Naquela tarde, tão comum quanto as outras, o sol já dava seus indícios de que em breve iria dar lugar à uma linda e fresca noite para aquele pequeno vilarejo que, apesar de singelo e rudimentar, trazia a tranquilidade para a garota que se encontrava por entre as ruas daquele povoado caminhando em seu cavalo favorito. Se chamava Helena, que com apenas seus vinte e dois anos já mantinha o peso de toda uma cidade nas costas. Seus lindos olhos castanhos davam um contraste para sua pele extremamente clara e seus cabelos castanhos escuros.
O fim de tarde amarelado agradava a garota de um jeito enigmático, eram sentimentos bons demais para se conseguir traduzir em palavras. Ela gostava da paz que o lugar proporcionava; da calmaria, porque sempre que ela voltava à cidade era um inferno total, um completo caos.
A escassez da tranquilidade fazia qualquer momento pleno virar poesia.
Por ser a líder de Amster City e por viver em constantes guerras eram raros os momentos onde ela conseguia caminhar livremente sem ninguém aparecer de repente informando algum novo problema.
Se permitiu descansar sob a sombra da árvore que sempre costumava ficar. Seus olhos analisavam meticulosamente toda a extensão do lugar desde que chegou por aquelas terras, várias barracas se encontravam por ali, algumas vendiam frutas, outras verduras, também tinha aquelas que vendiam utensílios para casa; haviam algumas que faziam o serviço de ferreiro, sapateiro, entre outros. A simplicidade do lugar não tirava sua beleza, a grama bem aparada e com uma tonalidade de verde de se dar inveja, as ruas de terra, o barulho dos pássaros dando seus respectivos ‘boa noite’ uns aos outros... tudo ajudava a dar graça e a deixar a vista ainda mais agradável de se admirar aos olhos de Helena. Um sorriso tímido brotou em seus lábios quando encontrou quem procurava.
Uma moça simples, trajada com um vestido branco e longo, que dava poder à sua silhueta e avantajava seu belo traseiro, fazendo Helena suspirar bobamente. Tal vestimenta deixava seus braços expostos e destacava o leve ondulado de seus cabelos negros. Seu sorriso era o que mais chamava a atenção da moça sentada sobre o cavalo, porém seus olhos, com um verde diferenciado, não deixavam a desejar.
Helena ia àquele povoado todos os dias, durante os últimos seis meses, apenas por ela. Costumava associar a garota à paz que sentia ao estar ali. Sempre dizia para si mesma que, mesmo sem conhecê-la, ela era sua calmaria após uma forte ventania.
A alegria que irradiava em suas feições era inebriante para Helena. A mulher de olhos escuros não entendia como alguém podia sorrir tanto de uma forma tão natural e espontânea.
Naquele mesmo horário, todos os dias, a moça sempre passava por ali, ficava uns minutos conversando com uma mulher que trabalhava em uma das barracas onde era possível encontrar verduras – Que Helena julgava ser sua mãe devido à quantidade de sermões que já reparou ao longo de todos esses meses que a mulher já havia aplicado na garota. – e após algum tempo saía saltitante para algum lugar, cujo qual Helena desconhecia, pois não se atrevia a virar uma perseguidora da garota. O brilho nos olhos da simples moça fazia Helena supor que a garota ia para algum lugar que era de seu total agrado.
Jamais se atreveu a se apresentar, porque estava bem ciente de que a garota jamais lhe daria atenção; tinha total noção de que gostar de alguém do mesmo sexo não era algo considerado normal por aquelas redondezas, mas nem por isso abria a mão do privilégio de poder, ao menos, vê-la.
-- Sabia que te encontraria aqui. – A voz tão conhecida pela morena a fez dar um último suspiro de paz antes de se virar e encarar sua amiga.
-- O que houve? – Ela perguntou, se abaixando um pouco e alisando as costas de seu cavalo.
-- Temos uma festa para ir e você já sabia disso. – A outra garota informou em tom repreensivo e acusador. Também montava um cavalo, mas diferente do de Helena, seu cavalo não era branco. Logo deixou um suspiro sair. – Você já está bem grandinha para eu precisar ficar tendo que avisar de seus compromissos, Helena.
-- Não pedi para me avisar sobre nada, Dinah.
-- Mas, infelizmente, esse é o meu trabalho. Não pense que faço isso por ser uma amiga chata ou algo assim. – A mulher falou. Dinah, apesar de seus apenas vinte e um anos, era dona de belas curvas, cabelos cacheados em tonalidade loira e era o braço direito de Helena. Usava uma calça pescador branca, extremamente colada em seu corpo e um terninho azul, com abotoaduras douradas e um pequeno emblema vermelho no canto superior esquerdo, exatamente igual ao de Helena, com o único diferencial de que o da mais velha havia um emblema um pouco maior. Ambas usavam camisa branca por baixo do terno, deixando levemente o branco à mostra.
Helena deixou um último olhar para a garota, que agora desaparecia em meio ao povoado, antes de apenas assentir e puxar as rédeas do cavalo, fazendo o mesmo começar a correr. Dinah a seguiu sem dizer mais nada durante todo o trajeto.
Assim que se aproximavam da cidade elas já podiam notar os enormes Zepelim’s sobrevoando o lugar. Zepelim era como era chamado toda barca que mantinha diversos balões sobre si, ou seja, enormes tochas de fogo aqueciam o ar dos balões acima do zepelim, fazendo o mesmo flutuar. Com o passar do tempo foram incrementando uma forma de fazer tal meio de transporte ser mais rápido e conseguir manobrar, mudaram os balões por enormes câmaras de ar quente e, depois de muito trabalho, conseguiram. Os mesmos eram muito usados em guerras. Sabiam que por ser fácil de serem destruídos não durariam muito, então eles funcionavam mais como espiões. Quando qualquer tropa inimiga se aproximava, quem estava lá em cima já informava toda a cidade da aproximação do perigo. Também eram usados no ataque. Quando os inimigos estavam perto, os canhões – Que já ficam posicionados na proa dos veleiros voadores – lançavam tochas de fogo e bombas em direção aos inimigos.
Assim que chegaram em sua cidade cruzaram a ponte, que passava por cima de um rio com águas límpidas, antes de alcançarem os portões, que foram abertos rapidamente. Ao adentrar o lugar Helena assumiu a postura séria e carrancuda e assim que chegou em sua casa, o que demorou longos minutos já que ela vivia bem no centro da cidade, justamente com a intenção de não ser facilmente atingida, pois era o alvo principal de ataques por ser a comandante, autoridade de maior poder dali, desceu de seu cavalo sem nem sequer reparar em quem tratou de pegá-lo, indo em direção ao seu quarto sem dizer nada à ninguém.
-- Por que está tão irritada? – Dinah, quem ainda a seguia, se pronunciou finalmente assim que chegaram em sua suíte. Helena suspirou e passou a mão entre seus cabelos, tratando de ajeitá-los.
-- Odeio essa coisa de festas. – Foi a única coisa que disse.
Dinah entendeu que sua amiga preferia ficar sozinha, já a conhecia suficiente para saber que quando sua amiga lhe dava respostas curtas o tempo inteiro provavelmente não estava para conversa e, por entender a vontade da amiga, apenas assentiu e se retirou do lugar, deixando Helena a sós.
-- Só espero que esse evento seja menos chato do que geralmente é. – Disse para si mesma, antes de se despir e ir direto para sua banheira, que já havia sido preparada por suas criadas a pedido de Dinah.
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Clarena- Over The Rainbow
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Clara, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Théo Bastos, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Sinuhe, deseja que a filha conqu...