13_ Acampamento.

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Heaven Quinn

... que ele iria me acertar e seria feio.

Uma mão forte me puxou pra trás, contra o seu corpo.

Eu senti a minha bunda bater contra as suas coxas e as minhas costas contra o seu peito firme.

A mão segurou o meu pulso sem soltar, nem mesmo quando o Nolan entrou na minha frente, impedindo o Ken de se aproximar de mim.

- Sai da frente, Nolan. - O Ken mandou, puro ódio na sua voz.

- Você vai ter que me derrubar. - O Nolan soltou com a voz sarcástica, apesar da situação.

- O que está acontecendo aqui? - A voz do diretor soou atrás de mim e o meu corpo congelou.

[...]

- Você socou ele? - Confirmou me encarando com os olhos apertados.

- Ele me assediou. - Respondi como se fosse óbvio olhando para o diretor, ainda encarando a minha mão vermelha pelo sangue.

- E então você socou ele? - Voltou a repetir e eu revirei os olhos.

- Deus te abençoou com ouvidos, use eles. - Soltei, semicerrando os olhos e franzindo a testa.

O diretor passou longos segundos me encarando com cara de bunda, antes de se recostar na sua cadeira de couro alta e abrir uma gaveta. Ele puxou algo do lugar e jogou na minha frente.

Comprimidos.

- O que são eles? - Perguntei, o meu coração parando por um segundo.

- Você vai começar a tomar esses comprimidos todos os dias. - Ignorou a minha pergunta.

- O que esses comprimidos são? - Voltei a repetir a pergunta, o pânico começando a me preencher.

Ele quer me drogar.

Como maconheira, eu nunca pensei que ficaria brava com alguém me dando drogas, até ser o meu tio a me entregar elas.

- Tudo que você precisa saber é que eles vão te ajudar. - Ele sumarizou, não conseguindo nem me encarar.

- Eu não vou tomar eles. - Avisei, colocando a minha mão sobre a mesa.

- Você vai, Heaven. - Ele me encarou finalmente, os seus olhos firmes.

- Não, eu não vou. Seja lá o que eles façam, eles não vão me ajudar, porque eu estou bem. Eu não tenho problema nenhum. - Falei, a minha voz e olhar também firmes.

- Você precisa tomar eles.

- Eu estou bem. - Soltei, a minha voz começando a falhar.

- Eles vão ajudar, Heaven! - Elevou a voz.

Eu permaneci em silêncio, sabendo que não valia a pena falar nada.

- Eles ajudaram a sua mãe. - Revelou, me fazendo travar contra a cadeira de couro. - E eles já te ajudaram.

- Me ajudaram? - Franzi as sobrancelhas.

- Sim. - Suspirou. - Por um tempo, antes de te mandarem para o acampamento.

Ah, o acampamento.

Depois que a minha mãe viu os meus cortes naquela noite, ela me mandou para a reabilitação. Eles chamam de acampamento, porque é isso que falaram para eles. Mas eu estive lá dentro. Eu sei que aquilo não era um acampamento, muito menos uma reabilitação.

Ser forçada a dormir no mato por meses, com bichos que podiam nos morder a qualquer hora, vivendo em roupas sujas porque eles apenas se preocupavam com a nossa higiene uma vez por semana, comendo tão pouco, bebendo água suja e não ter outra escolha porque era aquilo, ou passar sede.

Ele chamam de reabilitação, eu chamo de desumanidade.

Os comprimidos que ele clama terem me ajudado, eu nunca ouvi falar deles.

A minha mãe me drogou.

E talvez é por isso que, depois do acampamento, eu passei a usar cada vez mais essas substâncias.

Mas sabendo que os meses antes de eu ir para o acampamento, foram os piores meses da minha vida, eu sei perfeitamente que esses comprimidos não vão me ajudar.

Eu peguei os comprimidos da mesa, apertando eles na minha mão enquanto eu levantava.

O olhar do diretor me seguiu e ele se levantou também. Ele abriu a porta pra mim, e fora daquela sala, no corredor, estava o Ken, com um papel ensanguentado no nariz.

Eu quero socar ele de novo.

continua...

O Inocente Aluno NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora