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21 de janeiro de 2019

Pov Narrador

Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. Dizem que o tempo ameniza, mas isto é faltar com a verdade, é uma grande mentira. Dor real se fortalece, como os músculos, com a idade, é um teste no sofrimento, mas se o tempo fosse remédio, nenhum mal existiria.

Mesmo dormindo, Maraisa tem pesadelos, seus medos não deixam ela descansar completamente, seu corpo fica rígido o tempo inteiro, sua cabeça dói cada vez que a sua consciência trás ela para a realidade, é como um ciclo vicioso de culpa e de dor, para ela não há maior dor do que a de se recordar dos dias felizes, dos momentos únicos, porque agora isso se transformou em apenas memórias.

Seu coração é divido em dois, no seu filho Léo e na sua esposa Marília e na ausência da sua esposa, ela sente como se estivesse sangrando até a morte, como se fosse um tiro no peito, ou melhor, talvez um tiro no peito não doeria tanto igual agora.

" - Marília precisa de você - Maiara fala rapidamente - Precisamos de você agora no hospital."

Maraisa acorda assustada e olha ao seu redor, já está a noite, o cochilo de minutos se tornou em horas, ela ainda está com Léo nós braços, Maiara não está aqui, foi apenas um sonho.

Ela olha ao redor e vê que está na sua cama, Lauana levou ela para o andar de cima, na esperança da amiga dormir por algumas horas que seja, Léo está dormindo tão profundamente no seu peito e isso acalma o coração de Maraisa, que implora a dias por calmaria.

- Você é meu ponto de paz - Maraisa sussura beijando a cabeça do seu pequeno - Você e a sua mãe são a minha vida.

Maraisa pega Léo nos seus braços e leva seu pequeno para o seu quarto, deitando ele no berço, cobrindo seu corpinho e entregando a sua naninha de leão. Ela não consegue deixar de sorrir ao lembrar que quando Léo ainda era recém-nascido, ela tinha que passar o perfume da sua esposa na naninha do pequeno para ele conseguir dormir e até então ela não entendia, só sabia que Léo precisava do cheiro da sua mãe para se sentir protegido, mas agora ela entende, já que ela precisa cheirar as roupas da sua esposa para tentar se sentir menos ansiosa.

- A mamãe já vai voltar - Ela fala passando a mão na cabeça do seu pequeno - Ela vai trazer a mamãe Lila de volta, eu prometo.

A morena saí do quarto devagar e desce as escadas, encontrando Lauana na sua sala, segurando a cabeça com as mãos, balançando a perna ansiosa, outra que está a noites sem dormir.

- Eu já estou indo para o hospital - Maraisa avisa pegando a sua blusa de frio - Eu disse para a Lila que iria passar a noite com ela.

- Eu vou com você - Lauana fala se levantando - Dona Ruth dormiu um pouco agora, eu te levo, mas você deveria comer alg-

- Eu disse que voltaria mais cedo - Ela resmunga procurando a sua carteira - Eu preciso voltar, depois eu como algo, Marília odeia ficar sozinh-

- Mara...

- Minha esposa não gosta de ficar sozinha - Maraisa continua em negação - Vai ficar triste, ela pode ficar assustada, ou com medo, eu preciso ficar com el-

- Mara... Marília não está...não está acordada - Lauana fala com a voz embargada - Ela não vai ficar triste se você demorar um pouco.

- Você não conhece ela.

- Mara... - Lauana tenta encostar no ombro da morena.

- Ela não gosta de ficar sozinha - Maraisa fala irritada e empurra Lauana.

A mente humana tem um mecanismo primitivo de autodefesa que nega qualquer realidade estressante demais para o cérebro. É o que chamamos de negação. Lauana olha para a sua melhor amiga e não reconhece a mulher que ela dividiu grande parte da sua vida, não é a mesma Maraisa que ela morou junto, que fez a mesma faculdade que ela, que se formaram juntas, que foi a madrinha do seu casamento e do seu filho, não é a mesma pessoa. Maraisa sempre foi uma pessoa cheia de vida, amiga, corajosa, seu brilho natural era evidente, mas retirar a sua esposa, ela perdeu a sua vida.

Lauana olha para Maraisa e ela parece um zumbi, está anestesiada demais, sua pele está branca, seus lábios sem cor, seu corpo está gelado e as suas olheiras estão fundas e ela sente cansada, mesmo que acabou de acordar.

- Você pode ir para o apartamento - Maraisa fala ignorando esse momento - Descansar um pouco, trocar de roupa.

- Eu vou com você, eu te levo de carro, está tarde para você pagar taxi.

Maraisa não tem forças para insistir, ela apenas concorda com a cabeça e as duas vão para o carro de Lauana. No caminho as lágrimas descem pelos rosto da morena, ela só quer que esse pesadelo acabe, ela só quer abraçar e beijar a sua esposa, ela só quer voltar a ser feliz, ela só quer a vida dela de volta, apenas isso, isso não deveria ser muito a se pedir.

No momento que as duas chegam, Maraisa não perde seu tempo e desce do carro, indo rapidamente para o quarto da sua esposa, não se importando com protocolos do hospital e nem nada, ela só quer segurar na mão de Marília e mostrar que ela está ali para ela, porque foi uma promessa no namoro delas, que sempre que Marília estivesse com medo e assustada, Maraisa estaria ali para segurar a sua mão.

- Oi, meu amor - Maraisa sussura sentando na cama da sua esposa - Eu voltei, desculpa pela demora.

Maraisa beija a mão da sua esposa e se sente aliviada ao sentir o corpo de Marília quente, ao sentir que ela está ali, que está está respirando, mesmo que não responda. Ela deixa um beijo na aliança de casamento das duas e as lágrimas dos seus olhos lavam o seu rosto, caindo sobre as mãos de Marília.

- O Léo estava dormindo igual a você quando eu saí - Maraisa sussura passando a mão no rosto da sua esposa - Ele é igual a você em absolutamente tudo, até no jeito de dormir, nem parece que saiu de mim.

Está tudo muito calmo, até que os batimentos cardíacos de Marília começa a parar e Maraisa não entende, mas ela sente o presságio de despedida chegando.

- Lila... - Maraisa fala quase sem voz - Não, não, não, não.

Maiara aparece no quarto em questões de segundos e chama a sua equipe médica, para de todas as formas tentarem salvarem Marília.

- Tirem ela daqui - Maiara manda se referindo a maraisa, enquanto preparam o desfibrilador cardíaco.

- Eu tenho que ficar com ela - Maraisa luta contra os braços dos médicos - Eu preciso ficar aqui com ela.

- Eu estou mandando vocês tirarem ela daqui - Maiara grita nervosa - Agora.

Os médicos tiram Maraisa a força da sala e fecham a porta do quarto de Marília, deixando a morena do lado de fora, que rapidamente é socorrida pela sua melhor amiga.

- Me solta agora, Lauana - Maraisa grita tentando tirar os braços da sua amiga ao redor da sua cintura - Ela precisa ficar comigo, Marília não...me solta, deixa eu ficar com ela.

Lauana puxa Maraisa com força, mas quando vai levar ela para o outro lado do hospital, o barulho da máquina de batimentos cardíacos mostrando que não existe mais batimentos ecoam pelos corredores do hospital, fazendo as duas pararem e Maraisa perde a força das suas pernas, caindo no chão.

- Não, Lila... - Maraisa começa a negar em meio aos soluços - Não, por mim, pelo Léo, por nós duas, por favor não.

Ela abaixa a cabeça e as lágrimas começam a sair, seu peito dói do quão doloroso está sendo tudo isso. Arrancaram a sangue frio o coração do seu peito.

- Por favor, Lila... por favor.

War of hearts (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora