aqui. A morena deixa um beijo na sua mão e coloca no seu peito, acalmando seu coração aos poucos.

- Eu estou aqui, Lila... - Ela fala com a voz embargada - Eu continuo aqui.

Marília parece tão plena, como se estivesse apenas dormindo. Maraisa lembra de todas as vezes que elas dormiram juntas, da primeira vez até a última vez, dias antes dela ir viajar a negócios.

- Lembra de quando eu te pedi em casamento? - Maraisa pergunta baixinho, olhando para Marília - Que você vestiu aquele vestido vermelho? Naquele dia eu tive a certeza que você é a mulher mais linda do mundo.

Lauana olha de longe as duas, para ela Maraisa está falando sozinha, mas para a morena sua esposa está ouvindo absolutamente tudo e sorrindo da mesma maneira que ela sempre fez.

Maiara entra na sala e vê Maraisa sentada na frente da sua cunhada e de certa forma isso alivia o seu coração, porque ela quase perdeu Marília e por uma carga de energia no seu peito, Marília voltou a respirar, ela salvou o amor da vida da sua irmã e estuda todas as formas de trazer Marília de volta.

- Deixa elas duas - Maiara fala baixinho para Lauana - Não vamos ficar no meio da conversa do casal.

Lauana olha para Maiara e concorda, saindo da sala do hospital. Mas ela precisa falar com Maraísa, principalmente porque como uma das advogadas de Marília, Lauana desconfia sobre a real causa do "acidente" da loira.

- A batida do carro foi muito forte na cabeça - Maiara fala olhando para dentro do quarto - Acertaram o carro na direção dela.

- Ela vai melhorar...não vai?

Maiara olha para a sua melhor amiga e sorri fraco, ela não pode mentir, todos os exames de Marília dizem uma só coisa: ela não vai acordar.

- A gente precisa continuar tendo fé - Maiara fala com a voz embargada - A gente precisa ter fé.

Lauana respira fundo e tenta ligar os pontos, entender o que aconteceu, quem causou, como causou, até que ela lembra de uma fala de Maraisa:

"  Sou eu... - Lauana fala baixinho.

- Quatro anos... a pena por agressão geralmente é de quatro anos.

- O quê?

- Ele vai voltar daqui a quatro anos..."

De repente tudo começa a fazer sentido e ela entende o que realmente aconteceu, ela só precisa entender como.

- Meu Deus...

- O que foi, Lau...

- Não foi um acidente - Lauana fala baixinho - Foi planejado.

War of hearts (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora