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Pov Marília

Existem coisas, que não tem explicação, elas apenas acontecem e por mais que tentemos expressar, escrever ou rabiscar, não adianta, elas continuam permanecendo dentro de nós. O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Você não pode controlar as coisas que acontecem com você, mas pode controlar a forma que reage a elas, mas infelizmente existem coisas que acontecem que deixam um buraco enorme no seu peito e você sente que nunca vai cicatrizar.

E é assim que eu me sinto após perder meu filho.

Respiro fundo e sinto as lágrimas caindo continuamente dos meus olhos, enquanto Luísa segura a minha mão, falando palavras de suporte, tentando me reanimar mas para mim, nesse momento, é a mesma coisa que falar nada.

- Vocês podem tentar novamente - Luísa fala baixinho passando a sua mão livre no meu rosto.

- "Vocês"? - Pergunto irônica - Estou mais sozinha do que quando cheguei na cidade.

- Lila...

- Eu estava no hospital e os dois estavam juntos no meu apartamento, Luísa - Dou de ombros e solto a sua mão, virando na cama e dando as costas para minha irmã.

- Lila... eu conheço a Mara, ela nunca te trairia ou algo do tipo, ela nunc-

- Eu estaria com meu filho se eu não tivesse encontrado os dois - Interrompo Luísa - Agora se você não se importa...eu quero ficar sozinha.

Minha irmã não fala nada, apenas respira fundo e saí do quarto, fechando a porta logo em seguida. No momento que eu fico sozinha, parece que destrava um choro, porque mesmo quando todos iam embora eu ainda tinha um pequeno fruto no meu ventre, mas agora eu realmente estou sozinha. Criei tantas expectativas, sonhos e por segundos eu realmente achei que eles iam se tornar realidade mas talvez a vida sempre vai ser assim comigo, me fazer voar alto para a queda ser maior e me machucar mais.

Maraisa jogou um balde de água fria em mim, mostrou que nem nela eu posso confiar, mostrou que todas as pessoas são as mesmas e que ninguém nunca vai ser totalmente fiel a qualquer relacionamento que seja.

Abraço meu travesseiro com força e continuo chorando, a dor no peito é insuportável, sinto todos meus músculos tensos, sinto que tudo está doendo, não consigo olhar ao redor do quarto porque absolutamente tudo que eu olho me faz lembrar da minha até então noiva.

- Eu sei que você não quer me ver - Maraisa fala abrindo a porta - Mas você tem uma lista de remédios para tom-

- Pede para Luísa trazer para mim.

- Eu... eu fiz a sua janta e trouxe os remédios, Lila, eu queria...eu quero...conversar com você.

- Não estou com fome.

- Lila...vamos conversar, por favor.

Não tenho cabeça para conversar ou ficar nesse apartamento que era só memórias boas, sinto como se tudo tivesse mudado mas de fato mudou, tudo mudou, perder meu filho até sendo uma dor mais latejante do que quando fui negada pelo meu próprio pai.

- Lila...

- Eu não consigo ficar aqui - Falo me levantando da cama - Não consigo ficar e ouvir sua voz, sentir seu cheiro, não dá.

Procuro qualquer roupa para vestir, mesmo sentindo todos os músculos do meu corpo doendo, está tudo doendo, minha cabeça está pesada e latejando, tudo está ruim. Maraisa fica parada do meu lado, enquanto eu coloco uma calça preta e uma jaqueta por cima, ignorando a sua presença.

War of hearts (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora