45_ Você deveria ter morrido com eles.

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Heaven Quinn

- Sente-se.

Me sentei na minha cadeira favorita, colocando uma expressão angelical no meu rosto.

É o que eles dizem, né? Carinha de anjo pra esconder que é o próprio demônio.

- Eu tive um sonho revelador hoje. - Menti.

- E o que você sonhou? - O meu tio questionou, juntando as suas mãos e colocando as mesmas embaixo do queixo enquanto me encarava com atenção. O anel de família no seu mindinho brilhou, atraindo o meu olhar até ele.

- Que eu deveria começar o meu negócio. - Sorri angelicalmente.

- Isso seria ótimo. Manteria a sua mente diabólica ocupada. - Fez gracinha e o meu sorriso caiu. - O que você venderia? - A pergunta fez uma expressão divertida aparecer no meu rosto.

- Drogas. - Falei e os olhos do meu tio se arregalaram.

Eu soltei uma risada, me aconchegando na cadeira, as minhas costas contra o apoio para braços e as minhas pernas em cima do outro apoio.

O meu tio me encarou por longos segundos enquanto eu ria, um sorriso suave sem dentes se formando nos seus lábios.

- Sabe... - Ele parou de falar, desviando o olhar para a sua mesa e piscando algumas vezes antes de negar com a cabeça.

- O quê? - Perguntei, brincando com a correntinha do James.

- Você ainda tem o mesmo sorriso que você tinha quando era uma criança. - Ele contou, sorrindo levemente.

- O meu pai costumava dizer isso. - Falei quase sem pensar.

Eu pisquei, tentando ignorar a dor que parecia cortar o meu coração em pequenos pedaços.

- Você é tão parecida com a sua mãe. - Ele soltou, o seu olhar carinhoso e melancólico fixo no meu rosto. - Em tudo...

- Não fala isso... - Pedi, me forçando a manter o contato visual. - Eu não sou a minha mãe. Eu sou eu.

O meu tio franziu as sobrancelhas, tentando processar o que eu tinha acabado de dizer.

Eu levei a cruz da correntinha do James até os meus lábios, passando ela de um canto da boca para o outro lentamente, tentando me confortar com esse pequeno movimento.

Se o James estivesse aqui ele saberia como me confortar. Ele saberia o que dizer.

- Eu lembro que ela uma vez me disse que ela nunca achou que fosse realmente bonita até que viu os traços dela em você. - Ele soltou com a voz fraca e o olhar baixo, me fazendo cerrar a mandíbula enquanto ele girava o anel de família no dedo.

Quem diria que palavras tão suaves poderiam cortar tão profundamente.

- Para. - Falei entredentes. - Por favor. Não tente me convencer que eu estou errada. Que ela não foi o monstro que me criou.

- Ela não era um monstro-

- Ela pode não ter sido um monstro pra você, mas ela com certeza foi pra mim! - Cortei o meu tio, o seu olhar desamparado me observando atentamente. - Ela me destruiu. Ela me transformou nesse ser humano deformado e impossível de consertar.

O Inocente Aluno NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora