64_ Encarnação do céu na terra.

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Heaven Quinn

- Eu te amo.

Eu franzi as sobrancelhas confusa, a minha mandíbula se cerrando um segundo depois quando eu percebi.

- Não fode comigo. - Empurrei o James da minha frente, descendo da mesa e andando até o quadro que eu estava pintando antes.

- Eu não estou. - Ele respondeu, o tom confuso na sua voz me fazendo virar pra encarar ele. - Eu te amo.

- Por quê? - A pergunta saiu antes que eu conseguisse evitar.

O James me encarou como se não conseguisse acreditar no que eu tinha acabado de falar, as suas sobrancelhas se franzindo ainda mais e os seus lábios se separando levemente em choque.

- Como eu posso não te amar? - Ele respondeu indignado, como se realmente, puramente, fosse impossível não me amar.

- Você não pode me amar. - Argumentei quase em desespero. - Eu não sou uma boa pessoa. Você não vê o jeito que eu trato as pessoas? Como eu falo com elas? O jeito que eu simplesmente uso elas? Eu usei você! Isso não é legal! Quem faz isso?!

O James cortou toda distância entre nós, as suas mãos segurando o meu rosto com um certo desespero. Eu segui o olhar dele, incapaz de desviar. O seu olhar parecia derrotado, como se ele não esperasse que isso acontecesse assim, as sobrancelhas franzidas enquanto ele negava com a cabeça quase subconscientemente.

- Porra, você é tão boa. - Conseguiu soltar, o seu olhar não deixando o meu. - Você é tão boa pra mim.

Eu neguei com a cabeça, tentando convencer o James, os meus lábios se separaram, mas nada saia deles.

- Você nem me conhece. - Sussurrei.

O James me encarou desacreditado. As suas mãos caíram do meu rosto e ele negou com a cabeça, uma risada irónica escapando dos seus lábios avermelhados.

- Eu não te conheço? - Soltou, antes de cerrar a mandíbula. - Você é tudo que eu conheço. Você me consumiu por inteiro desde o momento que eu cheguei aqui. Você me fez adorar o chão que você pisa igual um homem desesperado por salvação.

Eu fiquei paralisada, a minha garganta fechando e a minha mandíbula trincando. Eu não te mereço. O James negou com a cabeça vendo o meu silêncio, o seu olhar desesperado sobre mim.

- Você acha que eu não te conheço? - Perguntou mais uma vez. - Você tem tanta raiva. Mas você não herdou isso da sua mãe, nem do seu pai. É o tipo de raiva que vem da alma. Você prefere ficar com a raiva do que com a tristeza. Mas você passou tanto tempo com essa raiva que você cansou dela, e agora você não sabe o que fazer com ela. E você é tão quieta. Você é tão quieta quando não tem gente por perto. É como se os seus pensamentos fossem tão altos, que eles completamente te calassem.

O James não me deixou responder.

- Uma vez te perguntei por que você gostava tanto dessa sala, por que você sempre ficava aqui. - Lembrou. - É porque os seus pensamentos ficam em silêncio aqui. É quieto. E você gosta de ficar quieta, apesar de tudo. Você é tão diferente quando não tem mais ninguém. A primeira vez que eu percebi isso foi quando cozinhei pra você. Você parecia uma pessoa completamente diferente.

Ele cerrou a mandíbula, desviando o olhar por um segundo, antes de voltar a me encarar, o seu olhar agora completamente desamparado, como se ele estivesse perdido.

- A sua mãe encheu a sua cabeça de coisa e agora você assume que ninguém nunca conseguiria te amar. - Ele mordeu o lábio inferior com força, antes de abrir um sorriso suave pra mim. - Mas, Heaven, mesmo em uma sala cheia de arte, você ainda é a única coisa que eu consigo olhar. É tão fácil ficar apaixonado por você. Tão fácil te amar. Você é mais que oxigênio pra alguém que está no chão, implorando pra ser salvo, e ainda vem com uma risada fácil de brinde. - Sorriu, as suas mãos indo pro meu rosto mais uma vez, fazendo carinho. - Você é a encarnação do céu na terra. O coração de um anjo, com a mente do diabo. Qualquer coisa que a sua mãe te falou, não importa por quanto tempo, é o mais longe da verdade, ok?

O meu pai me chamava de "encarnação do céu na terra". Eu fechei os olhos.

Eu sabia exatamente como tudo terminaria, mas mesmo assim, eu tentei. Pessoas como eu não recebem finais felizes. Talvez, apenas dessa vez, eu consiga ser feliz.

- Ok. - Consegui falar, assentindo. - E agora?

- Como assim "e agora"? - Ele soltou uma risada genuína, o seu dedão subindo pra limpar uma lágrima que eu não percebi que caiu. O seu toque tão suave quanto a sua voz.

Eu vou amar ele em segredo porque acho muito humilhante amar homem.

- Eu te amo, Tomatinho. E agora? - Repeti, o meu lábio inferior preso entre os meus dentes.

O James apenas sorriu.

continua...

- - -

daqui pra frente é só caos

O Inocente Aluno NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora