Clara acordou no dia seguinte com batidas estrondosas na porta. Abriu um de seus olhos só para constar que Helena se mexia inquieta na cama.
-- Já vai. -- Clara disse cobrindo sua esposa, quem tinha suas costas inteiramente livres, com um lençol. Aplicou um beijo no rosto dela antes de se enrolar em seu robe, porque vestia apenas uma camisola curta e se dirigiu até a porta.
-- Como ela está? -- Dinah perguntou apavorada.
-- Está bem. Eu passei pomada em seus hematomas ontem e, além do tiro, não tem nada fundo em seu corpo. Tudo superficial.
-- Como sabe? -- Dinah perguntou arqueando uma sobrancelha. -- Ela te disse? Não sabia que estavam se falando de novo.
-- Eu, hm, passei pomada no corpo dela ontem, por isso sei. -- Dinah ergueu o pescoço, olhando por cima do ombro de Clara, vendo sua amiga dormindo como um bebê e coberta por um lençol.
-- Eu tentei impedir, mas falhei. -- Dinah disse decepcionada consigo mesma.
-- Hey, ela vai ficar bem. -- Clara disse.
-- O tiro foi superficial ou fundo? Ela já passou em um médico? -- Clara suspirou antes de responder.
-- Eu, hm, não sei. -- Confessou.
-- O tiro foi superficial, passou de raspão e sim, ela já passou no médico da família antes de vir para cá para ele checar a ferida e se não tinha nada mais grave em seu corpo. -- Paula apareceu ali se intrometendo. -- Ela já acordou?
-- Ainda não. -- Clara disse ríspida.
-- Deixe-me vê-la. -- Paula ordenou em tom arrogante e Clara se segurou para não baixar de nível.
-- Mais tarde. Agora minha esposa se encontra descansando.
-- Vaza daqui que não quero gastar meu pingo de bom humor matinal com você, Satanás. -- Dinah falou e Paula revirou os olhos.
-- Pois fique sabendo que depois eu volto. -- Falou, saindo a passos pesados dali.
-- Dinah? -- A voz rouca de Helena vinda do dentro do cômodo fez ambas se viraram para ver Helena acordada. Clara correu para pegar sua camisa no mesmo lugar que havia deixado na noite passada e ajudá-la a vestir com cuidado. Os olhos de Dinah acompanhavam cada movimento. Helena não havia contado o porquê de estar magoada com Clara, mas Dinah esperava que voltassem a se falar logo.
-- Bom dia, branquela. Como se sente?
-- Parece que mil tratores passaram por cima de mim. -- Respondeu rindo, deixando Clara terminar de abotoar os botões de sua camisa.
-- Eu não sabia como você estava, entrei em desespero. Desculpe vir atormentar tão cedo, eu só... precisava saber como você estava. -- Falou e Helena assentiu.
-- Vou ficar bem, não se preocupe, mas obrigada por vir. -- Falou calma.
-- Imagina, vou poder comer as gostosuras da Rosália, então valeu a pena. -- Brincou, logo reparando a tensão entre o olhar de Helena com Clara. -- Eu... vou deixar vocês se trocarem. Lhes espero lá embaixo.
Clara e Helena acompanharam o corpo de Dinah se locomover e sumir do campo de vista quando encostou a porta. O silêncio que se instalou ali foi incômodo para ambas.
-- Será que poderíamos conversar depois de comermos? -- Clara perguntou sem jeito.
-- Não temos nada para conversar.
-- Temos sim. -- Clara disse. -- Preciso me desculpar. -- Os olhos de Helena, que antes fitavam a janela, foram de encontro com os de Clara.
-- Não precisa fazer isso. A gente pode se separar, se quiser. Ou continuar mantendo as aparências, o que para mim seria vantajoso, assim não teria que ficar explicando o porquê de ainda ser solteira aos vinte e dois anos. Enfim, mas não precisa pedir desculpas por dizer o que todos pensam.
-- Eu não penso assim. -- Se retratou rapidamente, segurando a mão de Helena. Helena encarou os dedos de sua esposa sobre os dela e se viu confusa. Clara realmente não parecia ter nojo dela na noite passada, mas preferiu não pensar nisso. -- Eu só estava chateada, Lena. Eu tentei te atingir de alguma forma, tentei fazer você se sentir como eu para experimentar a sensação, mas me perdoa. -- Pediu com sinceridade. -- Eu não tenho nojo de você e você é fantástica, qualquer uma se apaixonaria por você em um piscar de olhos. -- Helena fitou por longos segundos os olhos de sua esposa, travando uma batalha interna consigo mesma.
-- Posso ao menos saber quem é Théo? -- Perguntou o que rondava sua mente havia dias. Clara abriu e fechou a boca várias vezes, mas não encontrou como explicar quem era ele. Como assim Helena não sabia quem era Théo?
-- O homem que você e mamãe me fizeram crer ser casado com outra. -- Helena bufou.
-- Lá vem você com suas acusações. -- Disse revirando os olhos. -- Seja lá quem for ele, é um cara de sorte. -- Disse se levantando e indo até suas roupas, pegar algo para vestir na parte de baixo, o short da noite passada era curto demais para andar pela casa e já nem o usava mesmo. Colocou com cuidado a peça enquanto Clara procurava um jeito de pôr em palavras o que se passava em sua mente.
-- Você... -- Começou, mordendo seu lábio inferior. -- Você não ajudou minha mãe a tramar um plano me fazendo acreditar que o cara que eu namorava era casado só para que eu me casasse com você? -- Perguntou ao ver que Helena não pareceu entender do que ela estava falando.
-- O único plano que fiz com sua mãe foi o de lhe prometer que te faria feliz. -- Falou frustrada. -- E de proibir a entrada de um cara que te perseguia... -- Falando arregalando os olhos ao perceber que Sinu lhe havia enganado também.
-- Por acaso esse homem que me perseguia se chamava Théo?
-- Eu não sei. Pedi para sua mãe não me contar, porque eu não sei o que faria com ele. Ela quem passou o nome para os guardas, mas provavelmente deve ser ele mesmo então. -- Falou olhando para o chão por um longo tempo. -- Desculpe arruinar seu namoro. -- Finalmente disse em um murmúrio.
-- Desculpe te acusar. -- Clara disse se levantando. -- Oh meu Deus, me desculpe. Eu falei coisas...
-- Deixa. -- Helena disse mordendo o interior da bochecha para não demonstrar que queria chorar.
-- Não. Você sempre me tratou do melhor jeito possível, com gentileza e respeito e na primeira oportunidade eu te acuso de algo que não fez.
-- Deixa, Clara. -- Helena disse, sentindo Clara entrelaçar os dedos nos seus. -- Eu vou cancelar o bloqueio da entrada desse homem na cidade e quando quiser te concedo o divórcio. Posso comprar uma casa para vocês e...
-- Helena! -- Clara chamou, tocando seu polegar e indicador no rosto de sua esposa, fazendo Helena lhe fitar. -- Eu não quero ficar com ele.
-- Mas...
-- Mas nada! Só... Me deixe cuidar de você e tudo voltar a ser como antes entre nós. -- Sussurrou. -- Por favor...
-- Por quê?
-- Eu sinto sua falta. -- Confessou com a voz falhada e mordeu seu lábio inferior. Seu olhar alternava entre os lábios de Helena e os olhos. -- Eu sinto muito a sua falta e eu sei que eu fui uma idiota, mas por favor...
-- Vocês vão descer logo? Dinah está devorando o café da manhã. -- A voz de Rosália, seguida de batidas na porta, fez ambas suspirarem.
-- Continuamos mais tarde? -- Helena perguntou e Clara assentiu, indo seguir Rosália escada abaixo com a expressão branda, porém, em seu mais profundo interior pedia para que Helena a perdoasse por ter sido tão imbecil.
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Galerinha tá chegando uma parte que irei recomendar vocês lerem com tal músicaObs:irei tentar postar o máximo hj😙
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Clarena- Over The Rainbow
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Clara, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Théo Bastos, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Sinuhe, deseja que a filha conqu...